A história começou em novembro, quando se tornou a primeira mulher a ser treinadora adjunta na Bundesliga. A história continuou este fim de semana, quando se tornou a primeira mulher a ser treinadora principal nas cinco principais ligas europeias. Aos 32 anos, Marie-Louise Eta é cada vez mais a protagonista de um conto de fadas que prova que os sonhos não são apenas contos de fadas.
No domingo, quando o Union Berlin recebeu e venceu o Darmstadt, a alemã tornou-se a primeira mulher a comandar uma equipa principal masculina na Bundesliga — e, por inerência, nas big 5 europeias. Marie-Louise Eta assumiu o papel na sequência do castigo de Nenad Bjelica, treinador principal do Union Berlin que está suspenso por três jogos depois de ter empurrado Leroy Sané na partida contra o Bayern Munique, e estreou-se desde logo com uma vitória.
Marie-Louise Eta made history over the weekend by filling in as Union Berlin's manager.
The 32-year-old assistant coach and former UWCL winner became the first woman to take charge of a men’s team in a Bundesliga game. ???? pic.twitter.com/QxxzXQOAmA
— Attacking Third (@AttackingThird) January 29, 2024
“Estamos muito contentes por termos conseguido realizar uma exibição tão boa. Fizemos aquilo que nos competia fazer dentro de campo”, disse a treinadora na zona de entrevistas rápidas, sendo que agora vai repetir a façanha contra o RB Leipzig e o Mainz. O Union Berlin, que estava no grupo do Sp. Braga na Liga dos Campeões, está atualmente no 15.º lugar da Bundesliga, cinco pontos acima da zona de despromoção.
Natural de Dresden, Marie Louise-Eta começou por ser jogadora e teve uma carreira de cerca de uma década que até lhe permitiu conquistar a Liga dos Campeões com o Turbine Potsdam. Passou ainda por Hamburgo, Cloppenburg e Werder Bremen, foi internacional Sub-23, mas deixou os relvados com apenas 26 anos e na sequência de várias lesões. “Sempre disse que jogaria até não poder andar, mas o momento era o certo, mesmo que tenha sido uma decisão extremamente difícil. Não consigo imaginar fazer nada que não seja futebol. Com isso, passei cada vez mais tempo a trabalhar como treinadora e cresceu a decisão de que queria dar o próximo passo”, explicou a alemã em entrevista à revista kicker.
Em abril de 2023, ainda nem há um ano, terminou o curso que lhe permite agora treinar nos dois principais escalões do futebol alemão — foi uma de apenas 16 pessoas e a única mulher entre cerca de 100 candidatos a receber a licença. Estagiou nas camadas jovens da seleção feminina da Alemanha e acabou por assumir o cargo de adjunta nos Sub-19 do Union Berlin. Em novembro, quando Urs Fischer deixou a equipa principal do clube na sequência de 14 jogos consecutivos sem ganhar, acompanhou Marco Grote, então técnico principal dos Sub-19, no desafio de assumir o plantel interinamente.
Marco Grote foi substituído definitivamente por Nenad Bjelica ao fim de alguns dias, mas Marie-Louise Eta manteve-se na equipa técnica principal. E manteve-se até este domingo, onde foi então chamada a render o castigado treinador croata. “Sempre me saí bem a pensar passo a passo. Há dois ou três anos nunca teria imaginado que estaria nesta posição agora, nunca teria pensado que trabalharia permanentemente no futebol alemão. É por isso que posso imaginar muitas coisas: assumir o comando de uma seleção jovem dentro de algum tempo, trabalhar como adjunta nas ligas profissionais adjuntas, treinar numa equipa feminina da Bundesliga, bem como nos Sub-17 e Sub-19 masculinos. Não importa onde, tenho é de me sentir confortável, quero acordar todos os dias com alegria”, explicou na mesma entrevista e ainda antes de se estrear sequer como adjunta.