Um grupo de 25 organizações não-governamentais (ONG) reivindicou, esta terça-feira, ser imperativo dar ajuda humanitária por via terrestre à população da Faixa de Gaza e pediu um cessar-fogo imediato perante a crise de fome que se alastra no enclave palestiniano.
Numa declaração conjunta nesta terça-feira divulgada pela Amnistia Internacional, as ONG alertam que os 2,3 milhões de palestinianos de Gaza que sobrevivem em estado de catástrofe “não resistirão apenas com o lançamento aéreo de ajuda humanitária ou com a sua chegada por via marítima”.
Por si só, “estas não são alternativas suficientes se não se considerar também a via terrestre”, defendem as organizações humanitárias, considerando “fundamental assegurar o acesso seguro e sem obstáculos de bens essenciais a partir dos pontos de passagem terrestres”.
As ONG lembram que enquanto um grupo de cinco camiões pode carregar cerca de 100 toneladas de bens essenciais, cada um dos lançamentos aéreos pode apenas dispensar algumas toneladas de ajuda.
Por outro lado, as organizações mostram-se preocupadas quanto ao risco da distribuição aérea, uma vez que “já houve relatos de, pelo menos, cinco civis palestinianos mortos devido ao lançamento de grandes pacotes com bens essenciais na Faixa de Gaza”.
O alerta das ONG — entre as quais se incluem, além da Amnistia Internacional, a Federação Internacional dos Direitos Humanos, a Oxfam, a Action Aid International, o Conselho Dinamarquês para os Refugiados ou a Médicos Sem Fronteiras — é feito um dia depois de a situação alimentar na Faixa de Gaza ter sido considerada catastrófica.
Segundo um relatório realizado por um grupo de organizações internacionais e instituições de ajuda humanitária conhecido como Iniciativa Integrada de Classificação da Fase de Segurança Alimentar (IPC), um em cada dois habitantes da Faixa de Gaza vive uma situação alimentar catastrófica, especialmente no norte.
O documento, publicado na segunda-feira, refere que mais de 1,1 milhões de habitantes de Gaza enfrentam “uma situação de fome catastrófica”, sublinhando tratar-se “do número mais elevado alguma vez registado” pela ONU com base no estudo sobre segurança alimentar no mundo.
A análise adianta ainda que o cenário ameaça espalhar-se por todo o enclave, colocando mais de dois milhões de palestinianos na mais ampla e grave crise alimentar do mundo.
“Desde o início da violência sem precedentes na Faixa de Gaza que as organizações humanitárias e de direitos humanos presentes no terreno têm sublinhado que a única forma de satisfazer as necessidades humanitárias da população palestiniana é através de um cessar-fogo imediato e permanente e do acesso seguro e sem obstáculos a bens a partir dos pontos de passagem terrestres”, afirmam as ONG no comunicado divulgado esta terça-feira.
Para estas organizações, os Estados têm de “exercer uma pressão política efetiva” que consiga “terminar com os bombardeamentos incessantes e as restrições à entrega segura de ajuda humanitária”.
Sublinhando que a situação de fome em que vivem as pessoas naquela região atingiu a maior proporção alguma vez registada numa população em crise de segurança alimentar, o grupo de ONG lembra que há famílias que não bebem água potável há meses e que passam dias seguidos sem comida.
Além disso, o sistema de saúde entrou em colapso total devido a surtos de doenças e ferimentos graves provocados pelos constantes bombardeamentos conduzidos pelas forças israelitas e a severa desnutrição e desidratação provocaram, recentemente, a morte de pelo menos 20 crianças.
Embora os Estados tenham, nos últimos dias, aumentado o envio de ajuda por via aérea para a Faixa de Gaza, os trabalhadores humanitários sublinham que as entregas de ajuda têm de ter um rosto humano até para “poder avaliar corretamente as necessidades das pessoas afetadas” e “restabelecer a esperança e a dignidade a uma população já traumatizada e desesperada”.
As ONG apontam ainda que alguns dos Estados — como os Estados Unidos, o Reino Unido ou a França — que estão a lançar ajuda humanitária por via aérea, também fornecem armas às autoridades israelitas.
“É necessário relembrar que nenhum país pode servir-se da ajuda humanitária para contornar as suas responsabilidades e deveres ao abrigo do direito internacional, incluindo a prevenção de crimes de atrocidade”, sublinham.
A guerra em curso entre Israel e o Hamas foi desencadeada por um ataque sem precedentes do grupo islamita palestiniano em solo israelita, em 7 de outubro, que causou cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns, segundo as autoridades israelitas.
Em retaliação, Israel tem bombardeado a Faixa de Gaza, onde, segundo o governo local liderado pelo Hamas, já foram mortas mais de 31 mil pessoas, maioritariamente civis.
A ofensiva israelita também tem destruído a maioria das infraestruturas de Gaza e perto de dois milhões de pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas.