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Finn Bennett: “Jodie Foster ensinou-me a levar o trabalho a sério, mas a não nos levarmos a nós tão a sério”

Este artigo tem mais de 6 meses

Em "True Detective: Night Country", é o braço direito da protagonista; na vida real pede conselhos à atriz veterana. Antes do final da temporada (esta segunda-feira), falámos com o ator britânico.

Jodie Foster e Finn Bennett, numa das cenas de "True Detective: Night Country"
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Jodie Foster e Finn Bennett, numa das cenas de "True Detective: Night Country"

Jodie Foster e Finn Bennett, numa das cenas de "True Detective: Night Country"

[Este artigo pode conter spoilers. Se ainda não viu o quinto episódio de “True Detective: Night Country” e não quer saber detalhes, não leia mais]

É dele a cena mais intensa de True Detective: North Country. Num dilema intenso que o coloca entre um pai abusivo e pouco carinhoso e uma mentora que é uma figura materna, embora também ela pouco carinhosa, Peter Prior dispara sobre o primeiro. Aos 25 anos, Finn Bennett nunca tinha trabalhado num projeto tão carismático ou tido um papel tão importante. Passou meses a preparar-se para o momento em causa (que aconteceu no quinto episódio) mas, chegada a altura, nada correu como estava programado.

Para interpretar Peter Prior, o agente que é o braço direito (e pau para toda a obra) da chefe de polícia Liz Danvers (Jodie Foster), o jovem ator teve aulas intensivas para perder o sotaque de Londres, onde cresceu, e começar a falar como alguém do Alaska rural, além de ter passado horas ao telefone com um jovem local que inspirou a personagem.

É no Alaska que tudo acontece nesta quarta temporada de True Detective, escrita e realizada por Issa López. Na história, Liz Danvers tem de resolver as mortes sinistras de um grupo de cientistas, precisando da ajuda do leal Prior (que acaba virado contra o pai Prior, um polícia corrupto interpretado por John Hawkes) e da antiga parceira, Evangeline Navarro (Kali Reis).

A forte presença feminina nesta produção teve uma grande influência no ator britânico, que perdeu a mãe aos 14 anos, e é às colegas com quem se cruzou aqui que continua a recorrer quando precisa de conselhos sobre a carreira. Com True Detective: North Country a chegar ao fim (falta apenas o sexto episódio, que se estreia esta segunda-feira, 19 de fevereiro), o Observador falou com Finn Bennett sobre a experiência.

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[o trailer da quarta temporada de “True Detective”:]

O quinto e penúltimo episódio termina com a cena mais intensa da sua personagem nesta história. No entanto, no momento de filmá-la, correu tudo ao contrário. Como foi essa experiência?
Filmámos esta cena no final da temporada e eu andava a mentalizar-me há meses. [Chegou o momento] e eu apanhei Covid-19. Estive isolado durante 10 dias, basicamente a deambular pelo meu quarto e a pensar como seria a cena. Ligava para o set e mostravam-me os cenários e os ângulos num iPad. Lembro-me de estar incrivelmente nervoso no dia em que filmámos. É uma cena muito difícil, tive de entrar nela devagar, metodicamente, e fazer aquilo que tínhamos ensaiado, mas também encontrar coisas novas. Tive de tomar conta de mim também, ter a certeza que bebia muita água e comia coisas saudáveis. Foi mais ou menos assim o processo.

Foi o momento mais desafiante desta personagem?
Não acho que tenha havido cenas mais difíceis ou mais fáceis. Acho que temos de abordar as coisas exatamente da mesma forma em cada ocasião, dando o nosso amor, dedicação e tempo a cada uma das cenas. Diria que essa foi mais difícil pelo conteúdo, há alguém a levar um tiro. Lembro-me muito bem dela por isso.

Há pouco disse que estava muito nervoso nesse dia. Sentiu o mesmo nervosismo no primeiro dia no set, já que era o primeiro papel numa série desta magnitude?
O primeiro dia foi realmente o pior, não dormi na noite anterior. A primeira cena foi na pista de gelo. Lembro-me de me levantar de manhã, de ir com o motorista, vestir a roupa da personagem, ir para a maquilhagem e cabelo e depois ver este ringue incrível, que era gigante. A câmara estava numa grua e foi aí que pensei: “Meu Deus, acho que nunca fiz nada tão importante”. A quantidade de pessoas envolvidas, era tudo muito impressionante, sabe? Disse a mim mesmo: “Isto é mesmo a sério, tens de ser mesmo profissional”. Mas, muito rapidamente, deixámos de ser demasiado profissionais porque as pessoas são tão simpáticas e amáveis. Acabámos por nos divertir. Formámos laços incríveis com algumas pessoas e, quanto mais confortáveis estamos com elas, mais fácil fica.

