“O teu filho também vai ser jogador?”. A pergunta deve ser o dia a dia de qualquer atual ou antigo jogador de futebol que tenha filhos, para sempre presos à ideia e possibilidade de que os descendentes também acabem por brilhar nos relvados. Para Michael Owen, mais do que uma repetição, a pergunta tornou-se um autêntico tormento.

Nos últimos dias, nas primeiras imagens do documentário “Football is for Everyone” que estreia no próximo dia 30 de janeiro, o antigo avançado inglês revelou que um dos filhos é cego. James, atualmente com 17 anos e o segundo de quatro irmãos, foi diagnosticado com Doença de Stargardt quando tinha apenas oito — a condição, considerada rara, passa pela acumulação de tecido na mácula, a zona central da retina. A perda de visão foi gradual e persistente ao longo da adolescência e o filho de Michael Owen é agora “clinicamente cego”.

“Perguntarem se ele também vai ser jogador de futebol é provavelmente a pior questão que me podem colocar, mas nunca o demonstro nem o digo a ninguém. Mas acabas por ter de arranjar uma desculpa ou dizer que não se interessa muito ou algo do género. Ou então explicas tudo e acabas numa conversa que não queres ter com ninguém. Quando alguém pergunta isso só quero mudar o assunto. Isso talvez tenha sido a coisa mais difícil ao longo dos anos”, explicou o inglês, que atualmente tem 44 anos.

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James Owen ainda jogou futebol quando era mais novo, acabando por deixar quando a dificuldade em ver se tornou incapacitante, e o pai garante que poderia ter tido sucesso. “Era muito novo, os olhos dele estavam provavelmente um bocadinho melhores do que estão agora e os campos eram mais pequenos, estava tudo mais próximo e ele conseguia ver a bola muito melhor. Era muito, muito bom. Cheguei a dizer ao meu pai e à minha mulher que ele tinha boas hipóteses de ser jogador de futebol. Mas quando surgiu o diagnóstico foi parando, gradualmente”, acrescentou Owen, que passou por Liverpool, Real Madrid, Newcastle, Manchester United e Stoke City e venceu a Bola de Ouro em 2001 e quando ainda estava nos reds.

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O documentário também conta o testemunho do próprio James, que reconhece que assumiu o diagnóstico desde logo e que precisou de tempo para se adaptar à nova realidade. “Quando percebi que o futebol não era possível, quis encontrar algo alternativo. Durante um tempo nem sequer quis nada disso, mas agora quero ter o meu próprio negócio e sustentar a minha futura família. Costumava ser muito mais emotivo em relação à doença, deixava que fosse mais a minha identidade. Quando era mais novo tinha pena de mim, mesmo. Só pensava ‘porquê eu?’. Não podia conduzir, não podia fazer nada. Mas ficar chateado não vai mudar nada, por isso, mais vale seguir em frente”, atirou o jovem inglês.

Em resposta ao otimismo do filho, Michael Owen confirma que os primeiros tempos não foram fáceis e que a família estava no hospital “de dois em dois minutos” para exames, testes e intervenções. Quase uma década depois do diagnóstico, porém, o antigo internacional por Inglaterra garante que já encontrou alguma paz e que procura “tirar o lado positivo de tudo”.

“Tenho muito de que me orgulhar, porque ele tornou-se um rapaz brilhante. É o que é. Fui pensando nas coisas de outra forma, tipo ‘não pode conduzir? Ok, vou ser o táxi dele para o resto da vida!’. Tentei pensar que isto era uma forma de ser ainda mais próximo dele”, sublinhou, mantendo a esperança de que um dia seja encontrada uma cura ou um tratamento mais eficaz para a Doença de Stargardt.