Thomas Hitzlsperger teve uma carreira de mais de uma década ao mais alto nível. Passou pelo Aston Villa, ganhou a Bundesliga no Estugarda, esteve na Lazio, no West Ham e no Wolfsburgo e deixou os relvados ao serviço do Everton. Pelo meio, somou mais de 50 internacionalizações pela Alemanha e esteve no Euro 2008 e no Mundial 2010. O motivo pelo qual entrou para a história, porém, surgiu um ano após acabar a carreira — quando se tornou o jogador mais high profile a anunciar que era homossexual.
Passou uma década desde que Hitzlsperger revelou a orientação sexual. De lá para cá, segundo as contas do próprio alemão, só sete outros antigos jogadores revelaram a homossexualidade — e nenhum com a sua preponderância. Atualmente com 41 anos, o antigo médio participou no documentário “O Último Tabu” da Amazon Prime e deu uma entrevista ao jornal Bild onde garantiu que o assunto ainda é tema proibido entre os próprios jogadores.
“Fala-se do assunto, mas os jogadores não saem do armário e não se identificam como nada. É um tabu dentro de campo e é um tabu no balneário. Na Alemanha nem sequer existe um jogador ativo que tenha assumido a homossexualidade. Por muito que a sociedade respeite a orientação sexual de cada um, quando se trata dos atores principais, dos jogadores, há um problema. Só existem sete profissionais homossexuais em todo o mundo e isso é um pouco pequeno”, começou por dizer.
Hitzlsperger recordou o caso de Jakub Jankto, internacional checo do Cagliari que revelou ser homossexual há cerca de um ano, e explicou que pode servir de exemplo. “Falou sobre o assunto publicamente uma única vez e não voltou a falar do tema desde então. Acho que serve para percebermos todos que não tem de ser um grande assunto”, atirou o antigo internacional alemão.
“Não me quero esconder mais.” Jakub Jankto, internacional checo, assume homossexualidade
Na entrevista, Hitzlsperger explica que tinha namorada há oito anos quando percebeu que era homossexual e que até estava noivo, compromisso que acabou por romper pouco antes de tornar pública a orientação sexual. “Comecei a ter certezas quando fui para a Lazio, em 2010. Até aí nem sequer conseguia imaginar que eu, entre todas as pessoas, pudesse ser gay. Mas já não podia reprimir os meus sentimentos. Não foi simples, porque nem todos os que me rodeavam acharam que era uma coisa boa”, revela o alemão, que garante que esteve muito perto de abrir o coração enquanto ainda jogava.
“Foi em 2012, quando estava no Wolfsburgo. Mas o meu advogado disse-me que não podia falar do assunto em circunstância alguma. Ouvi-o e pensei que não podia dizer nada. Foi ele que me desaconselhou a sair do armário naquela altura. Mas também precisava de tempo para ter a confiança necessária para gerir a atenção. Mas sim, gostava de o ter feito antes. Até porque tenho curiosidade sobre como teria sido voltar ao balneário ou pisar o relvado pela primeira vez depois de contar”, indica o antigo jogador, que foi diretor desportivo e CEO do Estugarda após deixar os relvados e atualmente é comentador televisivo.
Olivier Giroud diz que é “impossível assumir a homossexualidade no futebol”
Ainda assim, uma década depois de assumir a homossexualidade, Thomas Hitzlsperger garante que não faz um “balanço negativo” da forma como a abordagem ao tema tem evoluído. “Os clubes, por exemplo, agora têm um posicionamento muito mais claro. A diversidade está a receber muito mais atenção e discussão pública. Na Bundesliga e na Bundesliga 2 praticamente todos os clubes têm uma claque LGBTQ+. Não se pode negar o progresso. Acho que os homossexuais, de uma forma geral, temem a exclusão e a discriminação na sociedade, não apenas no futebol profissional”, terminou.