O sargento da GNR Josias Alves, que está em greve de fome há 15 dias em frente à Câmara do Porto, disse esta terça-feira à Lusa que já perdeu 14 quilos e que sente estar a atingir o seu limite.

“Estou a atingir o meu limite, já perdi 14 quilos, já não me aguentarei muito mais tempo. Já está complicado para mim”, admitiu Josias Alves, que se encontra visivelmente debilitado.

O objetivo do protesto do militar da GNR é “não só conseguir ordenados correspondentes à condição socioprofissional”, como também protestar contra “as pressões e perseguições” de que alegadamente tem sido vítimas, disse o militar da GNR, que tem permanecido numa tenda de campismo, montada em frente à Câmara do Porto. “É óbvio que estou aqui por minha demanda, mas também por todos eles [PSP, GNR e Guarda Prisional] e a forma como foram perseguidos”, afirmou.

Desde o dia 6 de fevereiro, há precisamente 15 dias, que o sargento Josias Alves ingere, “apenas, sumos naturais, água das pedras, que tem forte concentração de cálcio e de sódio, para manter o cérebro a funcionar, e bebida de amêndoa, para a concentração de proteínas e de lípidos”, contou.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Sinto que a minha capacidade cognitiva já não é a mesma”. Militar da GNR continua em greve de fome em frente à Câmara do Porto

“Todos os dias noto que já me encontro a perder capacidade cognitiva, mesmo a minha capacidade de discurso já não é a mesma, portanto, sinto que estou a ficar um bocadinho mais fraco”, sublinhou.

Admitiu desistir se “a saúde não permitir avançar mais”, ou “se, eventualmente, os políticos entenderem que está na altura de darem as respostas que há muito deviam ter dado”, disse Josias Alves, pai de um adolescente de 14 anos a quem considerou estar a dar “um exemplo de que deve lutar por aquilo em que acredita”.

“Acho possível obter as respostas que desejamos, se houver vontade e determinação política. Estão a esquecer-se que também somos votantes e que, se tivermos em conta não só aqueles que estão no efetivo, mas também os que estão na reserva, na reforma e na pré-reformas e se considerarmos as famílias, podemos ser 500 mil. Ora, isto faz pender a balança eleitoral. Se calhar, era boa ideia dizerem, claramente, quais são os planos para estes profissionais”, considerou.

Questionado pela Lusa, o sargento da GNR contou que recebe diariamente a visita do oficial de dia do Comando Territorial do Porto, encarregado de enviar o relatório diário para o comandante geral da GNR e a de profissionais do centro clínico: “Para ver se não me dá qualquer coisinha má”.

Tem também “recebido apoio do INEM, dos Bombeiros Voluntários, localizados a poucos metros da Câmara do Porto, que ainda no domingo fizeram um eletrocardiograma”, além dos colegas das diversas forças de segurança e da sociedade civil, que “têm sido incansáveis”.

À Lusa considerou ainda estar a ser vítima de “ações discriminatórias” por parte da GNR, referindo, entre outras situações, a notificação que recebeu na segunda-feira excluindo a sua candidatura ao Curso de Promoção Oficial da Classe de Sargentos, alegadamente por não ser mestre em Direito. “Tenho mestrado em Criminologia, pós graduação e sou doutorando, em Direito, na Universidade Portucalense, estando à espera que seja marcada a defesa da minha tese. Posso dar aulas a mestrandos de Direito, mas não posso concorrer para melhorar a minha situação profissional”, disse.

Josias Alves admitiu a desvinculação da GNR, “à semelhança do que aconteceu com outros colegas”, estando a ponderar seguir outra carreira, na área do Direito, nomeadamente na docência.

Atualmente colocado no Pelotão de Apoio de Serviços, Josias Alves, 44 anos, do Marco de Canaveses, pretende com a seu protesto “alertar” a sociedade civil para o “desespero” dos profissionais da GNR, da PSP e da Guarda Prisional.

O sargento, que chegou a comandar o Posto Territorial da GNR de Aveiro, Cacia, Vila Meã e de Alpendorada e a ser coordenador da Proteção Civil de Marco de Canaveses, defende a necessidade de existir hierarquia, que julga “absolutamente necessária”, mas assume ser contra a utilização da “repressão” e da “pressão tirânica” para com aqueles que lutam pelos seus direitos.

A Lusa pediu esclarecimentos sobre a situação de Josias Alves ao Comando Geral da GNR, mas, até às 13h, não recebeu resposta.