José Manuel Constantino não acredita que existam “alterações substantivas na política desportiva” do próximo Governo, defendendo que para António Costa “o olimpismo não interessa para nada” e questionando o critério do Presidente da República para receber e condecorar desportistas.
“Não tenho grandes expectativas de que haja grandes mudanças. Aquilo que me preocupa é muito centrado na preparação olímpica e no desejo que tenho de que haja uma política sequencial relativamente à preparação para os Jogos de Paris e não haja qualquer alteração àquilo que tem sido o relacionamento com o Governo nesta matéria, que tem sido bom, e que, portanto, se deve manter nos termos e nas condições em que tem existido até à presente data”, começou por dizer.
“Quanto a alterações substantivas na política desportiva, infelizmente, a minha idade já me dá pouca confiança relativamente a essa possibilidade, mas oxalá eu esteja enganado e nós sejamos surpreendidos com um Governo que tem uma atitude inovadora relativamente às políticas desportivas e que, a partir de agora, apresenta ao país um conjunto de orientações significativas e importantes para que Portugal possa desenvolver-se do ponto de vista desportivo”, respondeu, quando interrogado sobre as próximas legislativas.
Após ter denunciado, numa entrevista à Lusa, em maio, o desinteresse do primeiro-ministro relativamente ao olimpismo nacional, revelando que durante nove anos nunca reuniu com António Costa e estendendo as críticas à ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, assim como ao presidente da Câmara de Lisboa, Constantino avançou agora que “o assunto está encerrado” relativamente a Ana Catarina Mendes e a Carlos Moedas, com quem teve conversas francas.
Presidente do Comité Olímpico de Portugal denuncia desinteresse do Governo de Costa pelo olimpismo
Já em relação ao primeiro-ministro demissionário, o presidente do Comité Olímpico de Portugal confirmou que Costa nunca o contactou.
“Nunca tivemos qualquer reunião, qualquer relação. Acho que o doutor António Costa, que é um homem muito inteligente, um político muito capaz, acha que isto do olimpismo não interessa para nada. O que interessa é o futebol. Esse é que tem poder, esse é que influencia o povo, esse é que influencia as massas e, portanto, o interlocutor dele foi sempre o futebol e as pessoas que trabalham no futebol”, notou.
José Manuel Constantino acredita que, para o chefe do Governo demissionário, o olimpismo é “um devaneio de uns tipos meio loucos que, de quatro em quatro anos, fazem uma coisa a que chamam Jogos Olímpicos, que chama a atenção do mundo”.
“Não creio que ele ache que o Comité Olímpico de Portugal, ou do Luxemburgo ou do que quer que seja, tenha alguma importância especial que mereça que o primeiro-ministro lhe dê alguma atenção”, concluiu.
Questionado também sobre os critérios do Presidente da República para chamar desportistas ao Palácio de Belém — ainda não recebeu os campeões mundiais João Ribeiro e Messias Baptista e Iúri Leitão, mas sim a seleção feminina de futebol e a de râguebi, que não ganharam qualquer título ou medalha —, Constantino limitou-se a dizer que “há coisas na vida que são imutáveis” e que Marcelo Rebelo de Sousa “é assim”, avançando hipóteses para essa disparidade de tratamento.
“Por uma relação, por um lado, lobista por parte do futebol relativamente às suas coisas e, por outro lado, uma propensão de natureza pessoal para a festividade, para a celebração para aquilo que possa alegrar o povo. E, portanto enfim, salvo melhor a opinião, e com o devido respeito, é-lhe indiferente se é terceiro, se é quarto lugar, se foi treino, se não foi treino. Interessa-lhe é aquela dimensão de espetáculo que é suscitada por aquelas celebrações ou reconhecimentos — nem sei como é que hei de chamar — que são feitas”, argumentou.
Para o máximo dirigente desportivo nacional, “por vezes”, as receções em Belém acontecem por feitos que, “sendo importantes, não revestem a elevação e a nobreza suficiente para serem objeto de reconhecimento e distinção do Presidente da República, com o devido respeito aos atletas, aos treinadores, à modalidade, à federação, a todos”.
“Mas, do meu ponto de vista, a atitude presidencial tem que ser uma atitude de distinção e de separação entre aquilo que é invulgar e aquilo que é normal, que é vulgar. E, portanto, há atos, como treinos ou como viagens, para aqui ou para cá, […] que não reúnem essa elevação e essa dignidade que justifiquem aquilo que é público e que é conhecido”, reforçou.