Nem tudo foi como devia ser, também não andou longe disso mesmo. A FC Porto SAD tinha anunciado que os resultados do primeiro semestre do exercício 2023/24 seriam divulgados a 14 ou 15 de fevereiro, acabaram por ser tornados públicos no dia 19. Pinto da Costa garantira na apresentação da sua recandidatura que iria para capitais próprios positivos já nesta apresentação de contas, a realidade acabou por adiar esse cenário pelo menos por mais três meses. No entanto, os tais “resultados francamente positivos” foram conhecidos esta segunda-feira, com a sociedade azul e branca a apresentar um lucro de 35 milhões de euros ainda com os capitais próprios negativos a 8,5 milhões, algo que deverá ser ultrapassado através da Champions.
“A Futebol Clube do Porto – Futebol, SAD apresenta, no primeiro semestre do exercício 2023/2024, um resultado líquido consolidado francamente positivo e uma melhoria substancial dos seus capitais próprios a 31 de dezembro de 2023. O Resultado Líquido consolidado do primeiro semestre é de 35 milhões de euros. Este resultado não inclui ainda os 9,6 milhões de euros relativos ao prémio de acesso aos oitavos de final da UEFA Champions League, garantido em dezembro passado, uma vez que, dando cumprimento às normas internacionais de contabilidade (IFRS), esta verba só será contabilizada no terceiro trimestre deste exercício”, começam por destacar a sociedade portista no comunicado enviado esta manhã à CMVM.
Em paralelo, a FC Porto SAD explica como recuperou quase 170 milhões nas suas contas. “Na sequência do acordo estabelecido com uma prestigiada empresa internacional, foi realizada uma avaliação ao ‘valor de mercado’ dos cash flows gerados pelo Estádio do Dragão, por uma conceituada empresa internacional – Crowe (Crowe Advisory PT) –, que apurou o valor de 279 milhões de euros. Assim, foi contabilizado: um incremento nos Ativos fixos tangíveis, na diferença entre o valor apurado dos cash flows gerados pelo Estádio do Dragão e o montante pelo qual este imóvel se encontrava registado: 167 milhões de euros; um Passivo por impostos diferidos, que considera o impacto fiscal da diferença entre justo valor contabilístico e fiscal do Estádio: 35 milhões de euros; uma reserva de reavaliação correspondente à diferença entre o impacto no Ativo e no Passivo, que fez aumentar os Capitais Próprios em 132 milhões de euros”, refere.
“O Ativo, que se situa nos 504 milhões de euros em 31 de dezembro de 2023, reflete um aumento global de 148 milhões de euros face a 30 de junho, principalmente devido ao incremento nos ativos fixos tangíveis, justificado pelo registo da avaliação acima referida. O passivo, mesmo tendo em consideração o impacto da contabilização dos imposto diferidos referentes à reavaliação do Estádio, de 35 milhões de euros, diminuiu 20 milhões de euros. Esta redução assenta essencialmente na diminuição do valor global dos empréstimos, em 85 milhões de euros, o que representa um corte de 28%, face a 30 de junho de 2023, do passivo remunerado do Grupo. Juntando o efeito da reavaliação do Estádio aos resultados apresentados ao semestre, o capital próprio consolidado da Futebol Clube do Porto – Futebol, SAD recuperou 167,5 milhões de euros, atingindo em 31 de dezembro de 2023 o valor negativo de 8,5 milhões de euros. Com o registo dos 9,6 milhões de euros do acesso aos oitavos de final da UEFA Champions League, os capitais próprios ficariam positivos em 1,1 milhões de euros”, adianta ainda sobre o tema a SAD portista.
“A Futebol Clube do Porto – Futebol, SAD acordou com uma reputada empresa internacional, com reconhecida experiência na otimização das receitas comerciais relacionadas com grandes equipamentos desportivos, uma parceria que será consubstanciada na participação minoritária numa das empresas com os direitos comerciais do Grupo FC Porto e num investimento inicial com vista a modernizar o Estádio do Dragão, potenciando assim as receitas com ele relacionadas. Do acordo estabelecido, resultará ainda a participação financeira de um montante estimado entre os 60 e 70 milhões de euros, a realizar no quarto trimestre deste exercício, que impactará diretamente nos capitais próprios da FC Porto – Futebol, SAD”, acrescenta ainda o comunicado, abordando não só o acordo com a Legends pela exploração do Estádio do Dragão (que foi público) mas também a parceria com a Sixth Street (que detém a Legends), ao que tudo indica, pela alienação de parte da sociedade com os direitos comerciais do Grupo FC Porto.
“Os Proveitos operacionais, excluindo proveitos com passes de jogadores, atingem agora os 108 milhões de euros, crescendo assim cerca de cinco milhões de euros relativamente ao primeiro semestre de 2022/2023, verificando-se aumento em várias rubricas, particularmente nas Provas UEFA, principalmente devido ao aumento do valor relativo à distribuição baseada na posição do FC Porto no ranking dos últimos dez anos. Os Custos operacionais, excluindo custos com passes, diminuíram aproximadamente seis milhões de euros, que assentam no decréscimo dos custos com pessoal, pelo facto de o período homólogo ter incluído a atribuição de um prémio de acesso à UEFA Champions League 2022/2023 na qualidade de campeões nacionais”, diz ainda o comunicado enviado à CMVM que resume todas as contas do primeiro semestre.
