Roger Schmidt mudou, Roger Schmidt ganhou, nem por isso Roger Schmidt deixou de ter essa pressão por parte dos adeptos que ainda vem de uma série de três encontros consecutivos sem vitórias com a goleada no Dragão pelo meio que aumenta para apenas um triunfo em cinco jogos antes da receção ao Estoril. Se na última temporada, mesmo terminando como campeão, o técnico alemão sentiu a pressão das bancadas quando esteve quatro encontros sem vencer, agora esse estado de espírito, num misto de opções contestadas, exibições que não saíram e resultados que ficaram aquém, estava adensado. E como o futebol é um constante teste à memória curta, o desfecho da deslocação a Glasgow teria um peso extra não só para o que ficaria a faltar jogar mas também na própria perceção do trabalho feito pelo treinador.
“Estamos em março. Se queremos títulos, estas são as semanas decisivas. Estamos nesta altura em três competições, tentamos o nosso melhor em todas. Estas semanas são decisivas, é muito claro. Estamos no final da época. Temos de mostrar que merecemos ir para os quartos da Liga Europa e estamos prontos para isso, tal como acontece noutras competições, para lutar pelos nossos objetivos”, prometera o germânico no lançamento de uma partida onde poderia voltar a contar com nomes como Otamendi, João Neves, Rafa ou Ángel Di María, “poupados” entre castigos (no caso do central) e necessidade de equilibrar índices físicos.
“Agora será um jogo diferente da primeira mão. Está 0-0, não há regra de golos fora, é decisivo. O Rangers pode jogar de forma ofensiva e espero um jogo mais aberto do que na primeira parte da eliminatória. Temos de estar prontos para isso. Mas somos uma equipa que não se pode esconder, com uma ideia clara, a criar situações de golos. Temos de viver no presente. Jogámos bem na primeira mão mas temos de aceitar o empate porque o Rangers teve uma boa eficácia, com dois golos em dois momentos. Estamos forçados a trabalhar muito bem como equipa, tanto defensiva como ofensivamente”, acrescentara Schmidt, quase como um repto para a equipa para a primeira de várias “finais” que a formação encarnada terá até ao final da temporada sem margem de erro não só na Liga Europa mas também na Taça e no Campeonato.
O ambiente do Ibrox Stadium foi também um tema inevitável na antecâmara da partida mas era sobretudo naquilo que o Benfica poderia fazer que se centravam todas as atenções. Os adeptos escoceses são fiéis devotos à equipa, o Rangers viu interrompida a série de 11 triunfos consecutivos mas nem por isso perdeu a liderança da Liga, a ideia de jogo construída por Philippe Clément dificulta a missão a qualquer adversário pela intensidade que coloca ao longo dos 90 minutos mas era pelos encarnados que passava tudo. Porquê? Porque são melhor equipa, porque conseguem jogar melhor quando chegam aos níveis que podem, porque têm melhores jogadores. Era nessa prova de maturidade individual e sobretudo coletiva, que falhou na fase de grupos da Liga dos Campeões, que passava o futuro na Liga Europa – e que apareceu.
Não se pode falar de uma exibição isenta de erros, sendo que esses lapsos sobretudo defensivos nunca foram aproveitados da melhor forma por um Rangers muito descaracterizado no último terço. No entanto, olhando para o cômputo geral daquilo que o Benfica fez, o triunfo na Escócia trouxe a versão mais operária de um conjunto de jogadores que individualmente não necessitam de cartões de apresentação mas que mostraram agora uma enorme solidariedade, capacidade de sacrifício e entreajuda para colocarem o Ibrox a festejar em português mais uma vez com um golo de Rafa, que continua a pulverizar recordes pessoais de golos (vai nos 18 na presente temporada, além de 14 assistências) num ano marcado pelo final de contrato.
A primeira parte do encontro, essa, não deixou grandes recordações, quase em contraponto com o que se tinha passado na Luz na semana passada. Trubin teve uma defesa meio atabalhoada para canto num remate que parecia fácil, Aursnes atirou forte mas à figura de Butland e houve ainda uma jogada inventada à direita por David Neres que mereceu demasiada cerimónia na altura da finalização por Di María, Marcos Leonardo (a grande novidade do onze, sendo substituído ao intervalo por Tengstedt) e Rafa. Pouco entre um jogo que nunca deixou de ser intenso mas nem sempre bem jogado com o peso do resultado muitas vezes a fazer com que as equipas tivessem mais preocupações em não sofrer do que propriamente em marcar.
No segundo tempo, o Rangers entrou com a corda toda. Dessers, avançado que tinha andado escondido nos 45 minutos iniciais, conseguiu ganhar espaço na área, rematou com perigo mas a bola sofreu um desvio em Aurnes para canto. Pouco depois, na sequência de mais um ataque pelo lado direito de Tavernier, António Silva fez um corte que quase deu autogolo. Era necessário “gelo” para estancar esse momento, que chegou não só com a introdução de Kökçü em campo no lugar de David Neres mas também com o golo que acabou por decidir a eliminatória numa saída rápida em que Di María assistiu Rafa para uma corrida de 50 metros até ao remate final, o assistente assinalou fora de jogo e o VAR corrigiu a decisão porque o avançado saiu por pouco ainda do seu meio-campo (68′). A linha de meio-campo foi o fator diferenciador no golo e na eliminatória, sendo que, apesar da insistência, não mais os escoceses conseguiram mudar o rumo do jogo.