Finn Bennett e John Hawkes, os Prior — filho e pai — que protagonizam uma conturbada relação ao longo de todos os episódios

A relação entre quem está num set é sempre imprevisível?
É engraçado porque, num trabalho normal, trabalhámos com as mesmas pessoas durante um longo período de tempo. As pessoas podem ir embora e encontrar outras coisas, mas é bastante estável. No trabalho de ator, em cada projeto, é quase toda a gente nova, 200 ou 300 pessoas entre elenco e equipa técnica. No início estamos completamente sozinhos. Até deixarmos de estar. [Neste caso] foi muito intenso porque filmávamos seis dias por semana e estávamos num país que não era o nosso, ficamos muito próximos. Tivemos muita sorte porque estávamos felizes e confortáveis uns com os outros.

Esta temporada foi filmada na Islândia, embora a ação decorra no Alaska. Vejo que tem um chapéu a dizer “Alaska” [a cabeça de Finn Bennett está coberta com um boné amarelo torrado do estado norte-americano], mas nunca lá foi, certo?
Foi-me dado pela Grace [Anderson], que interpreta a Lulu, que é a rececionista da esquadra de polícia. Ela vive no Alaska e este é o meu chapéu da sorte para as entrevistas. Ainda não fui ao Alaska, mas pretendo fazê-lo.

Para preparar a personagem inspirou-se num homem que vive, de facto no Alaska, Peej. Como é que o conheceu?
A Issa [López], showrunner e realizadora, conheceu o Peej quando estava no Alaska a fazer pesquisa para escrever a série. Ele é um tipo novo que não é do Alaska, é de algures no sul. É um pastor, não um polícia, que conheceu a mulher no secundário. A mulher é indígena, eles são um casal novo e têm agora um filho com cerca de dois anos. Penso que foi por isso que a Issa quis apresentar-nos. Ali estava um jovem que tinha casado com uma nativa, com quem tem um filho, e vive no Alaska rural. Para mim, que cresci numa das cidades mais movimentadas do mundo, era um universo longínquo. Portanto, falei com ele sobre a vida lá, foi muito importante. Falávamos durante uma hora ao telefone, todas as semanas, até ao início das gravações.

“True Detective: Night Country”. O regresso numa noite demasiado longa (apesar de Jodie Foster)

Perdeu a sua mãe muito cedo. A mãe do Peter Prior também é uma figura inexistente na história. Por outro lado, esta temporada tem uma forte presença feminina, desde a showrunner às duas protagonistas (Jodie Foster e Kali Reis). O paralelismo ajudou ou desencadeou alguns gatilhos em relação à sua própria história?
Contrariamente ao Peter, eu tenho a sorte de ter mulheres que admiro na minha vida. Todas estas mulheres que me ensinam coisas não me desencadeiam gatilhos, sinto-me um privilegiado na presença delas. Chamo-lhes colegas porque não quero impor-me ao ponto de me caracterizar como amigo mas, para mim, são muito importantes. Respeito-as muito e, profissionalmente, podemos aprender muito com elas. Quando estou um pouco confuso sobre o que devo fazer a seguir, pego no telefone e ligo à Issa. Até liguei à Jodie há um par de semanas. Posso não ter mãe e isso vai sempre deixar-me triste, ninguém pode preencher esse vazio, mas tenho estas mulheres incríveis e isso é ser sortudo.

Já admirava a Jodie Foster antes de trabalhar com ela. Na série ela é uma espécie de figura maternal para o Peter Prior, embora nem sempre o trate bem. O que é que esta ligação e a própria Jodie Foster lhe ensinaram?
Quando lhe perguntei o que ela fazia para se preparar e o que eu devia fazer ao ir para casa, uma das coisas que ela me disse, e que é das minhas preferidas, foi: “Vê um filme, vai dançar, vai ao cinema ou encontrar-te com outras pessoas”. Ela queria que eu me divertisse. Um dia estávamos a trabalhar até tarde e perguntei que filme devia ver quando chegasse a casa. Ela disse: “Já viste Team America: Polícia Mundial [filme de animação dos criadores de South Park]”? Acho que isso foi o mais importante que aprendi com ela. Ensinou-me a levar o trabalho a sério, mas a não nos levarmos a nós tão a sério.

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