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Da Tanzânia aos menus do Belcanto, Rosa arredonda a mala

Este artigo tem mais de 6 meses

A ideia era um negócio de saias, mas acabou por transformar-se numa marca de malas e peças personalizadas em couro. O ateliê de Rosa Diniz tem clientes de várias partes do mundo.

Há cinco anos, a vida de Rosa Diniz era bem diferente. Formada em Produção pela Escola Superior de Teatro e Cinema, trabalhava numa produtora em projetos de cinema e TV © Manuel Manso
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Há cinco anos, a vida de Rosa Diniz era bem diferente. Formada em Produção pela Escola Superior de Teatro e Cinema, trabalhava numa produtora em projetos de cinema e TV © Manuel Manso

Manuel Manso

Há cinco anos, a vida de Rosa Diniz era bem diferente. Formada em Produção pela Escola Superior de Teatro e Cinema, trabalhava numa produtora em projetos de cinema e TV © Manuel Manso

Manuel Manso

Quando algum cliente lhe pede para fazer uma réplica de uma mala de outra marca, Rosa Diniz, de 50 anos, desencoraja-o. Originalidade é a palavra de ordem no seu ateliê, de portas abertas para a Rua Poiais de São Bento, em Lisboa. Aqui, dificilmente se encontram duas peças em couro iguais. “Nem há stock”, continua a artesã que trabalha sozinha, à mão.

Em cima da sua bancada de trabalho, à vista de todos, está a secar uma mala cor-de-rosa que irá para França. Quem a encomendou escolheu tudo, da cor da pele ao fecho, passando pelo forro, a linha das costuras e até a tinta do acabamento.

“O cliente vai pagar algumas centenas [de euros] por uma mala, mas aqui vai escolher mesmo tudo”, reforça Rosa. “E quando criamos esta ligação com o objeto é para ele ser nosso. Para não termos 20, termos dois fabulosos.”

© Manuel Manso

Daí que às vezes a espera para receber uma encomenda do seu ateliê chegue a dois meses – ou até um ano, como aconteceu com uma cliente habitual que trouxe um tecido da Guatemala para Rosa trabalhar como quisesse. “Era uma peça difícil e não sabia bem o que fazer”, confessa.

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Depois de dar muitas voltas à cabeça, o resultado foi uma das malas de que mais se orgulha, uma colorida “weekender” que nos mostra em fotografias no telemóvel.

Na mesma galeria do telefone estão outras centenas de imagens, o seu portefólio de trabalhos para outros clientes: malas personalizadas que foram despachadas para os quatro cantos do mundo, da Tanzânia à Dinamarca, menus para o restaurante Belcanto de José Avillez, tabuleiros para os quartos do The Lumiares Hotel, no Bairro Alto, ou um balde, também todo em pele, um desafio da curadora de arte Felipa Almeida.

Manuel Manso

Há cinco anos, a vida de Rosa Diniz era bem diferente. Formada em Produção pela Escola Superior de Teatro e Cinema, trabalhava numa produtora em projetos de cinema e TV. O último em que esteve envolvida, uma telenovela, causou-lhe uma “imensa infelicidade” e fê-la perceber que devia aproveitar melhor o tempo.

As artes sempre fizeram parte da sua vida. A mãe é a atriz Amélia Videira e diz ter crescido “no meio de trapos e cenografia”. Aprendeu Dança no Conservatório Nacional, bordou, pintou, trabalhou com tapetes de Arraiolos e tirou um curso de Joalharia na António Arroio. “Sempre tive muito jeito de mãos.”

Com o dinheiro que ganhou a fazer dobragens decidiu investir mais na sua formação artística e juntou ao currículo um curso de modelagem que puxou mais ainda pelo seu lado criativo. “Comecei a ter ideias e pensei num projeto de saias, o Rosa arredonda a saia”, conta. “Só que uma amiga disse-me que saias não se vendiam nada, que precisava era de umas bolsas.”

Em dez dias, Rosa criou uma coleção de sacos em napa. A amiga não se interessou, mas Rosa não se importou. “O que aprendi foi tão renovador, tão importante, que achei que só tinha a ganhar.”

Vendeu os sacos na loja do Turismo de Lisboa e continuou a fazê-los, “mais e mais”. Quando lhe arranjaram uns tecidos da Hermès para trabalhar, achou que mereciam um material melhor e começou a interessar-se pelo couro.

Na mesa do seu atelier tem, aliás, os dois livros que serviram de base para a sua aprendizagem, a observar imagens e detalhes. Durante a pandemia, tirou um curso online com um professor inglês e fechou-se a trabalhar.

“Como aprendi tudo sozinha e este é um ofício de homens, ninguém me levava a sério”, continua. As primeiras visitas a fábricas portuguesas, onde vai buscar os materiais, foram particularmente difíceis. “Queria falar com as pessoas sobre química, sobre como era composto o material e os processos de curtimenta, e a conversa não era adequada.”

© Manuel Manso

Hoje já conseguiu ganhar respeito no meio e os clientes foram-se multiplicando, muitos a entrarem-lhe pela porta desde que abriu a loja de rua, em 2020.

Alguns vêm com uma peça em mente para ser feita de raiz – as malas começam nos 380 euros e podem chegar aos 1300. Outros ficam apenas curiosos com o trabalho artesanal à porta aberta, coisa cada vez mais rara em Lisboa. De tal forma que surgem pedidos inesperados. “Como pessoas a pedirem-me só para fazer um furo no cinto, porque não encontram um sapateiro.”

Rua Poiais de São Bento, 44, Lisboa. 925 743 598. Seg-Sex 10.00-18.00, Sáb 10.00-17.00. Encerra ao domingo

Este artigo foi originalmente publicado na revista Observador Lifestyle n.º18, lançada em dezembro de 2022.

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