Um estudo europeu esta terça-feira divulgado sobre as águas residuais de 88 cidades revela que em mais de metade (50) os vestígios de cocaína detetados nas estações de tratamento demonstram um aumento da utilização desta droga.

O estudo “Wastewater analysis and Drugs — A European multi-city study”, publicado pelo grupo europeu SCORE, em colaboração com o Observatório Europeu das Drogas e da Toxicodependência (EMCDDA, na sigla em inglês), realizado em 24 países (23 da União Europeia + Turquia) e 88 cidades, entre elas as portuguesas Lisboa, Porto e Almada, detetou em análises de Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) uma “tendência crescente” desde 2011 do consumo de cocaína.

Pela primeira vez neste estudo, que analisou amostras diárias de águas residuais durante um período de uma semana, entre março e maio de 2023 e a que a agência Lusa teve acesso, são apresentados dados internacionais fora da União Europeia (UE), como por exemplo do Brasil, Estados Unidos e Nova Zelândia.

Cerca de 55,6 milhões de pessoas foram analisadas para detetar vestígios de cinco drogas estimulantes ilícitas (cocaína, anfetaminas, metanfetaminas, MDMA/ecstasy e cetamina), bem como de canábis. Juntamente com o aumento constante das deteções de cocaína, o estudo mostra um aumento recente do uso de MDMA/ecstasy, após um quadro misto na análise anterior.

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No caso das anfetaminas e da canábis, as análises registaram padrões divergentes, enquanto nas metanfetaminas mais de metade das cidades registam uma diminuição. Apesar de as deteções variarem consideravelmente entre os locais estudados, “é significativo” que todas as seis drogas ilícitas investigadas tenham sido encontradas em quase todas as cidades participantes, adianta um resumo do estudo.

Em comparação com análises anteriores, verifica-se uma menor divergência nos hábitos de consumo de droga entre cidades grandes e pequenas. As principais conclusões do estudo apontam que os resíduos de cocaína nas águas residuais continuam a ser mais elevados nas cidades da Europa Ocidental e Meridional (em especial na Bélgica, nos Países Baixos e em Espanha), mas foram também detetados vestígios na maioria das cidades da Europa Oriental, onde se observaram alguns aumentos.

“Das 72 cidades que dispunham de dados para 2022 e 2023, 49 reportaram um aumento, enquanto para 13 cidades não existiu qualquer alteração e 10 outras registaram uma diminuição. Quando comparadas com locais de estudo fora da UE, cidades no Brasil, na Suíça e nos Estados Unidos apresentam níveis de utilização semelhantes aos das cidades europeias com valores mais elevados”, adianta o documento.

Quanto às metanfetaminas, com um consumo tradicionalmente concentrado na República Checa e na Eslováquia, esta substância está agora também presente na Bélgica, no leste da Alemanha, em Espanha, em Chipre, nos Países Baixos e na Turquia e em vários Estados do norte da Europa (Dinamarca, Lituânia, Finlândia e Noruega). Nas 67 cidades com dados relativos a 2022 e 2023, mais de metade (39) reportaram uma diminuição, 15 um aumento e 13 uma situação estável, enquanto nos restantes os valores encontrados foram e muito baixos a negligenciáveis, embora alguns aumentos tenham sido relatados nas cidades do centro e sul da Europa.

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No que se refere ao MDMA, das 69 cidades com dados em igual período, 42 comunicaram um aumento nas deteções (principalmente do sul e centro da Europa), 16 uma diminuição (principalmente no norte da Europa) e 11 uma situação estável, com os resíduos mais elevados encontrados em localidades da Bélgica, da Alemanha, da Espanha, França e dos Países Baixos. Os dados de 2023 referentes à cetamina revelaram níveis relativamente baixos nas águas residuais comunicados por 49 cidades, mas com sinais de aumento em mais de metade destas.

Relativamente à canábis, a substância mais consumida na UE, as cargas mais elevadas foram encontradas nas cidades da Europa ocidental e meridional, em especial na República Checa, Espanha, Países Baixos e Eslovénia, refere o estudo, explicando que em 2023 foram observadas tendências divergentes (20 das 51 cidades relataram um aumento em comparação com 2022 e 15 uma diminuição).

O diretor do EMCDDA, Alexis Goosdeel, sublinha no resumo do documento que “a monitorização das águas residuais é um indicador de vanguarda valioso, que permite alertar precocemente para ameaças emergentes para a saúde e para a mudança de tendências”.