Há males que vêm por bem mesmo que esse bem equivalha a correr tudo mal. No último dia de mercado de transferências de 2019, o Sporting conseguiu fechar três reforços por empréstimo para o ataque da equipa comandada então por Marcel Keizer: Yannick Bolasie, Fernando e Jesé Rodríguez. O espanhol era a “truta” que se falava para os leões, que tinham ficado sem Bas Dost e Raphinha nesse verão. Correu tudo mal. 1) o técnico neerlandês foi despedido pouco depois, sendo que ainda passaram pelo cargo Leonel Pontes e Silas até à chegada de Rúben Amorim em março de 2020; 2) nenhum dos jogadores deixou marca ou sequer ficou muito tempo; 3) o avançado emprestado pelo PSG foi o típico exemplo do barato que saiu caro, custando 2.674 euros por minuto de utilização entre os 17 jogos com um golo que fez até sair no mês de abril.

O “comprometimento” de Jesé não chegou: 17 jogos, um golo e a dispensa antes do tempo. Custo? 2.674 euros por minuto

Esse mercado acabou por ser uma “lição” para a estrutura liderada de Frederico Varandas, que não mais caiu nesse erro e foi melhorando o posicionamento a esse nível com resultados que estão à vista. Para Jesé, essa passagem falhada por Alvalade foi tudo menos uma “lição” para o futuro. Apesar de ser um jogador que tinha tudo para vingar ao mais alto nível, hoje encontra-se com uma mão cheia de nada além de sonhos.

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“Garanto 100% de profissionalismo diário. Tenho experiência em diferentes equipas e diferentes países, jogo em diferentes sistemas com treinadores com ideias muito diferentes e, acima de tudo, sou bom companheiro e quero ganhar. Sou um vencedor, o que gosto mesmo é de ganhar. Quem me der oportunidade não se vai arrepender”, destacou o avançado de 30 anos numa entrevista ao jornal Marca que mais parecia quase uma entrevista de trabalho numa fase em que se encontra sem clube depois de ter deixado o Coritiba.

“Que ninguém duvide que sou e vou continuar a ser futebolista. Levo já quatro semanas a treinar de segunda a sexta-feira, às vezes aos sábados, com sessões duplas, a preparar-me e à espera. Tive algumas coisas mas não quis estar a tomar decisões precipitadas. Gostaria de ir para um sítio que me dê estabilidade, onde possa jogar de forma contínua. Se tiver essa continuidade que todos os jogadores procuram, estou seguro que vou render como tenho feito. O futebol faz-me falta, as dinâmicas de grupo, os companheiros… Tenho tudo agora planificado. Por exemplo se hoje fizer um treino de resistência, no dia seguinte trabalho com bola, faço no ginásio peso nas pernas para potenciar músculos e evitar lesões. Sinto-me bem”, comentou.

“No futebol há experiências que são boas e outras que são más. As minhas ultimamente não têm corrido bem mas não me vou render, vou sempre lutar porque o futebol é a minha vida. Amo o futebol, é o que me faz feliz e o que lutei sempre desde pequeno para fazer. Tenho um objetivo muito claro: lutar por uma oportunidade numa nova equipa, dar tudo e ser positivo. Tive momentos individuais e coletivos muito bons, outros nem tanto. Quando perdes, tens de refletir. Quando ganhas muitas vezes não pensas muito nisso mas quando cais é altura de fazer uma reflexão e pensar no porquê de isso ter acontecido. Aprendi com os meus erros porque acredito que não somos perfeitos e o mais importante é perceber tudo isso”, acrescentou.

Jesé Rodríguez acabou época nos brasileiros do Coritiba após passagem pela Sampdoria. Ambos os clubes desceram de divisão

Na última temporada, Jesé voltou a ter mais dois pontos baixos na carreira, com passagens por duas equipas que acabaram por descer de divisão: a Sampdoria, onde esteve de fevereiro até setembro de 2023 com um golos e uma assistência em 11 jogos, e o Coritiba, onde fez um golo em seis partidas. Em ambos os clubes, à semelhança do que tinha acontecido nos turcos do Ankaragücü, depois de ter ganho uma espécie de segunda vida no Las Palmas em 2021/22, com 11 golos e seis assistências em 41 encontros na sequência da rescisão de contrato com o PSG, onde não voltou a ter mais oportunidades reais desde 2016/17 e andou a ser emprestado a vários clubes europeus em temporadas consecutivas como Stoke City, Betis e Sporting. Pelo meio, entre polémicas com a antiga e a atual mulher que foram enchendo páginas e páginas das revistas cor de rosa espanholas e sanções dos clubes por onde ia passando por não cumprir as regras da Covid-19, deixar mais cedo o estádio ou atrasar-se, o avançado passou pela música e gravou um álbum de reggaeton.

No entanto, a carreira de Jesé ficou a grande distância entre o que prometia ser e depois se tornou. Após ser um dos jogadores de maior sucesso saídos do Real Castilla, Jesé jogou na principal equipa do Real Madrid de 2013 a 2016, altura em que foi apontado algumas vezes como o sucessor de Cristiano Ronaldo. O próprio, em entrevista, assumiu que tinha como grande objetivo ganhar tudo pelos merengues (que ganhou, entre uma Liga, uma Taça, duas Champions e uma Supertaça Europeia) e ser um dia Bola de Ouro. Contudo, desde que trocou o conjunto espanhol pelo PSG por 25 milhões de euros e uma cláusula que o proibia de um dia voltar à Liga pelo Barcelona, foram mais vezes em que o futebol fintou Jesé do que aquelas em que Jesé conseguiu fintar no futebol. Assim se explica que, aos 30 anos e com este currículo, esteja sem clube.