A editora, livraria e galeria Circo de Ideias, especializada em arquitetura e sediada no Porto, celebrará os dez anos do seu espaço no Bairro da Bouça com dez edições durante o ano de 2024, disseram os editores à Lusa.

“Eu acho que continua a ser um ato de resistência”, diz à Lusa Magda Seifert, na entrevista conjunta com Pedro Baía, os dois editores da Circo de Ideias, sobre o décimo aniversário do espaço no número 330 da Rua da Boavista, no Porto.

A editora, livraria e galeria celebra em 2024 dez anos do seu espaço apropriadamente localizado à porta do Bairro da Bouça, projetado pelo arquiteto Álvaro Siza.

“Muita gente nos diz isso [sobre a resistência], mas nós vamos andando, vamos fazendo, com toda essa segurança, sem tentar dar um passo maior que a perna”, completa Pedro Baía sobre a inauguração do espaço em 2014, em pleno centro do Porto, e a sua manutenção durante 10 anos, imune à gentrificação.

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Neste período, em que editou 50 livros, foram muitos os espaços “a fechar, a abrirem novos no mesmo espaço, e a voltarem a fechar”, mas a Circo de Ideias conseguiu manter a característica de não ser “pura e simplesmente uma livraria, uma galeria de arquitetura ou uma editora”.

Para arquitetos de todo o mundo, quando vêm visitar o Porto é obrigatório vir à Bouça, e temos essa sorte e essa circunstância de virem visitar a livraria”, acrescenta Pedro Baía.

Para o arquiteto, o espaço da Circo “só fazia mesmo sentido” ali — a receber pessoas “que vêm ver livros”, diz Magda — e não num sítio “a receber turistas só para passarem sem estarem interessados”.

Para assinalar os 10 anos de presença na Bouça, a Circo vai lançar dez livros durante o próximo ano.

“Sabemos que no início do ano já conseguimos ter alguns livros prontos, porque os projetos editoriais não são uma coisa que começas em janeiro e no final do ano tens esse projeto pronto”, começa por dizer Magda Seifert.

Entre os projetos a editar em 2024 estão um dedicado inteiramente às mulheres na arquitetura em Portugal, de Patrícia Santos Pedrosa, e a edição de “Lisboa Brutalista”, depois de ter sido lançado o “Porto Brutalista”, em 2019.

As novidades para o próximo ano reservam ainda uma adição à coleção das 18 Obras, desta vez de José Pulido Valente, após terem sido editados volumes de Bartolomeu Costa Cabral, Nuno Portas e Manuel Correia Fernandes.

Também o tríptico “Bande à Part”, de Nuno Brandão Costa (inspirado no cineasta Jean-Luc Godard), deverá ver o número 2 (“Arte, Cidade e Paisagem”) lançado em 2024, depois de “Tipologia e Revolução”.

Haverá também lugar à continuação da edição dos encontros “Team Ten Farwest”, desta vez do de 2019 no Porto (com John Ockman, Lukasz Stanek e Tom Avermaete) depois da edição dos encontros de Guimarães (2017) e Barcelona (2018).

Também em 2024, a coleção Nuances, Reciprocidades e Cumplicidades será acompanhada por Interferências, de Susana Ventura.

A atividade da Circo de Ideias em 2024 contará ainda com novas exposições, a começar já em janeiro com “Todas as Direções”, de Ricardo Carvalho, que lhe valeu o prémio da Associação Internacional dos Críticos de Arte (AICA).

Posteriormente, com a edição de “Lisboa Brutalista”, as fotografias também estarão expostas na galeria, à semelhança do que aconteceu com o livro “irmão” do Porto.

Quanto ao futuro, Pedro Baía afirma ter noção que o projeto, que vive da dedicação dos editores e já emprega dois colaboradores, é necessariamente “algo frágil”.

“Para já está tudo bem, temos projetos para o futuro, muitos livros, mas no futuro, se algum dia acontecer qualquer coisa a nível pessoal e não pudermos avançar para a frente, pelo menos o trabalho que temos feito acho que nos deixa orgulhosos”, refere.

A Circo de Ideias continuará a seguir a máxima de que “a fragilidade exalta a criação”, citando Didier Faustino.