O infecciologista Francisco Antunes pediu esta terça-feira medidas para os imigrantes em Portugal, que constituem das populações mais vulneráveis ao VIH, com metade dos novos casos diagnosticados em 2022.

“São considerados uma das populações mais vulneráveis à infeção por VIH e a outras infeções sexualmente transmissíveis, com um risco de se infetarem muito superior à população em geral”, disse o médico do Instituto de Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, que apresenta esta terça-feira uma conferência sobre “O VIH e a Imigração – dupla discriminação”, na FNAC Chiado, por ocasião dos ” 40 Anos de SIDA em Portugal – Sida 4.0″.

Para combater este problema, considerou, é necessário aumentar a prevenção, antecipar diagnósticos e facilitar o acesso ao sistema nacional de saúde para o tratamento do Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH).

“Um dos argumentos que tem sido utilizado para denegrir a imagem dos imigrantes relativamente à infeção VIH é que eles trazem a infeção dos países de origem para Portugal”, mas “isso não é bem verdade” porque “25 a 50% das pessoas infetam-se no país de destino”, disse o médico.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

No total, os imigrantes representam 5% da população portuguesa, mas esta população representam metade dos novos infetados com VIH em 2022, num total de 800 infeções.

“O estigma e a discriminação são, atualmente, as principais barreiras para os objetivos de eliminação da infeção por VIH, como problema de saúde pública, no ano de 2030, muito em particular em populações mais vulneráveis, como são os imigrantes”, considerou

Os imigrantes têm “poucos conhecimentos sobre como se previne, como se tratar e onde se tratar” e o serviço de saúde em Portugal, apesar de ser dos países que tratam de casos de pessoas em situação ilegal, “é muito complexo e tem muitas barreiras” para os imigrantes.

De acordo com inquéritos realizados, “em Portugal, apenas 15% dos imigrantes usaram o preservativo na última relação sexual” e 16% “conheciam o seu estado em relação à infeção por VIH”, uma tendência que é semelhante no resto da Europa.

“O diagnóstico nesta população de imigrantes é muito mais tardio em relação a outras populações que não são de imigrantes”, alertou o médico, que coloca esta população numa situação de vulnerabilidade semelhante a “homens que têm sexo com homens, transexuais e os utilizadores de drogas injetáveis”.

Mas entre os imigrantes, “como não conhecem a infeção não sabem do risco que estão a correr”, uma situação a que se soma a circunstância de serem “populações com risco muito grande de pobreza, com muito risco de sem abrigo e problemas de saúde mental”.

A solução, defende, passa por uma “maior proximidade” do sistema de saúde em relação a esta população.

Temos de implementar medidas que “aproximem estes imigrantes do sistema de saúde, do acesso aos preservativos, acesso à PrEP (profilaxia pré-exposição), ao acesso ao diagnóstico e ao tratamento”.

Para tal, é necessário envolver “a capilaridade” de vários setores que chegam a estas populações, como as “farmácias de rua, centros de saúde, associações de doentes ou as comunidades associadas aos doentes”.

O objetivo é “facilitar o acesso ao Serviço Nacional de Saúde, desburocratizando e facilitando a navegação no sistema, com prestação de cuidados de saúde de proximidade, nos centros de saúde, farmácias comunitárias e associações de doentes”, acrescentou.