Comecemos pelo final e pela festa que se viveu no Pavilhão João Rocha. Durante alguns anos, exceção feita ao período em que se sagrou bicampeão (2017 e 2018), o andebol foi sempre uma modalidade “entalada” no Sporting. Não tinha o mediatismo do futsal, não tinha aqueles adeptos devotos por convicção como o hóquei em patins que seguiram a equipa desde a 3.ª Divisão até ao regresso ao principal escalão, também não era nova como o regressado basquetebol, não goza de uma equipa feminina que possa trazer muita gente aos seus jogos como o voleibol. Ou seja, é uma modalidade histórica, aquela que até ganhou o referendo feito em 1995 quando Pedro Santana Lopes era presidente, cresce ao mesmo ritmo de uma Seleção que continua a impressionar em cada grande competição internacional mas não sentia o apoio e as assistências que achava merecer. Esse paradigma, no último ano e meio, mudou. E esta noite foi um exemplo disso mesmo.

No final da penúltima jornada da segunda fase da Liga Europeia, um Pavilhão com lotação esgotada (ainda que não totalmente preenchido mas com todos os bilhetes possíveis vendidos) aplaudia, cantava e saltava com o plantel verde e branco a festejar o apuramento para os quartos da Liga Europeia. A empatia com a atual equipa comandada por Ricardo Costa é evidente, o facto de liderar o Campeonato também ajuda, mas todos tinham consciência que se acabara de fazer mais história para o clube e para o andebol português, sendo que em termos europeus os leões já ganharam a Taça Challenge mas nunca a Liga Europeia.

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Já depois da surpreendente vitória na Alemanha frente ao Füchse Berlin por 32-31 depois de ter saído para o intervalo com uma desvantagem de seis golos (19-13), o Sporting sabia que um triunfo iria carimbar o acesso à fase seguinte mas que uma derrota por dois golos seria também o fim do sonho europeu. Questão: pela frente estaria não só o atual líder do Campeonato germânico, um dos mais fortes e competitivos da Europa, mas também o campeão em título da competição. Em vez de 60 minutos históricos, teriam de ser 120. No final, foram. E novo triunfo por 32-28 deixou fora da passagem direta um dos candidatos ao título.

Após o empate ao intervalo a 17 golos numa primeira parte em que o Sporting chegou a ter quatro golos de vantagem (9-5), os alemães, obrigados a ganhar no Pavilhão João Rocha, entraram melhor no segundo tempo e conseguiram chegar a avanços de dois golos (19-17 e 20-18) mas os leões conseguiram empatar num período de menor eficácia das duas equipas e ganhar o equilíbrio que parecia estar ameaçado, partindo a partir daí para 20 minutos finais de eleição até ao triunfo final igualando a maior margem (32-28).

Martim Costa, que marcara 12 golos em Berlim, voltou a ser o melhor marcados dos leões com nove golos, seguido de perto pelo ponta islandês Orri Þorkelsson (oito), pelo irmão Francisco Costa (quatro) e pelo pivô Edy Silva. Em destaque esteve também o guarda-redes argentino Leonel Maciel, que foi titular em vez do norueguês André Kristensen e terminou o encontro com uma eficácia de 37% (15 defesas em 41 remates).

“Sabíamos que poderíamos ser melhores do que no jogo em Berlim e conseguimos isso com a defesa na segunda parte, pois Leo Maciel foi decisivo. Tivemos mais baliza que o Füchse, mantendo um ritmo alto, pelo que os últimos dez minutos foram mais difíceis para o adversário. Ficamos muito felizes por seguir em frente e sonhamos com a Final Four mas temos os pés bem assentes na terra. Podemos ganhar a qualquer equipa, mas também podemos perder. Estar nos quartos é importante, evita-se uma eliminatória, é bom para a gestão dos jogadores”, comentou no final da partida o técnico dos leões, Ricardo Costa.