Pedro Nuno Santos tem a experiência de uma geringonça de quatro partidos, Pedro Sánchez de oito. De Espanha, o socialista português conta “beber” dessa “experiência” mas também espera a força do trabalho “conjunto” para combater “a extrema-direita e os populismos”. Esta terça-feira os dois Pedros socialistas da Península Ibérica encontraram-se para uma conversa que serviu sobretudo ao Pedro português para colocar os socialistas como os únicos capazes de responder a crises, os que “garantem estabilidade e proteção”.

A fórmula para atacar estas eleições está escolhida por Pedro Nuno Santos e passa por aproveitar, desde já, o cenário de “incerteza” deixado pelo próprio Presidente da República da mensagem de Ano Novo para colocar o PS como a solução única. “Os portugueses sabem bem a forma como o PS foi lidando com as crises e como a direita lida com as crises. Temos todos na memória a forma como o PSD e o CDS lidaram com a crise da dívida soberana”, disse na conferência de imprensa que se seguiu ao encontro com Sánchez.

“Precisamos de um Governo que lide com as crises da mesma maneira que os socialistas lidaram com as crises em Portugal”, disse, falando no risco de novas crises perante a instabilidade do contexto internacional: “Não estamos livres no futuro de voltarmos a ter situações indesejadas por todos. Com a certeza que os socialistas garantem a estabilidade e a proteção tal como fizemos na crise pandémica e inflacionista”. Isto depois de já ter elogiado os números do crescimento dos dois países, mas sobretudo os portugueses que atribuiu sobretudo aos anos de governação de António Costa.

O espanhol não esteve ao lado do português, que nem aos jornalistas espanhóis respondeu na língua do país que visitou. “Não tenho jeito para o portunhol”, justificou. A verdade é que as mensagens que tinha para deixar eram mesmo dirigidas aos eleitores do lado de cá da fronteira, mesmo quando a pergunta chegou em espanhol, sobre como pretende enfrentar o Chega. “O discurso que explora o ódio não é caminho para Portugal”, começou por responder, e logo de seguida acrescentou que “o PSD não conseguirá liderar Portugal sem essa aliança” com o Chega.

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Ao PS coloca-o como “partido diametralmente oposto” ao Chega e também como o único “capaz de travar o avanço dos populistas” porque “os portugueses sabem que nunca governará com o Chega”. Não tem dúvidas sobre o “franco crescimento” do partido de André Ventura em Portugal e também que o crescimento da “extrema-direita e do populismo que atravessa toda a Europa” é uma preocupação comum aos dois países. A estratégia eleitoral nesta matéria não é, de resto, muito diferente da de Sánchez nas eleições espanholas do ano passado, em que colava o PP ao Vox.

Em relação a Espanha ainda foi questionado sobre a ligação ferroviária entre Lisboa e Madrid, e garantiu que a ligação “está em curso” e não caiu no “esquecimento”. “Do lado espanhol está em curso um investimento muito importante”, de uma ligação de comboio entre Madrid e Badajoz e do lado português outra, entre Évora e Badajoz com uma velocidade média de 250 quilómetros por hora, referiu o líder socialista que teve esta pasta no Governo.

Ainda foi confrontado com a queda do país no índice de “perceção da corrupção”, numa altura particularmente delicada para a política nacional, onde não só o Governo caiu depois de o primeiro-ministro estar envolvido no processo-crime onde estará em causa o crime de prevaricação, como também caiu esta semana o presidente do Governo Regional da Madeira, também por um processo judicial onde Miguel Albuquqerque é arguido e com suspeitas de corrupção. Pedro Nuno garante que “os políticos não são todos iguais” e embora admita “preocupação com os casos” conhecidos, e aceite que isso “prejudica a confiança entre cidadãos e eleitos”, também diz ter “confiança no Estado de Direito” e “no trabalho do sistema judicial”.

Depois de Madrid, o socialista seguiu para um périplo em Bruxelas onde vai estar com os comissários europeus da família socialista, com a Presidente do Grupo da Aliança Progressista dos Socialista & Democratas (S&D), Iratxe García Pérez, com o grupo do S&D e também com a delegação socialista portuguesa no Parlamento Europeu.