O serviço de abastecimento público de água tem perdas anuais de cerca de 184 milhões de metros cúbicos, alerta a Entidade Reguladora dos Serviços de Água e Resíduos (ERSAR) no relatório de 2023 sobre o setor.

No documento, com dados de 2022, a ERSAR diz que o indicador de perdas reais registou o valor mais baixo dos últimos cinco anos para as entidades gestoras em baixa (abastecimento ao consumidor final) mas que mesmo assim a avaliação é mediana, por se perder por ano 162,2 milhões de metros cúbicos de água na rede.

Se a esse valor se juntar as perdas no setor em alta (que faz a ligação às entidades gestoras), de cerca de 21,5 milhões de metros cúbicos, chega-se aos 184 milhões, explica-se no documento.

É com base nestes números que o Grupo Indaqua, gestor de abastecimento de água para consumo humano e saneamento de águas residuais, servindo mais de 810 mil pessoas, salienta em comunicado, esta sexta-feira divulgado, que quase um terço (27,1%) da água que entra nas redes de abastecimento é desperdiçada com roturas, avarias e desvios.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Governo aprova estratégia para abastecimento de água e gestão de esgotos até 2030

No comunicado o grupo lembra os números para dizer que os municípios que menos perdas sofrem são geridos pelo Grupo Indaqua: Santo Tirso e Trofa (8,8%), Vila do Conde (9,3%) e Matosinhos (10,8%).

O pior resultado nacional de perdas chega aos 84,6%. E de acordo com os dados da ERSAR “há 39 entidades com desperdícios superiores a 50% e 15 onde a medição nem sequer é feita. O valor recomendado pelo regulador como “bom” é de 20%”, refere o comunicado.

“Se Portugal reduzisse estas perdas, estaria a poupar milhões de litros de água que aumentariam as reservas disponíveis nas nossas albufeiras. É uma ‘fonte’ de água que estamos a desperdiçar, ao mesmo tempo que procuramos soluções que exigem investimentos muito maiores, como transvases, novas barragens ou a dessalinização e que vão produzir mais água para se perder pelo caminho e não chegar ao utilizador final”, diz o administrador do Grupo, Pedro Perdigão, citado no documento.

No relatório, a ERSAR recomenda o investimento na reabilitação de condutas, um indicador com “um dos piores resultados, em anos sucessivos”.

E alerta que a percentagem de água não faturada, “sinaliza a necessidade de se investir na alteração de procedimentos de faturação e na redução de perdas de água, em particular na baixa”.

A ocorrência de inundações na gestão de águas residuais mantém-se insatisfatória (no serviço em alta e em baixa), devendo “ser implementadas medidas preventivas de manutenção e de reabilitação de coletores pelas entidades gestoras”, diz-se no relatório da ERSAR, que sugere melhorias também para o setor da recolha e valorização de resíduos.

E face à escassez de água no país, devido às alterações climáticas, a ERSAR salienta a necessidade de se criarem sistemas de produção de água residual tratada para reutilização.

“No entanto, verifica-se que ainda são poucos os sistemas que produzem águas residuais tratadas para reutilização em Portugal continental”, constata o relatório, especificando que, contabilizando utilizações com licença, em 2022 apenas sete entidades gestoras produziram águas residuais tratadas para reutilização, correspondendo a 2,9 milhões de metros cúbicos, ou seja, a apenas cerca de 0,4 % da água residual tratada em estações de tratamento.