“Os resultados com cedência de passes de jogadores voltaram a ter a habitual preponderância nos resultados do Grupo, contribuído com 39 milhões de euros para o resultado deste primeiro semestre de 2023/2024. Os Resultados operacionais são assim positivos, em 52 milhões de euros, o que representa um acréscimo considerável relativamente ao alcançado no primeiro semestre de 2022/2023, que foi de 1,4 milhões de euros”, completou o comunicado, neste caso referindo-se à venda de Otávio a Al Nassr.
“Não há contabilidade criativa nem antecipação de receitas”, destaca Fernando Gomes
Após a apresentação dos Resultados do primeiro semestre do exercício de 2023/24, Fernando Gomes, que é o administrador da SAD azul e branca com o pelouro financeiro desde 2014, falou não só da melhoria dos números mas também da própria campanha eleitoral que tem existido no seio do FC Porto.
“As contas têm sido alvo de comentários e de escrutínio não habitual, o que não é estranho ao facto de estarmos perto de ato eleitoral. Serviu de arma de arremesso para descredibilizar esta administração. As contas semestrais referem-se a 31 de dezembro mas nunca são apresentadas dia 31 ou dia 1 de janeiro. Estranho ver a 2 de janeiro perguntarem onde estavam os resultados financeiros. Ao contrário de anos anteriores, as contas estão a ser apresentadas antes do final de fevereiro. E o que o presidente tem vindo a dizer confirma-se integralmente”, começou por comentar o dirigente portista em conferência.
“Não há contabilidade criativa nem antecipação de receitas. Tudo o que tem sido dito é uma falácia. (…) O que se disse até aqui, esperamos que apenas por falta de informação, tem a ver com os capitais próprios. Tínhamos objetivo de atingir capitais próprios esta época e temos reduzido bastante já este semestre. Disse-se que representava uma perigosa antecipação de receitas, André Villas-Boas disse que estávamos a antecipar 15 anos de receitas e direitos televisivos para lá de 2028. Tínhamos comprometido tudo até 2028 e já estávamos a negociar para lá. Não é verdade. Não estamos a comprometer receitas dos próximos 15 anos”, apontou ainda Fernando Gomes, visando desta vez de forma direta o adversário de Pinto da Costa antes de explicar a operação que foi feita com a Legends, que já tinha sido apresentada no ano de 2023.
“O FC Porto negociou mais de um ano com um grande grupo, tão grande que na Europa fechou duas operações, uma no Real e outra no Barcelona. O terceiro é o FC Porto. Se não fosse interessante para os investidores, o FC Porto não era procurado. Estes parceiros juntaram-se como sócios num negócio. Não compram participações financeiras no FC Porto, formam uma sociedade para explorar toda a área comercial do Dragão. Surgiu um incremento de receitas grande que os levou a investir no FC Porto. Temos a Porto Comercial, que é a responsável pelas vendas de merchadising, as lojas, a bilhética, catering, naming, camarotes, sponsors, publicidade. E a que acordo chegámos? A Porto Comercial vai ser retirada das lojas. Cria-se uma nova empresa, ainda sem nome, que é constituída por 70% do FC Porto e 30% do parceiro. Para entrar nesta sociedade, o FC Porto entra com o marketing, o catering, naming e bilhética e os nossos parceiros com uma importância entre 60 e 70 milhões de euros. Está a ser feita uma avaliação do valor real ainda. Estes valores serão entregues ao FC Porto em junho”, explicou Fernando Gomes.
“Aos que nos acusaram e andaram a delapidar… Este exercício vai ainda receber no segundo semestre e pago em junho 60 a 70 milhões de euros, que vão diretamente para os capitais próprios. É a constituição de uma sociedade. Não antecipamos nem vendemos, estamos a criar e a acrescentar valor. Qualquer das projeções feitas demonstram que, logo no primeiro ano desta nova sociedade, os resultados garantem que 70% dos nossos valores são mais do que os 100 por cento de hoje devido ao crescimento do negócio. No final deste exercício, teremos mais de 60 milhões de capitais próprios positivos. Já aconteceu e é apenas um problema de registo contabilístico. O grande objetivo, que era passar de resultados negativos pontuais da época passada para positivos e alterar os capitais próprios está atingido. Não vai ser, já está”, salientou.
FC Porto SAD encaixa 54,3 ME com antecipação de receitas televisivas
“O Otávio foi vendido por 60 milhões de euros. As condições de pagamento eram: 20 milhões na assinatura de contrato, que foi cumprido, 20 milhões a pagar a 1 de julho 2024 e 20 milhões a pagar em 1 de julho de 2025. Logo na altura consultámos os principais parceiros internacionais em matéria de financiamento, foi-nos dito que não haveria dificuldades no desconto da operação. Precisávamos de antecipar os 40 milhões que faltavam para ocorrer a despesas nesta época. Para nossa surpresa, essa operação foi tudo o que não esperávamos em termos de liquidez”, abordou também o administrador sobre “a” venda da época.
“Os bancos que inicialmente nos garantiram que não haveria problemas começaram a notar no Al Nassr desorganização na sua estrutura financeira e administrativa, incapaz de corresponder à exigência do banco. Não era difícil conceber que o contrato que fizemos tinha uma rubrica em que o Al Nassr se comprometia a assinar notificação de qualquer banco, para pagar ao banco em vez de ao FC Porto. Contra todas as expetativas isso, não se conseguiu. Tivemos que ir atrás da correção desta falta de liquidez prevista no planeamento financeiro. O que tínhamos à mão eram os direitos televisivos, fomos buscar os direitos de dois anos. Não descontámos o Otávio, em 1 de julho, no pagamento de 20 milhões não devemos também conseguir o adiantamento dessa operação”, acrescentou Fernando Gomes a esse propósito.