Abraços e saltos nas bancadas do Aspire Dome em Doha, muita emoção entre o selecionador Albertinho e todos os elementos da comitiva nacional, um sorriso que dizia tudo naquele atleta da pista 6 que continua a testar os impossíveis na natação mundial aos 19 anos. Diogo Ribeiro não teve a melhor partida na final dos 50 metros mariposa dos Campeonatos do Mundo do Qatar mas foi a tempo de fazer uma grande recuperação até ao primeiro lugar que o deixou inicialmente incrédulo antes de apontar para a zona da bancada onde a família fazia a festa, dar uma palmada na água que extravasou toda essa panóplia de sentimentos e ser depois cumprimentado por alguns dos adversários na decisão. Em menos de 23 segundos, e mesmo sem bater o seu recorde nacional, o jovem nadador tinha alcançado o melhor resultado de sempre de Portugal.

Mais um momento histórico que não veio só: Diogo Ribeiro sagra-se campeão mundial depois da prata em 2023

“Não tenho palavras neste momento, não sei…”, começou por soltar numa espécie de zona de entrevistas rápidas à saída da piscina. “O início não foi bom mas estou tão feliz por ser campeão mundial”, acrescentou de seguida, antes de encaminhar-se para os balneários, saudar todas as pessoas da Seleção (que iam ao mesmo tempo acompanhando Camila Rebelo para a sua meia-final dos 100 metros costas, onde acabou com o décimo melhor tempo) e vestir o fato de treino para um momento que já tinha conseguido em Fukuoka, onde foi prata na distância, mas que agora tinha outro sabor por estar no lugar mais alto do pódio.

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[Ouça aqui as declarações de José Miranda, presidente da Federação Portuguesa de Natação, à Rádio Observador]

Presidente da Federação Portuguesa de Natação: “É um feito histórico para a natação”

Com a presença de Sara Al-Kubaisi, diretora de operações destes Mundiais de Doha, Diogo Ribeiro subiu ao pódio menos de uma hora depois da histórica vitória, levantando o braço a agradecer os aplausos antes de ir cumprimentar de novo Michael Andrew e Cameron McEvoy e receber a medalha de ouro e a respetiva mascote da competição. Seguiu-se o hino nacional, com o nadador português de mão no peito e lágrimas nos olhos a aproveitar o momento de consagração que é também o seu maior momento de uma carreira curta que abre horizontes ainda maiores pelos 19 anos e que mostrou algo que não deixa de ser percetível perante o trajeto alcançado nos últimos três anos: começa a conviver de forma mais natural com estas consagrações.

Ao sair do pódio, depois das habituais fotografias com os restantes medalhados, Diogo Ribeiro aproveitou a entrega de uma recordação para atirar a mesma para a zona onde estava Teresa, a sua mãe, e a namorada, Matilde, antes de falar a treinadores, nadadores e demais elementos do staff que estavam num palanque perto da piscina e que lhe entregaram uma bandeira de Portugal para levar na mão até à saída.

“Esta primeira medalha de ouro para Portugal é incrível. Fui prata no último Mundial por isso conseguir agora o ouro é algo que já ambicionava porque estava na primeira posição na startlist e consegui confirmar isso. É espetacular porque não se trata só de passar à final é chegar lá e fazer. Ouvir o hino nacional é sempre arrepiante em qualquer pódio e num Mundial absoluto é super gratificante e fico mesmo contente de ter acontecido”, comentou Diogo Ribeiro em declarações à Federação Portuguesa de Natação.

“Sei que não fiz uma boa partida. O salto gostei mas depois o subaquático fiquei a ondular quando já estava em cima da água e por isso senti logo que alguma coisa tinha falhado, mas depois fui com o coração e fui para dar esta vitória aos portugueses por isso penso que acabou por ser uma prova bem conseguida e por isso o importante foi vencer. Este resultado não é um trabalho de um ano mas sim de há três anos: no primeiro consegui a o Mundial de Juniores, no segundo a medalha no Mundial absolutos e chegar ao terceiro ano e conseguir uma medalha de ouro para Portugal no Mundial absolutos é muito bom, sentindo que consegui melhorar estes anos todos e tenho margem para melhorar e ficar perto do recorde mundial é um objetivo que coloco na minha carreira”, acrescentou ainda o jovem nadador nacional.

Federação entusiasmada com o “feito histórico” de um “atleta especial” em ano olímpico

Poucos minutos depois da conquista de Diogo Ribeiro, José Machado, diretor técnico da Federação Portuguesa de Natação (FPN) esteve à conversa com a Rádio Observador desde Doha confessando que Portugal ter um campeão do mundo na natação “era impensável há muito pouco tempo”, embora considere que “Diogo Ribeiro é indiscutivelmente o nadador mais rápido dentro de água” nos 50 metros mariposa.

“A partida não foi boa, o atraso foi significativo para os principais adversários, mas o ritmo com o que o Diogo conseguiu nadar, e principalmente a chegada que foi fantástica, fizeram a diferença. É tudo uma questão de muitos pormenores. A partida não foi boa e é uma dificuldade porque o Diogo é mais pequeno que os adversários. O atraso com que ele ficou na parte inicial fez-nos duvidar que isto fosse possível, mas depois, em termos de nado, foi excecional”, detalhou o diretor.

José Machado recordou que Diogo Ribeiro “era o principal favorito” para esta final, já que “foi vice-campeão do mundo há cerca de sete meses” e, no Qatar, “o campeão do mundo não esteve presente”. Ainda assim, a pressão e os “holofotes” colocados sobre o atleta português podiam “dificultar mais as coisas”, mas o nadador de 19 anos demonstrou que é “um atleta especial” pela “forma como reagiu”.

José Miranda, presidente da FPN, também em declarações à Rádio Observador, definiu a conquista como um “feito histórico para a natação portuguesa”. O presidente federativo, que não esteve em Doha esta segunda-feira, considerou que o ouro do nadador do Benfica começou a ser construído há muito tempo.

“É fruto de um grande investimento que temos feito nos últimos anos. Temos no Diogo um grande atleta, que tudo tem feito e tudo tem dado no cumprimento do seu dever e das apostas que temos feito para nos dar esta alegria. Para nós é um orgulho muito grande termos um nadador português no lugar mais alto do pódio. Aquilo que dizemos aos atletas é que todos nós somos feitos da mesma massa, portanto se os outros conseguem, nós também conseguimos. O Diogo Ribeiro, assim como foi a Angélica [André] com o terceiro lugar [na prova olímpica dos 10 km em águas abertas], demonstram efetivamente que quando queremos nós conseguimos”, acrescentou José Miranda.

Quanto ao futuro e já pensando nos Jogos Olímpicos, que decorrem no próximo verão em Paris, a dupla da FPN está confiante num bom resultado. “O Diogo é um atleta extraordinário e tem todas as condições para ser ainda melhor. Ainda é um jovem atleta, tem muito pela frente e certamente muitas mais alegrias para nos dar”, afirmou José Miranda. Ainda assim, José Machado alertou que precisam de estar “reunidas todas as condições” e é necessário “pensar pouco a pouco”, relembrando que o jovem nadador “esteve no pódio nos últimos Mundiais e depois não conseguiu estar presente em nenhuma das restantes finais”.

[Ouça aqui as declarações de José Machado, diretor técnico da Federação Portuguesa de Natação, à Rádio Observador]

Natação. Diogo Ribeiro é um “atleta especial”