As relações entre Benfica e Sporting atravessam nesta fase um período de relativa acalmia, até pelos vários encontros que ambos os presidentes, Rui Costa e Frederico Varandas, têm registado em eventos públicos em que surgem como convidados, mas nem por isso o que acontece de um lado deixa de ser visto, analisado ou comentado do outro. Desta vez, e ao contrário do que tinha acontecido no ano passado, os encarnados não tiveram qualquer reação pública após o anúncio feito pelos leões com o Novo Banco para recompra de todos os VMOC ainda em falta. No entanto, não passaram ao lado. E foi nas entrelinhas de uma declaração após o triunfo dos campeões diante do Famalicão que se percebeu que o tema foi tudo menos esquecido.
“Foi um excelente resultado, com um estádio espetacular e completamente cheio [quase 59.000 pessoas]. Mais uma vez agradeço aos adeptos. Aproveito para lhes desejar um excelente 2024 e, como é evidente, fica sempre bem falarmos deste estádio e do orgulho muito grande de o termos construído. Sem perdões, pagámos o estádio”, referiu à BTV Luís Mendes, número 2 da Direção do Benfica e também CEO único da SAD depois da saída de Domingos Soares de Oliveira para os sauditas do Al-Ittihad.
De recordar que, na altura do anúncio do acordo entre o Sporting e o Millennium BCP, na antecâmara das últimas eleições do clube que terminaram com a reeleição de Frederico Varandas, o Benfica aproveitara a sua newsletter diária para fazer uma crítica aberta aos benefícios concedidos aos verde e brancos. “Por fim, o histórico, sim, tristemente histórico dia em que foi consumado um perdão de dívida gigantesco à Sporting, SAD. Um dia em que um banco intervencionado pelo Estado com dinheiro dos contribuintes, numa altura em que há cada vez mais investidores externos no futebol português, se desfez apressadamente de um ativo com 70% (ou mais) de desconto. Ativo esse que, por sua vez, já tinha sido sobrevalorizado aquando do início da operação”, apontaram na altura os encarnados, que “rebobinaram” todo o filme.
“A Sporting, SAD contraiu dívida junto do BES e Millennium BCP que não conseguiu pagar. A Sporting, SAD reestruturou essa dívida, beneficiando de um perdão de 12 milhões de euros de juros decorridos e por pagar. A Sporting, SAD e estes dois bancos converteram mais de 150 milhões de euros de dívida da Sporting, SAD num instrumento financeiro chamado VMOC, valorizando cada título a um euro quando as ações da Sporting, SAD eram cotadas muito abaixo desse valor. A Sporting, SAD, ao longo destes anos, não deixou de investir na equipa de futebol, apresentando resultados negativos em vários exercícios, tendo regressado, inclusive, à situação de falência técnica, numa persistente e inaceitável concorrência desleal para com os restantes clubes no futebol nacional. Agora a Sporting, SAD recompra VMOC, alegadamente por 30% do seu valor (se calhar foi menos) (…) Ficamos a aguardar expectantes pela Comissão Parlamentar de Inquérito dedicada a este tema”, defendeu também o Benfica nesse mesmo texto em março de 2022.
“O Sporting informa que adquiriu 51.416.952 de VMOC ao Novo Banco e que após a conversão dos referidos valores aumentará a sua participação no capital social da Sporting SAD para 88%. Este é um marco histórico na vida do clube. Concluiu-se a última etapa que permite acelerar a Nova Era que já se iniciou. A concretização deste objetivo constitui o passo final do caminho que foi definido em 2018, com o propósito de assegurar que o clube seria dono do seu próprio destino. Uma vez assegurado a 4 de março de 2022 o controlo da maioria do capital da SAD, colocou-se hoje, 27 de Dezembro de 2023, um ponto final ao Acordo Quadro de Reestruturação Financeira assinado em Novembro de 2014″, anunciou o Sporting esta semana.
“Um feito que permite ao Sporting iniciar um novo ciclo na sua notável História. Um ciclo em que o clube possa, de forma constante e inequívoca, estar na disputa da liderança de todas as competições desportivas, de forma sustentável e sustentada, com foco na criação de valor a longo prazo. Um passo que permite arrancar a fase 2.0 do planeamento estratégico, criando as condições para a entrada de uma parceria estratégica minoritária no capital na SAD, para que exista um reforço da política de investimento, da melhoria da experiência de todos os sócios e da globalização do clube”, acrescentou no comunicado emitido esta quarta-feira após a divulgação do acordo com o Novo Banco para a recompra dos VMOC em falta.