Três semanas depois, o regresso ao mesmo terreno de jogo, a jogar contra o mesmo adversário e a apresentar a mesma equipa a não ser que alguns desses elementos esteja lesionado e não possa entrar na ficha oficial. O FC Porto voltava aos Açores para terminar o encontro com o Santa Clara a contar para os quartos da Taça de Portugal, depois do ensaio falhado de tentar jogar futebol no meio de tantas piscinas que se iam formando com a chuva ininterrupta que assolava São Miguel a 7 de fevereiro, e a fazer uma partida “diferente” por ter início logo com 27 minutos disputados. Em três semanas, muito mudou. E eram todas essas mudanças que serviam de contexto para os 63 minutos em falta, sem margem de erro e numa fase delicada para a equipa.

Nesse encontro, aquilo que sobrou além de um cartão amarelo a Pepe logo nos dez minutos iniciais por uma falta que teve origem num passe de Francisco Conceição que ficou preso na água e podia originar um lance de perigo para os açorianos, quase não houve nem jogo, nem balizas. Evanilson ainda ficou perto de desviar um cruzamento de Wendell da esquerda mas chegou com um ligeiro atraso (16′), Vinícius Lopes aproveitou um passe longo de Pedro Ferreira para beneficiar também das condições do relvado, bater Diogo Costa mas ver o golo anulado por fora de jogo (19′), o mesmo Evanilson apareceu em boa posição na área descaído sobre a esquerda após passe de Nico González mas a tentativa saiu ao lado (24′). O banco do FC Porto, que desde o início mostrava sinais de impaciência perante a inevitabilidade de haver uma suspensão do encontro, estava à beira de um ataque de nervos até que o árbitro Gustavo Correia parou mesmo a partida. Foi de vez.

Dois amarelos, um remate, um golo anulado e muita água: os 27 minutos de um Santa Clara-FC Porto que na verdade nunca existiu

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Daí para cá, os azuis e brancos conheceram alguns dos pontos mais altos e baixos da presente temporada. No jogo seguinte, na deslocação a Arouca para o Campeonato, a equipa mostrou a sua pior versão nas transições defensivas e acabou por sofrer a quarta derrota na prova sofrendo pela primeira vez três golos, naquilo que foi mais um golpe nas aspirações de conquistar o título. Mais tarde, a receção ao Arsenal na primeira mão dos oitavos da Liga dos Campeões trouxe o melhor que os dragões conseguiram fazer em termos táticos, com uma exibição a roçar a perfeição que acabou coroada com um golo nos descontos de Galeno. Agora, antes da viagem para os Açores, mais um “rombo” no barco azul e branco com capítulos “anormais” na realidade FC Porto, com o Gil Vicente a tirar mais dois pontos com o golo do empate marcado aos 90+4′.

Não sendo matematicamente impossível, o primeiro lugar do Campeonato ficava cada vez mais complicado (tal como o segundo, o último que confere acesso à terceira pré-eliminatória da Champions) e este domingo haverá uma primeira final com a receção ao Benfica no Dragão onde qualquer resultado que não seja a vitória pode acabar de vez com esse objetivo. Em paralelo, numa realidade que não atinge diretamente a equipa mas que acaba sempre por chegar também ao ambiente que se vive no universo azul e branco, o clima eleitoral é cada vez mais latente e os Relatórios e Contas são analisados como nunca foram desde a sua existência. Por tudo isso, em paralelo de manter em aberto a possibilidade de reconquistar a Taça de Portugal, o FC Porto estava “obrigado” a ganhar e um qualquer outro resultado poderia condenar de vez a temporada.

Ficha de jogo

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Santa Clara-FC Porto, 1-2

Quartos da Taça de Portugal (recomeço aos 27′)

Estádio de São Miguel, em Ponta Delgada (Açores)

Árbitro: Cláudio Pereira (AF Aveiro)

Santa Clara: Marcos Díaz; Lucas Soares (Andrezinho, 88′), Sidney Lima, Luís Rocha, Pedro Pacheco, Paulo Henrique (MT, 83′); Klismahn (Yannick Semedo, 83′), Pedro Ferreira; Bruno Almeida (Safira, 72′), Vinícius (Ricardinho, 72′) e Rafael Martins

Suplentes não utilizados: Gabriel Batista, Rafael Santos, Ageu e Sema Velázquez

Treinador: Vasco Matos

FC Porto: Diogo Costa; João Mário (Danny Namaso, 46′), Fábio Cardoso, Pepe, Wendell; Nico González (Grujic, 90+1′), Alan Varela; Francisco Conceição, Pepê, Galeno e Evanilson (Iván Jaime, 78′)

Suplentes não utilizados: Cláudio Ramos, Otávio, Eustáquio, André Franco, Gonçalo Borges e Toni Martínez

