Pedro Nuno Santos decidiu esta quinta-feira falar no Parlamento para dar explicações mais prolongadas sobre o processo de compra de ações dos CTT pelo Estado, que aconteceu em 2021 mas só foi revelado agora. Voltando a insistir que não foi responsável pelo processo enquanto ministro, o novo líder do PS assumiu desta vez, no entanto, que na altura soube da operação e que concordou com ela.

“Obviamente sabia e obviamente concordo com o que foi feito”, disse aos jornalistas no Parlamento, aproveitando desde logo para se atirar a Luís Montenegro. Depois de o líder do PSD ter sentenciado que, se Pedro Nuno Santos não sabia da operação, então o caso é “uma bandalheira completa”, o socialista veio esclarecer que sabia e “lamentar” a forma como o adversário falou: “Temos de nos respeitar. Eu não atribuo ao meu adversário declarações que não fez. Em nenhum momento disse que não sabia da operação”.

O que Pedro Nuno Santos já tinha dito, sem revelar então se tinha tido conhecimento da operação, é que não foi o responsável pela ordem dada à Parpública, como reforçou esta quinta-feira: “Não é o ministro que tem a tutela setorial que dá instruções ao ministro das Finanças”, frisou. Mais à frente, repetiu a ideia de várias formas: “Não conduzi o processo, não sou responsável por ele, não sou ministro das Finanças nem presidente da Parpública”.

Montenegro acusa Pedro Nuno Santos de “sacudir água do capote” sobre CTT

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Mesmo assim, aproveitou para se atirar ao PSD pela privatização “desastrosa”, que diz ter “lesado o interesse nacional”, prejudicado o serviço prestado pela empresa e levado a que o privado ficasse “com a faca e o queijo na mão”. “A privatização foi desastrosa e lesou profundamente o interesse nacional. O PSD devia pedir desculpas pelo processo de privatização em vez de estar preocupado com 0,24% das ações”, atirou.

Esses 0,24% das ações só permitem uma participação muito pequena na empresa, mas Pedro Nuno defende que permitiriam “acompanhar de forma mais próxima o cumprimento do contrato de concessão e de um serviço de qualidade”. O ex-ministro insiste que a ideia não era fazer uma “moeda de troca” com a esquerda, que não resultou: “Não é uma moeda de troca, mas obviamente quando há negociações para o Orçamento sabemos as posições dos outros partidos, que defendiam o controlo público da empresa. A posição do Governo não era a mesma, mas podia fazer um caminho para se aproximar da posição”.

O PCP já veio assumir que no contexto das negociações orçamentais chegou a ser informado pelo PS da operação, mas garantiu que na altura, e uma vez que defendia a nacionalização completa da empresa, não considerou a informação “relevante”.

PCP assume que Governo lhe “deu informação” sobre compra de ações dos CTT, mas partido não a considerou “relevante” para as negociações

Já Pedro Nuno, e apesar de todas as críticas que faz sobre a privatização e de dizer que os portugueses “não ganharam nada” com ela, diz que agora que se candidata a primeiro-ministro não está ainda assim prevista uma reversão da privatização dos CTT, porque o Estado não consegue “corrigir todas as asneiras” do PSD. A hipótese “não está excluída”, ainda assim, porque genericamente não deve estar.