As batalhas continuam, a cruzada passou agora a ter um tempo limite (pelo menos na atual liderança). Num dia em que Aleksander Ceferin voltou a dirigir duras críticas à criação de uma Superliga Europeia e a tudo o que a mesmo comporta a nível de promessas para os clubes potencialmente interessados, bem como haverá a luz verde pelo Congresso da UEFA para um novo modelo das provas europeias desenhado pelo Comité de Competições para o triénio 2024-2027, o esloveno acabou por deixar uma “bomba” que promete agitar o futebol do Velho Continente nos próximos tempos: não irá recandidatar-se à presidência em 2027.

“Foi algo que decidi há seis meses. A organização necessita de sangue fresco, de mudanças. Falei com a minha família, falei com os meus amigos e tenho essa decisão tomada: não seguirei na UEFA depois do ano de 2027″, apontou Ceferin no Congresso do órgão que se está a realizar em Paris e que fica mais uma vez marcado pelo impacto da Superliga Europeia naquilo que são as atuais provas como a Liga dos Campeões.

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“O futebol é uma das poucas coisas em que a Europa lidera. Temos de estar orgulhosos por isso e esse êxito assenta num modelo único, na solidariedade, nas subidas, nas descidas. Devemos proteger esse modelo, uma proteção que deve ser de todos e não apenas da UEFA em si. Há quem esteja agora a tentar pisar 70 anos de história, há aqueles que pretendem ser os salvadores mas que estão só a cavar as sepulturas. Estão a tentar mudar este modelo europeu do futebol apesar do seu sucesso. Fazem-se de vítimas quando não são mais do que predadores a formar um círculo fechado. Estão a confundir monopólio com unidade e solidariedade. Não sabem nada do que é liberdade de expressão. O futebol representa um dos símbolos da Europa e a unidade é a única coisa que nos pode salvar”, apontou o dirigente no discurso de abertura.

“O futebol não está à venda” e “nada pode mudar isso”: Ceferin diz que o futebol europeu está protegido “de projetos separatistas” 

“A história de cooperação europeia está representada em certos símbolos que são simplesmente intocáveis. O futebol europeu é um desses modelos. Nunca tínhamos visto nos tempos modernos o nosso continente tão frágil, tão fragmentado, tão fraturado. Vivemos tempos difíceis mas é a união que faz a força a todos os níveis até ao humilde campo de futebol. Parece que a União Europeia só conta com uma lei: a lei do mercado. Há pessoas que acham que podem comprar qualquer coisa, que tudo está à venda. Não é esse o tipo de sociedade que queremos transmitir aos nossos filhos, não é o tipo de Europa que os pais fundadores do continente imaginaram. Nem toda a gente pode comprar o futebol, não é o que queremos. Alguns indivíduos estão a tentar dividir-nos em nome do mercado livre, com o impulso de um desejo insaciável de gerar lucros cada vez maiores para alguns privilegiados”, prosseguiu Ceferin, sempre a visar a Superliga.

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“Percebemos que existe um ataque à UEFA. Defendemos um equilíbrio. Cada clube pode unir-se à prova que quiser e pode planear o seu desejo de fazer mais dinheiro, capital, poder e prestígio. Têm um sentimento de superioridade e de ganância, querem sempre mais e mais, querem ser superiores. A Superliga é como a maçã da Branca de Neve. Como os adeptos do futebol não são tolos, nada vai mudar. Os sonhos e os méritos desportivos não se podem comprar. Não se pode comprar a história nem os valores que fazem do futebol um jogo forte e glorioso. Temos 70 anos de história mas muitos mais para viver. Os clubes são livres de participar em novas competições se desejarem, inclusive unir-se aos seguidores da Liga Zombie, como os ingleses lhe chamam. Eu chamo-lhe a Liga da Pleonexia, de quem tem o desejo de conseguir sempre mais. Mais poder, mais capital, mais prestígio, mais qualquer coisa que alimente a superioridade…”, rematou.

Já sobre o novo formato das provas europeias, Ceferin foi mais sintético. “A próxima temporada vai colocar em marcha um novo formato de competições masculinas com mais jogos, mais igualdade, mais dinheiro. São 70 anos emocionantes e esperam-nos pelo outros tantos”, referiu. No entanto, e apesar dessa premissa, os clubes portugueses, pelo atual ranking que ocupam, poderão não ser tão beneficiados quanto isso.

O jornal A Bola faz esta quinta-feira as contas a todo o novo formato que acrescenta cerca de mil milhões a mais do que 2023/24 a nível de prémios. A distribuição passará a ser de 27,5% do “bolo” em partes iguais pelos 36 participantes na Liga dos Campeões, 37,5% pela performance desportiva na prova e mais 35% do Value, mecanismo que junta coeficiente da UEFA e market pool. Assim, a entrada na fase de grupos vai valer 18,6 milhões, três milhões a mais do que esta temporada, mas as verbas provindas do Value para as equipas nacionais dariam mais 16 milhões ao FC Porto, 15 milhões ao Benfica e cerca de sete milhões ao Sporting. Ou seja, à luz dos atuais rankings das principais equipas portuguesas, os dragões receberiam 39 milhões pela ida à Champions contra 38 dos encarnados e cerca de 30 dos leões. Também a entrada na Liga Europa e na Liga Conferência só terá um ligeiro acréscimo no montante de entrada. Contas feitas, o dinheiro a mais será para quem tiver mais força no mercado dos direitos televisivos e para quem for mais longe nas provas.