Um apelo ao voto útil no PS e uma promessa: o perfil de fazedor “não é só conversa”. Pedro Nuno Santos usou esta terça-feira um almoço com a Confederação do Turismo de Portugal para responder a algumas das questões mais difíceis que lhe serão colocadas na campanha que tem pela frente, das garantias que pode dar para uma garantia estável de governação às “cicatrizes” e erros que traz dos seus tempos como ministro das Infraestruturas.

Quanto à governabilidade, o presidente da confederação, Francisco Calheiros, fez desde logo questão de deixar uma provocação inicial, frisando que afinal a maioria absoluta não foi nenhum garante de estabilidade. E Pedro Nuno aproveitou a deixa para deixar o seu apelo ao voto útil: só haverá um governo com estabilidade “se o PS tiver uma grande vitória”, assegurou. Uma grande vitória não é necessariamente uma maioria absoluta, uma fasquia que o PS não se atreveria a colocar neste momento e que o próprio reconheceu não ser “credível” para nenhum partido — mas é uma vitória confortável, que lhe assegure que consegue governar.

O recado serviria de ponte para a farpa mais direta que lançou sobre o PSD durante o almoço. “Sejamos sérios: o líder do meu principal adversário diz que não governa se ficar em segundo lugar, nem governa com o Chega. Mas então não tem forma de governar”.

Prosseguia assim a estratégia do PS de garantir que o PSD só tem hipóteses reais de governar ao lado do partido de André Ventura — um discurso que poderá tornar-se mais difícil de defender se, nos Açores, José Manuel Bolieiro conseguir concretizar a sua intenção de governar em maioria relativa, sem fazer acordos com o Chega.

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Quanto ao PS, nem pensar em acordos nesta altura, nem mesmo os que o Bloco de Esquerda lhe pede publicamente que discuta ainda antes das eleições: se Pedro Nuno disse “quase apostar” que nenhum dos empresários presentes na sala teria visto a situação da sua empresa piorar entre 2015 e 2019, anos da geringonça, rapidamente cortou essa memória sentenciando que neste momento “não estamos nesse ponto”. Ou seja, o “ponto” atual serve para passar só uma mensagem — “O Governo será mais estável quanto mais força tiver o PS” — e deixar conversas sobre acordos com outros partidos para depois.

A promessa de não “perder um segundo” sobre aeroporto

O outro ponto que Francisco Calheiros fez desde logo questão de trazer à conversa foi a questão do aeroporto, na qual até está alinhado com Pedro Nuno Santos. Ou seja, o responsável do Turismo acredita que o líder socialista “teve toda a razão” quando tentou, sem sucesso, decidir sobre a nova localização quando ainda era ministro, com o famigerado despacho que António Costa acabaria por revogar menos de 24 horas depois.

Ora, apesar de na altura ter feito um pedido de desculpas público pela decisão tomada e revogada, atualmente esse é um dos pontos que Pedro Nuno apresenta para justificar a fama de fazedor com que se apresenta a eleições. Mais uma vez, o socialista disse e repetiu que quer “decidir”, fazer “o país avançar”, parar de “arrastar os pés”; comparou-se aos empresários, que também têm de ser “arrojados”, arriscar e cometer erros; e lamentou que na política, ao contrário do que acontece com os empresários, um agente possa manter-se durante muito tempo “sem decidir e reformar”.

A sua “atitude perante a vida e a governação”, fator que o “distingue” de outros políticos, não é essa, reforçou, gracejando sobre a decisão do aeroporto: “Eu já tinha feito uma tentativa… [de decidir]”. E, voltando a lamentar a “incapacidade” de decidir que o país mostrou até aqui, mantendo um aeroporto “esgotado” que afasta os turistas, prometeu que se for primeiro-ministro não vai “perder um segundo” a pôr a nova infraestrutura em marcha, até porque “nenhuma localização vai ter a maioria do apoio”. “De que é que Portugal está à espera?”, atirou.

A mochila da TAP e a “incoerência” sobre a SATA

Outra cicatriz que lhe ficou marcada na pele graças ao seu percurso foi a da TAP — e também fez questão de falar sobre ela. Por um lado, para assumir que houve erros e coisas que correram mal e que o processo de reestruturação foi “difícil”, resumindo a experiência assim: “A TAP é uma mochila que carrego e carregarei para o resto da minha vida”, assume.

Por outro, fez questão de lembrar os resultados com que, ainda assim, a empresa acabou por ficar depois de ter passado pela gestão pública. “Continua a ser um tema usado contra mim porque houve coisas que correram mal, é verdade. Mas caramba, pegámos numa empresa que estava falida, pusemo-la a funcionar e a dar dinheiro”, recordou.

As críticas que recebe pelo seu papel relativamente à empresa são injustas e parciais, sugeriu logo de seguida, pegando no exemplo da SATA, uma intervenção muito menos criticada apesar de ter valido 10% do PIB dos Açores: “É esta incoerência e dualismo que caracteriza a política em Portugal”.

Ninguém se queixa e ninguém diz nada” sobre a SATA, reclamou, apontando o dedo ao silêncio da direita sobre o assunto. “E continua a dar prejuízo. Nós na TAP, apesar de tudo, pusemo-la a dar lucro. Com a diferença de que aqui éramos nós e nos Açores era a direita toda junta”.

Uma última prova de que consegue mesmo ser um “fazedor”: a ferrovia, tema que tratou enquanto era ministro. “Eu falo de fazer, não quero que pensem que é só conversa, porque não é só conversa“, assegurou, antes de pegar em vários exemplos, da requalificação de comboios que estavam parados (e que agora circulam por zonas como o Douro, ajudando o turismo — “Qual Toscânia! O Douro é mesmo das regiões mais bonitas do mundo”) à compra de comboios novos, ou à obra em “quase toda a linha ferroviária” nacional. Mais uma vez, a garantia de que tem obra feita para provar que sabe mesmo decidir e reformar: “Estão em obra, não é invenção, não é conversa, estão em obra!”.

Perante os empresários do Turismo, Pedro Nuno Santos deixou a promessa de que estará “ao lado” do setor e elogios ao trabalho do privado, assegurando que “o Estado não quer nem vai atrapalhar” — só ajudar. Para isso, terá de vencer as eleições de março.