Naqueles dias, só se falava do fenómeno “Barbenheimer”, palavra inventada para associar os colossais sucessos de bilheteira (e de crítica) de Oppenheimer, de Christopher Nolan, sobre a vida do físico J. Robert Oppenheimer, o principal cérebro por detrás da criação da bomba atómica, e Barbie, de Greta Gerwig, a fantasia satírica e feminista em redor da boneca da Mattel. Dois filmes com praticamente nada em comum, mas que ficaram irmanados pelos lucros descomunais e, juntos, deram um verão de sonho a uma indústria cinematográfica americana a precisar urgentemente de blockbusters destes para compor umas finanças em muito pouco bom estado. E teve não um, mas dois, que faturaram abundantemente dentro e fora de portas.

Meses mais tarde, chegados aos Óscares, o “Barbenheimer” ficou para trás e só sobrou Oppenheimer. A fita de Nolan não só conseguiu mais nomeações (13 contra 8 de Barbie, tendo Gerwig ficado fora da categoria de Melhor Realização, e Margot Robbie da de Melhor Atriz), como é a favorita para ganhar a 96.ª edição dos prémios da Academia. Esta, para tentar estancar a crescente hemorragia de espectadores que dura há alguns anos (e em vez de rever radicalmente o seu modelo de espectáculo, e alijar a carga política e woke), começa uma hora mais cedo (meia noite de domingo para segunda em Portugal Continental), para não escorregar para fora do horário nobre e perder o público da costa Leste, mesmo que dure entre três e quatro horas, como costuma suceder. Como fazemos todos os anos, fazemos apostas sobre os filmes que vão ganhar e escolhemos os que deviam ganhar, nas principais categorias.   

Melhor Filme

Quem vai ganhar – Os prémios que tem vindo a colecionar e as previsões e as probabilidades apontam para uma vitória de Oppenheimer, embora haja em Hollywood quem diga que A Zona de Interesse, de Jonathan Glazer, poderá fazer uma surpresa, menos por razões de mérito cinematográfico, do que por motivos políticos enviesados (ver a situação na Faixa de Gaza).

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Quem devia ganhar – O melancólico, afetuoso, humaníssimo e superiormente escrito, realizado e interpretado Os Excluídos, de Alexander Payne.

Melhor Realizador

Quem vai ganhar – Christopher Nolan deverá, pela lógica e pela estatística, erguer a estatueta nesta categoria.

Quem devia ganhar – Não estando Alexander Payne nomeado, Justine Triet poderia aspirar à vitória, com Anatomia de uma Queda.

Melhor Ator

Quem vai ganhar Todas os olhos estão em Cillian Murphy pelo seu assombrado Oppenheimer no filme homónimo, mas o hiperativo Leonard Bernstein de Bradley Cooper em Maestro, está ali à espreita à esquina, à espera de uma oportunidade.

Quem devia ganhar Paul Giamatti, pelo seu solitário, sarcástico e amargo professor Hunham de Os Excluídos, mais uma das suas notáveis composições de losers com que primeiro antipatizamos, mas a quem depois nos afeiçoamos.

Melhor Atriz

Quem vai ganhar – Tudo indica que Emma Stone tem este Óscar garantido, por aquilo que passa por uma interpretação, mas não é mais do que uma longa, repetitiva e grotesca careta no execrável Pobres Criaturas, desse bluff chamado Yorgos Lanthimos.

Quem devia ganhar Sandra Hüller em Anatomia de uma Queda e Carey Mulligan em Maestro, ex aequo. Claro que têm personagens como deve ser para interpretar, e não um manipanso como Emma Stone em Pobres  Criaturas.

Melhor Ator Secundário

Quem vai ganhar – Robert Downey Jr, em Oppenheimer.

Quem devia ganhar – Robert Downey Jr, em Oppenheimer.

Melhor Atriz Secundária

Quem vai ganhar – Da’Vine Joy Randolph, em Os Excluídos.

Quem devia ganhar – Da’Vine Joy Randolph, em Os  Excluídos.

Melhor Argumento Original

Quem vai ganhar – Bradley Cooper e Josh Singer, com Maestro, podem aspirar a arrebatar um Óscar (o seu único da noite?) nesta categoria. Embora Justine Trier e Arthur Harari estejam também legitimamente nesta corrida com Anatomia de uma Queda.

Que devia ganhar – David Hemingson, com Os Excluídos, um modelo de escrita para cinema, qualquer que seja o lado para que se olhe para ele: veracidade dos diálogos, caracterização de personagens e sua interrelação, definição de ambientes, atmosferas emocionais, carpintaria narrativa, etc, etc.

Melhor Argumento Adaptado

Quem vai ganhar – Christopher Nolan, Oppenheimer. Mesmo que esta seja a categoria ideal para servir de prémio de consolação a Greta Gerwig e Noah Baumbach (Barbie), Jonathan Glazer (A Zona de Interesse) ou mesmo Cord Jefferson (American Fiction).

Quem devia ganhar – Christoper Nolan, Oppenheimer.

Melhor Filme Internacional

Quem vai ganhar – Eu Capitão, de Matteo Garrone, porque profusamente hemofílico da causa da emigração clandestina. Com A Zona de Interesse, de Jonathan Glazer, a rondar.

Quem devia ganhar O atualíssimo A Sala de Professores, de Ilker Çatak, que mostra a escola como um campo de batalha entre todos os seus atores – professores, alunos e pais — e o perigo de se dar demasiado poder aos discentes e de transportar para ela os mecanismos democráticos da sociedade. E tudo isto com um sentido hitchcockiano da construção e do manuseamento do suspense.

Melhor Longa-Metragem Animada

Quem vai ganhar – Aqui, é 50/50. Ou Elemental, ou Homem-Aranha: Através do Aranhaverso.

Quem devia ganhar – O Rapaz e a Garça, de Hayao Miyazaki. Mesmo não estando nos seus melhores dias, o mestre japonês bate a concorrência por KO imaginativo, narrativo, emotivo e estético.

Melhor Documentário de Longa-Metragem

Quem vai ganhar – 20 Days in Mariupol, de Mstyslav Chernov, porque assim dita a atualidade e o obrigatório apoio à Ucrânia.

Quem devia ganhar – To Kill a Tiger, de Nisha Pahuja, sobre um camponês do interior da Índia em busca de justiça para a sua filha de 13 anos, vítima de uma violação coletiva.