Demorou onze anos a ser construído e agora tem de ser restaurado até ao Natal, sem direito a derrapagem. O imponente baldaquino da basílica de São Pedro, em Roma, assinado pelo escultor e arquiteto italiano Gian Lorenzo Bernini vai ser recuperado, anunciou em conferência de imprensa o Vaticano há quatro dias. Será uma “obra complexa e exigente”, que vai custar cerca de 700 mil euros, sublinhou o cardeal Mario Gambetti, citado pelo VaticanNews .

Com quase 30 metros e a pesar 63 toneladas, a famosa estrutura barroca de bronze saída das mãos de Bernini (que contou com a ajuda do seu pai Pietro, do seu irmão Luigi e do também arquiteto Francesco Borromini) há dois séculos e meio que não passava por um restauro. Foi em 1758 que uma vasta equipa (60 pessoas por dia, durante três meses, relembra a nota histórica do site oficial da Basílica) recuperou este dossel especial.

Agora prevê-se que os trabalhos durem dez meses, da segunda quinzena de fevereiro a dezembro de 2024, de forma a estar pronto para o Jubileu 2025. Trata-se de “uma restauração de grande valor simbólico”, disse o cardeal, “porque o baldaquino que se eleva solenemente acima do altar-mor indica com a sua magnificência o local do túmulo do apóstolo Pedro, a quem a Basílica é dedicada”.

O restauro do baldaquino — que é  “tão alto quanto um prédio de dez andares”, sublinha o cardeal, e “é o ponto de apoio da Basílica”— fica a carg o dos ateliês do Vaticano, a famosa Fábrica de S. Pedro. Os trabalhos serão divididos em três fases, disse Alberto Capitanucci, responsável pela área técnica, citado pelo Vatican News: preparação do local com o projeto dos andaimes, diagnóstico preliminar e em andamento com documentação gráfica e fotográfica; e finalmente a recuperação das superfícies de metal, pedra e madeira. Os desenhos a ouro de Bernini nas colunas de bronze também serão recuperados.

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O restauro será financiado pela Ordem dos Cavaleiros de Colombo: “Somos gratos pelo privilégio de servir a Igreja desta maneira”, disse Patrick Kelly, Cavaleiro Supremo da ordem. O baldaquino “é uma espécie de tenda colocada sob a esplêndida cúpula de São Pedro, lembrando-nos de que Deus escolheu morar entre nós” e “construída sobre o túmulo de Pedro, Príncipe dos Apóstolos”.

Começado a construir em 1924, inaugurado em 1933 e apenas concluído dois anos depois, o baldaquino está com sinais visíveis de degradação. Pietro Zander, o responsável pelas obras de arte da basílica, explicou como uma camada escura constituída por substâncias gordurosas de anteriores trabalhos de manutenção, poeira e material depositado, cobre as superfícies do baldaquino, tornando mesmo só parcialmente visível o seu revestimento dourado, alterando-o e apagando-o.

Pietro Zander contou ainda que existem “deformações muito pequenas devido a fenómenos de alteração do bronze” assim como “separações e descolamentos no céu do baldaquino”.

Diariamente, 50 mil pessoas visitam a Basílica de São Pedro, o que faz com que se registem variações microclimatéricas, devido ao fluxo de humidade e às variações de temperatura no interior do monumento, e que interagem com o baldaquino, continuou Zander. Isso leva a que as peças de madeira corroam, oxidem e dilatem, fazendo com que a película de pintura levante e descole.

A reconstrução digital milimétrica do dossel, a partir de seis mil fotografias de alta definição, foi decisivo para se avançar com a intervenção, autorizada pelo Papa Francisco. E o cardeal Mauro Gambetti garantiu que as obras não irão impedir as cerimónias papais.

O baldaquino da basílica de São Pedro é uma estrutura polimérica, ou seja, constituída por vários materiais: além do bronze e do ouro, possui decorações de madeira e cobre e uma espécie de betão e ferro, no interior das colunas, para suportar a estrutura, apoiada em mármore.

A ideia da sua construção nasceu em 1624, quando, terminados os trabalhos de reconstrução da basílica, se percebeu que a sua monumentalidade e a cúpula de Miguel Ângelo ocultavam o túmulo de Pedro, o primeiro Papa, segundo a Igreja Católica.

O Papa Urbano VIII lançou então um concurso para encontrar um artista que projetasse um elemento arquitetónico para o altar-mor do apóstolo, que lhe devolvesse a visibilidade perdida.

O projeto tinha como objetivo erguer um cibório (nome dado à estrutura que coroa os altares das catedrais). Gian Lorenzo Bernini foi a escolha de Urbano VIII, por ser o seu arquiteto de confiança. O também escultor inspirou-se nas colunas de mármore dispostas à volta do túmulo do apóstolo Pedro na basílica antiga (e que se acredita que tenham sido retiradas do Templo de Salomão em Jerusalém, diz o site da basílica) para construir as colunas do baldaquino.