A norte-americana Tesla e a chinesa BYD disputaram entre si o estatuto de líder na venda de veículos eléctricos ao longo dos 12 meses de 2023, segmento do mercado que a Tesla lidera praticamente desde que foi criada em 2012. Mas a concorrente chinesa quer ser a 1.ª do ranking, apoiando-se no facto de a China ser o maior mercado do mundo com uma vantagem de 1000 milhões de habitantes face à União Europeia e uma vantagem ainda superior em relação aos EUA.
Considerando os quatro trimestres de 2023, a BYD conseguiu ultrapassar a Tesla de Outubro a Dezembro, período em que entregou a clientes 526.409 veículos a bateria, contra 484.507 da rival, registando um crescimento notável reforçado por em Dezembro ter vendido um em cada 10 carros fora da China, contra apenas um para 40 em Junho de 2022. Mas esta vitória da BYD foi específica do último trimestre do ano, uma vez que no acumulado dos 12 meses de 2023, a Tesla colocou no mercado 1.808.581 veículos, contra 1.574.822 da BYD.
Apesar de a Tesla continuar a crescer a bom ritmo – em 2023 vendeu mais 38% de unidades do que no ano anterior –, a BYD aumentou de vendas com uns impressionantes 62%, pelo que é evidente que o construtor chinês será a partir de 2024 o líder da venda de eléctricos, estatuto que manterá durante muitos anos, a menos que a economia chinesa tropece ou o conflito com o Ocidente assuma grandes proporções. De contrário e face aos já anunciados investimentos numa fábrica na Hungria para disputar sem entraves o mercado europeu e outra (ainda em negociações) no México, com um olho no mercado dos EUA e Canadá, não será fácil algum outro fabricante fazer frente à BYD.
A vantagem da BYD assenta sobretudo na produção na China, usufruindo dos custos de mão-de-obra e de matéria-prima mais baixos e dos subsídios estatais, o que será difícil de estender às unidades de produção que vai localizar na Europa e nos EUA. Simultaneamente, o maior grau de exigência dos condutores ocidentais e a maior necessidade de equipamentos de segurança e de ajudas ao condutor vão levar a um incremento do preço dos BYD destinados aos mercados ocidentais.
O crescimento brutal deste construtor chinês surpreendeu todas as marcas e os seus responsáveis. Pode ver em cima uma entrevista de Elon Musk em 2012 à Bloomberg, em que este duvidava do futuro da BYD, numa fase em que a Tesla lançava o primeiro Model S. O erro de Musk foi comum a toda a indústria, uma vez que até os construtores chineses desdenharam da nova marca, que produziu o seu primeiro modelo em 2005, pouco sofisticado em todos os aspectos. Hoje a BYD é o maior construtor chinês, usufruindo – como as restantes marcas locais – das sinergias forçadas pelo Estado chinês para os construtores estrangeiros que querem vender no país os seus veículos, obrigados a fabricar na China mas a “oferecer” 50% da fábrica em sociedade a um construtor local, que assim tem acesso às novas tecnologias, a explicação para a acelerada evolução dos fabricantes chineses.
Comparar as vendas da BYD com as da Tesla não faz muito sentido, sobretudo porque o construtor chinês vende localmente 90% da sua produção e aí o seu modelo eléctrico mais procurado é o pequeno BYD Seagull, com especificações próximas de um Dacia Spring, proposto na China por 80.000 yuans, cerca de 10.300€. O segundo eléctrico mais vendido é o Qin Plus EV, uma berlina com 4,7 metros – aproximadamente as dimensões de um Model 3 ou de um BMW i4 –, mas com o correspondente a uma autonomia em WLTP de cerca de somente 300 km e um motor com 136 cv, sendo comercializado por 129.800 yuans, cerca de 18.900€. Até mesmo o BYD Seal, rival directo do Tesla Model 3 na China, é proposto por apenas 166.800 yuans (21.440€) contra os 261.400 yuans (33.600€) do seu adversário, embora com especificações menos entusiasmantes e menos equipamento.
A prova de que a competitividade da BYD fora da China é mais problemática do que no mercado doméstico, fica demonstrada pelo facto de em Portugal, por exemplo, a Tesla vender o Model 3 mais barato por 39.990€, contra 46.990€ do BYD Seal RWD equivalente. Ainda assim, é exçpectável que a BYD lidere as vendas de veículos eléctricos a partir de 2024, a menos que algo de anormal aconteça.