Nem sempre os troféus nacionais foram discutidos em território português e os anos 90 com as finalíssimas da Supertaça são exemplos paradigmáticos disso mesmo. Nessa década, perante as igualdades das decisões a duas mãos, o terceiro e decisivo encontro foi discutido no Parque dos Príncipes, em Paris, literalmente para o emigrante ver: sempre com lotação esgotada entre os que partiam de cá e os que já lá estavam, primeiro o FC Porto venceu o Benfica por 1-0 em 1995 com um golo de Domingos e depois foi o Sporting a ser superior aos dragões com um triunfo por 3-0 em 1996 (bis de Sá Pinto mais um golo de Carlos Xavier). Depois, a exceção voltou a ser quebrada pela regra de todos as finais serem realizadas em Portugal Continental. Pelo menos até agora, sendo que essa viragem de paradigma pode chegar via Taça da Liga e não Supertaça.
Pedro Proença reforçou que Taça da Liga pode passar pelo estrangeiro
“Continua a ser um objetivo a questão da realização da Final Four [da Taça da Liga] no estrangeiro. É uma ferramenta de internacionalização. Esta Final Four no fim de janeiro será uma ocasião tremenda para poder fazer a projeção para uma solução internacional. É um produto muito interessante, com muitos interessados em levar para os seus países. É um modelo de sucesso e internacionalizável”, destacou Rui Caeiro, diretor executivo da Liga Portugal, em entrevista à Rádio Renascença. E há um mercado à cabeça.
“A ambição dos países do Médio Oriente em ter este tipo de competições tem estado a incrementar-se de forma significativa. É um objetivo aproveitar essa oportunidade que se está a gerar. Claro que entendemos a vontade de outras geografias mas obviamente que o Médio Oriente ganha a vantagem com o foco e o investimento em espetáculos desportivos que, neste momento, é muito significativo. Não podemos deixar de aproveitar esta oportunidade que o próprio mercado, de forma autónoma, está a gerar”, acrescentou, num modelo neste caso semelhante ao que acontece com a Supertaça de Espanha (que terá uma final entre Real Madrid e Barcelona em Riade) e de Itália, nos dois casos num modelo de Final Four para decidir o vencedor.
De recordar que, em abril, Pedro Proença, presidente da Liga Portugal, tinha deixado em aberto três opções para o futuro da Final Four da Taça da Liga. “Já há um caderno de encargo, foi lançado um concurso público e esperamos que muito rapidamente possamos ter conclusões. O mercado [da Final Four da Taça da Liga] é tripartido: América é uma boa possibilidade, mercado da Arábia Saudita e mercado europeu, que também nunca deixamos de fora”, destacou a esse propósito. Em 2024, Leiria recebe pela quarta vez seguida a final da competição, que coincide com o final do contrato assinado entre autarquia e Liga Portugal. Antes, Algarve, Coimbra e Braga foram as outras cidades que organizaram os três encontros decisivos da prova.
Em paralelo, e na mesma entrevista à Renascença, Rui Caeiro abordou também a questão da centralização dos direitos televisivos, explicando um pouco de como poderá funcionar a distribuição das receitas.
“Para nós o modelo que deve ser aplicado será um que tenha uma componente de distribuição igualitária, na ordem do que é feito nas outras ligas, por volta dos 50%. Os outros 50% com base no mérito desportivo e na implantação social de cada uma das equipas. Temos a firme convicção de que os clubes não ficarão a perder com o processo de centralização, as práticas internacionais mostram isso. Estamos a trabalhar com o empenho de todos os clubes. Existem mecanismos de compensação e várias soluções que foram trabalhadas noutras realidades, o que queremos é estudar essas realidades e encontrar o melhor modelo, que seja adequado à nossa realidade”, explicou, deixando em aberto uma solução que seja a mais conveniente para os clubes perante o contexto nacional entre várias fórmulas distintas que são utilizadas nas principais ligas.
“Os estudos de várias entidades apontam para valores, no mercado atual, na ordem dos 150 a 170 milhões de euros [na venda individual]. Os estudos da Liga apresentam valores muito superiores, que vão dos 275 aos 325 milhões de euros, enquanto valor global [da venda centralizada]. Temos a perfeita consciência de que o valor do mercado nacional é muitíssimo superior ao valor do mercado internacional. A nossa convicção é que, quando conseguirmos a centralização, já num processo normal [no futuro], vamos conseguir extrair muito mais valor da dimensão internacional. Atualmente, os valores do mercado internacional devem estar entre os 5 e os 10%”, completou Rui Caeiro, a propósito da mais valia da centralização dos direitos.