Treinador: Sérgio Conceição

Golos: Rafael Martins (27′), Evanilson (52′) e Galeno (61′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Pepe (8′), Vinícius Lopes (21′), Klismahn (64′) e Pedro Ferreira (86′)

Apesar disso, pior início era impossível. Depois da entrada atípica das equipas, a irem de imediato para a zona onde iria ser recomeçada a partida no ataque do Santa Clara, os açorianos mostraram que tinham um plano desenhado especificamente para esse momento e o FC Porto nada conseguiu fazer para travar o mesmo que provocou a surpresa em meros dez segundos: lançamento no lado direito do ataque dos açorianos, desvio na zona do primeiro poste, primeiro remate de Pedro Pacheco a ser defendido por Diogo Costa e recarga de forma oportuna de Rafael Martins, a aparecer entre os centrais para desviar para a baliza dos dragões. Sérgio Conceição, sentado no banco, nem queria acreditar no que se estava a passar. E se fossem necessários mais sinais do momento conturbado que a equipa atravessa, os mesmos acabavam de ficar expostos (27′).

Pouco depois, também na sequência de um lançamento lateral e com o vento a dar um contributo extra na trajetória, Pepe desviou de cabeça ao primeiro poste e Marcos Díaz defendeu de forma apertada para canto (31′). No entanto, fruto de mais uma desconcentração coletiva das que raramente aconteciam em equipas de Sérgio Conceição, estava a perder. E a resposta não foi apenas nesse lance do capitão de 41 anos, a jogar com uma touca na cabeça após ter sido suturado no último jogo em Barcelos: o FC Porto desenhou uma linha a três com Pepe, Fábio Cardoso e João Mário à esquerda, colocou Pepê à direita mas a jogar por dentro com bola para dar a largura a Francisco Conceição e subiu os dois médios no apoio a Evanilson. Alan Varela ainda teve um desvio de cabeça na área que saiu muito ao lado, Evanilson viu um remate potencialmente perigoso bater num defesa e sair para canto, o intervalo chegaria mesmo com os visitados na frente.

Danny Namaso e Toni Martínez ficaram no relvado em exercícios de aquecimento mas era no balneário que estava a discutir um momento que poderia assumir grande importância para o que falta da época. As contas não jogavam a favor dos azuis e brancos, com apenas uma vitória em quatro jogos anteriores a sair a perder para o intervalo e quatro triunfos nos 12 encontros até aqui em que sofreu o primeiro golo, mas havia um histórico recente de jogos sem derrotas na Taça de Portugal (17) e, sobretudo, uma questão de orgulho por resolver. Até a forma como o golo de Rafael Martins tinha sido consentido “exigia” uma outra face no segundo tempo, que deixou de ter João Mário para a entrada de Danny Namaso com o regresso a uma linha de quatro na defesa e o regresso ao 4x2x3x1/4x4x2 assumido com Pepê e Wendell nas duas laterais e a dupla Francisco Conceição e Galeno a dar largura pelas alas no apoio aos avançados Evanilson e Namaso.

As mudanças táticas e sobretudo o colocar da equipa num esquema mais habitual foram importantes para a melhoria mas a maior alteração foi mesmo a atitude dos azuis e brancos, que se transformaram durante um período de intervalo que para o FC Porto foi mais curto do que é habitual. Galeno, após passe de Evanilson, teve uma primeira ameaça a rasar o poste de Marcos Díaz (51′) mas o empate não iria demorar, com mais uma recuperação de zona alta dos dragões que foi parar a Francisco Conceição para assistir Evanilson e o remate do avançado desviar ainda num defesa contrário para passar por cima do guarda-redes da casa (52′). Não ficaria por aí: menos de dez minutos depois, Francisco Conceição ganhou pela direita a Paulo Henrique, cruzou atrasado, Nico González falhou o remate mas Galeno não perdoou de primeira (61′).

O mais difícil estava feito, a ideia do FC Porto passava por não ficar por aí “escaldado” com o que se tinha passado em Barcelos no último fim de semana, o Santa Clara também quis mostrar argumentos para algo mais na partida depois de 20 minutos em que mal saiu do meio-campo. Nessa “luta”, os açorianos foram a tempo de mostrar de novo outra face, com Safira a ser lançado para o ataque e a não demorar a fazer mossa na estrutura defensiva portista com um lance em que ficou perto do empate após má saída a cruzamento de Diogo Costa e um remate ao poste após canto (77′). Ficava a grande ameaça à baliza dos portistas até ao final em mais um susto a um FC Porto que continua sem gerir resultados como fazia antigamente. Ainda assim, sobrou a reação após o intervalo, o regresso às vitórias e a passagem às meias-finais. E sobrou, mais uma vez, o verdadeiro espírito de um dragão que voltou a ter em Francisco Conceição, ou Chico como também é conhecido, o principal protagonista numa reação que definiu a passagem às meias-finais da Taça.