Os bons resultados têm sempre a tendência de aproximar todas as partes, os rendimentos abaixo do esperado têm igualmente o pendor de afastarem um pouco mais tudo e todos. É assim na realidade de uma empresa, de um qualquer governo, de um clube de futebol. Contudo, por um sem número de razões, também existem exceções e o Sp. Braga, que no último fim de semana se sagrou campeão de Inverno após conquistar a Taça da Liga numa temporada marcada pelo regresso à fase de grupos da Liga dos Campeões, é agora um exemplo paradigmático disso mesmo como se viu ainda na receção dos minhotos ao Desp. Chaves para o Campeonato com a claque do clube, a Bracara Legion, a erguer tarjas contra o presidente António Salvador. Esse não foi o primeiro episódio de uma relação que azedou com o tempo e pode nem ter sido o último mas este sábado, na Assembleia Geral realizada no novo pavilhão dos arsenalistas, havia mais do que isso em causa.

Antes da reunião magna na manhã deste sábado, o Conselho Geral foi deixando várias explicações sobre as propostas de alterações estatutárias que seriam sufragadas pelos associados, em especial o número 2 do 110.º artigo sobre a maioria da SAD. “A alteração aos estatutos não visa permitir que o clube deixe de ter a maioria na SAD, vendendo ações. O clube não tem e nunca teve essa maioria, nem na constituição da SAD. A Câmara Municipal de Braga vendeu as ações em bolsa a terceiros. Por isso a norma tornou-se incongruente e obsoleta, desde logo porque é impossível ao clube manter uma maioria que de resto nunca teve. Esta alteração não permite, por exemplo, que a Direção passe a ter mais poder sobre a alienação de ações na titularidade do clube, nem retira qualquer poder sobre o tema aos sócios”, destacou em comunicado.

Havia mais alterações a sufrágio, que mexiam nas candidaturas a eleições aos órgãos sociais, nos votos em Assembleia Geral e no próprio símbolo, mas era essa questão da maioria do capital social da SAD que ia prendendo todas as atenções, com as claques a apelarem à participação na AG. “Será um dia de extrema importância para o futuro do nosso clube, talvez um dos mais importantes das últimas décadas. Em causa estão propostas de alteração significativas, que poderão mudar para sempre os destinos do nosso emblema. Apelamos a todos que se mobilizem e façam os possíveis para comparecer”, defendeu a Bracara Legion. “Esta é a jornada mais importante, não só do Campeonato, como do futuro do nosso clube como o conhecemos, por isso a melhor forma de conquistar os três pontos é a adesão em massa e o voto com consciência. Assim, a presença de todos os associados é obrigatória”, apontaram também os Red Boys.

A adesão cumpriu essas expetativas, com mais de 1.250 associados presentes na sala, mas a proposta acabou por não votada. Razão? Depois do discurso de António Salvador, presidente dos minhotos, a tentar explicar de novo o que estava em causa, seguiram-se várias intervenções críticas de associados e o Conselho Geral considerou ser melhor retirar a proposta antes da votação, como confirmou depois através de um comunicado. “O SC Braga informa que, durante a Assembleia Geral Extraordinária, o Conselho Geral decidiu retirar a proposta por si elaborada, que visava deliberar sobre a alteração dos Estatutos do Sporting Clube de Braga. Esta tomada de decisão cumpriu-se após a auscultação das diferentes sensibilidades demonstradas pelos sócios durante o período aberto a questões e comentários, as quais levaram ao entendimento por parte do Conselho Geral de que grande parte dessas reflexões deveriam ser vertidas num esforço conjunto que visa o processo de alteração dos Estatutos do SC Braga”, referiu, entre a divulgação dos números de presentes: “1.256 associados e o equivalente a 9.689 votos (7,72% do universo total de sócios elegíveis para votar)”.

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“Mesmo discordando de algumas referências que o Conselho Geral optou por manter e apresentar, afirmo a minha concordância com o documento como um todo. Faço-o por entender que ele cumpre aquele que julgo ser o seu grande objetivo: por um lado, proteger e preservar o centenário Sporting Clube de Braga; por outro, responder aos desafios do presente e antecipar e preparar o clube que seremos no futuro. Os sócios aqui presentes serão, como sempre, soberanos. Mesmo considerando que deve ser dado este passo, não radicalizo o discurso nem alego que qualquer outra decisão coloque em causa a visão e o projeto que nos têm orientado ao longo dos anos”, tinha referido António Salvador no discurso inicial, citado pelo O Jogo.

“Da minha parte, tenho muito claro que o futuro deste e de qualquer outro clube português não se compadece com imobilismos, receios ou fraquezas. Quero dizê-lo expressamente e com a consciência do registo histórico destas palavras: é irrealista pensar-se que o Sporting Clube de Braga do passado pode garantir o crescimento e a glória do Sporting Clube de Braga do futuro. Sem abertura para o debate e para a mudança, muito do que foi alcançado ao longo dos anos será perdido irremediavelmente. Lideranças temerosas e hesitantes, saudosas de fórmulas passadas e de êxitos idos, conduzirão o clube à irrelevância e à estagnação. Tendo consciência das inúmeras mudanças que estão a ser operadas no contexto nacional e sobretudo internacional, estou absolutamente convicto de que emblemas com a dimensão do nosso vão ter o seu espaço ameaçado se não forem capazes, como fomos até aqui, de encontrar caminhos alternativos que garantam a sua competitividade e a sua sustentabilidade”, prosseguiu o líder minhoto.

“Quero também referir-me ao tão discutido artigo 110, relativamente ao qual não posso deixar de notar um movimento de desinformação e até de algum desconhecimento. Falo da posição maioritária do clube na SAD. Não vi ainda referido no debate que se a atual referência existe, ela deve-se à iniciativa de uma Direção por mim presidida. Devo recordar que a atual redação foi introduzida em 2015 e nunca antes os estatutos tinham balizado a participação do clube na SAD. Evocando esse período, o espírito do texto estava diretamente relacionado com a participação devida pela Câmara Municipal e visava pressionar um compromisso desta para com o clube numa eventual cedência ou venda das suas ações, priorizando o Sp. Braga (…) Não alinho em conspirações, remeto-me aos factos. O Sp. Braga é hoje mais independente e autónomo do que era quando há mais de duas décadas me dispus a servir o clube e a SAD”, concluiu António Salvador.