Mike Lynch, empresário outrora conhecido como “Bill Gates britânico”, começa esta segunda-feira a ser julgado em São Francisco, nos EUA, devido a suspeitas de fraude na venda da empresa de software que cofundou, a Autonomy, à Hewlett-Packard em 2011. Trata-se de um caso que os procuradores norte-americanos classificam, segundo o Financial Times, como “a maior fraude da história” de Silicon Valley”.

O empresário de 58 anos, que vendeu a Autonomy por 11,7 mil milhões de dólares, é acusado de ter falsificado as contas da empresa nos dois anos anteriores à alienação. Cerca de 12 meses depois, em meados de 2012, a Hewlett-Packard reviu o valor da aquisição em baixa, estimando-o em menos 8,8 mil milhões de dólares, e alegou que a firma de Lynch cometeu “graves irregularidades contabilísticas e falhas na divulgação de informações”.

De acordo com o The Guardian, Mike Lynch é suspeito de enganar auditores, analistas e reguladores e de ter inflacionado as vendas e as receitas da Autonomy. Além disso, é acusado de intimar aqueles que, antes da venda, manifestaram preocupação com as alegadas práticas da empresa. Ao longo dos anos, o magnata tecnológico tem-se declarado inocente argumentando que o fraco desempenho, em termos de receitas, da empresa que cofundou resultou de uma má gestão por parte da nova proprietária. “Expulsaram os 100 melhores trabalhadores e colocaram um monte de estagiários”, alegou, em 2012.

No julgamento, que começa esta segunda-feira, Mike Lynch enfrenta 16 acusações que, caso seja considerado culpado, podem levá-lo a ser condenado a mais de 20 anos de prisão. Existe ainda uma 17.ª acusação apresentada pelos procuradores norte-americanos contra o empresário britânico e Stephen Chamberlain, ex-vice-presidente do departamento financeiro da Autonomy que também será presente a juiz, por conspiração para ocultar a alegada fraude. Esta acusação não começará já a ser ouvida.

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A Hewlett-Packard pede uma indemnização de quatro mil milhões de dólares na sequência do julgamento, que deverá decorrer até ao final de maio deste ano. O The New York Times prevê que o magnata britânico tenha dificuldades em provar a inocência que tem proclamado, uma vez que o juiz já rejeitou algumas das provas que foram apresentadas pelos seus advogados e que, supostamente, mostrariam a má administração da Autonomy por parte da Hewlett Packard após a compra.

Com prémios como uma Ordem do Império Britânico pelos serviços prestados a empresas em 2006 e distinções como uma nomeação em 2011 para o conselho de ciência e tecnologia de David Cameron, primeiro-ministro na altura, Mike Lynch está em prisão domiciliária desde o ano passado, altura em que foi extraditado do Reino Unido para os EUA. De maio a novembro passou 24 horas por dia em casa, em São Francisco, sendo que nesse mês começou a ter autorização para sair das 9h às 21h sob condições restritas que não são especificadas.

Há cerca de dois anos, um tribunal britânico considerou que Lynch e Chamberlain eram responsáveis por defraudar a Hewlett-Packard. Nessa altura, o juiz responsável pelo caso disse que estava entre os “mais longos e complexos da história jurídica” britânica. Foram mais de três meses de julgamento, milhares de documentos apresentados pela defesa e pela acusação e uma decisão com mais de 1000 páginas, da qual Mike Lynch pretende recorrer.