Um bem nunca vem só. Enquanto continuava a somar vitórias consecutivas em todas as provas em que está inserido, entre Liga saudita, Taça do Rei e Liga dos Campeões asiática, o Al Hilal foi beneficiando ainda dos deslizes do principal adversário direto, o Al Nassr, para consolidar uma distância na classificação que depois do encontro entre ambos passou para sete pontos mas que agora podia chegar aos 12 na sequência de mais uma derrota caseira de Cristiano Ronaldo e companhia frente ao Al Raed. No entanto, esse era apenas um dos aliciantes de uma partida que tinha Jorge Jesus no centro das atenções por outro feito que estava apenas à distância de 90 minutos: igualar o número máximo de vitórias consecutivas e entrar no Guinness Book.

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O último de 26 triunfos funcionou como exemplo paradigmático do ponto a que se encontra a formação que é orientada pelo português. Jogando frente ao Al-Ittihad para a Liga dos Campeões asiática, depois da vitória para o Campeonato, era normal que o conjunto de Marcelo Gallardo que conta com nomes como N’Golo Kanté, Fabinho, Romarinho, Ahmed Hegazy e os lesionados Karim Benzema, Luiz Felipe e o português Jota desse outro tipo de resposta. Tentou, não conseguiu. E bastaram apenas três minutos para o Al Hilal marcar dois golos e sentenciar a partida, levando uma boa vantagem para o encontro da segunda mão dos quartos. Seguia-se o Al-Riyadh, que poderia permitir igualar o recorde dos galeses do The New Saints.

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A época de regresso à Arábia Saudita nem começou da melhor forma a Jesus, que perdeu o primeiro título na final da Taça dos Campeões Árabes decidida pelo Al Nassr com o bis de Cristiano Ronaldo no tempo extra. A seguir, houve um empate diante do Al-Fayha, a igualdade com o Navbahor Namangan, do Usbequistão, na Champions e novo deslize diante do Damac a 21 de setembro. A liderança não estava em causa, até porque o Al Nassr começou a prova com duas derrotas seguidas, mas essa semana acabou por funcionar como rampa de lançamento para aquilo que se poderia tornar esta sexta-feira um recorde mundial. Ter jogadores como Mitrovic, Koulibaly, Milinkovic-Savic, Rúben Neves, Malcolm, Bono, Al-Dawsari, Michael ou Renan Lodi ajuda mas o Al Hilal ganhou dimensão como melhor projeto futebolístico como equipa no continente.

Depois da passagem pelo Flamengo que foi uma das uniões de maior sucesso entre um clube e um treinador na América do Sul (e que só seria batida por outro português, Abel Ferreira, no Palmeiras), Jorge Jesus teve a esperança de chegar ao patamar que sempre ambicionou na carreira de treinar uma das grandes equipas da Europa com aspirações na Liga dos Campeões. O convite não apareceu, o regresso ao Benfica foi como uma segunda vida falhada na Luz, a passagem pelos turcos do Fenerbahçe não deixou grandes recordações a não ser uma Taça mas a aposta na Arábia Saudita, querendo reassumir o cargo no Al Hilal quando o primeiro convite dirigido apontava para a seleção, dificilmente poderia trazer tanto sucesso ou notoriedade como aquilo que estava agora em causa com a procura da 27.ª vitória seguida. E, mesmo com dificuldades extra criadas por um autogolo, entrou mesmo no Guinness Book com uma série ainda em aberto.

A primeira parte do encontro mostrou que o A Hilal teria de lutar contra vários adversários num só. Logo à cabeça, e entre algumas poupanças nas opções iniciais tendo em vista a segunda mão dos quartos da Liga dos Campeões asiática, a falta de eficácia: Mitrovic falhou uma grande penalidade nos descontos já depois de ter visto um golo anulado, houve também um penálti cometido sobre Michael que foi revertido por fora de jogo e várias oportunidades desperdiçadas ou travadas pelo guarda-redes Campaña. Depois, a ansiedade que a equipa foi ganhando nesse contexto, com o Al Raed a aproveitar transições defensivas para também criar chances por Andre Gray e ter um golo anulado por fora de jogo no início da jogada. Entre tudo isso, os 57 minutos pelos 12 de descontos terminaram com um nulo e a garantia de que seria difícil não haver golos.

Houve mesmo mas com o primeiro a surgir contra a corrente de jogo: Gray ganhou a profundidade a descair sobre a direita, fez o cruzamento para a área que não levaria perigo aparente, a bola desviou no defesa Ali Al Bulayhi e acabou por passar por cima de Bono para o 1-0 do Al Raed (52′). Em desvantagem, Jorge Jesus, que já dava sinais de impaciência na zona técnica, lançou de uma assentada Rúben Neves, Milinkovic-Savic e Al Shehri em campo. Tudo mudou: Saud Abdulhamid acertou no poste sem que ninguém conseguisse fazer a recarga para a baliza, Rúben Neves empatou de grande penalidade (67′) e Campaña foi adiando a reviravolta até a um dos poucos lances em que falhou, com Michael a aproveitar para fazer o 2-1 de cabeça após mais uma assistência de Rúben Neves (72′). As contas estavam “arrumadas” mas ainda haveria espaço para mais um golo de grande penalidade, desta vez com Mitrovic a não desperdiçar e a fixar o 3-1 final (90+2′).