Primeiro, mais um dia de sede aberta, ainda que desta vez sem as “Conversas à moda do Porto” que têm feito os últimos fins de semana. Depois, uma ida a seguir ao almoço a Esposende. De seguida, uma passagem por Vizela (neste caso com os responsáveis locais a terem uma especial atenção com o “convidado” que estavam a receber). André Villas-Boas vai cumprir de forma literal a ideia de visitar Portugal de Norte a Sul – ou até mesmo o estrangeiro, como aconteceu na recente visita ao Luxemburgo – mas, este domingo, em vésperas de marcar presença em Coimbra, acabou por ficar na zona do Norte. E foi aí, depois de uma manhã em que Pinto da Costa voltou a dirigir críticas na Casa do FC Porto da Afurada, que respondeu na mesma “moeda”, detalhando tudo aquilo que não considera estar bem atualmente na vida do clube e com uma revelação em relação à Academia que tem projetada em Gaia e à data escolhida para a apresentação.
“Uma das maiores memórias que tenho é ser campeão pelo FC Porto. Um miúdo, sócio do FC Porto desde que nasceu, que se torna treinador da equipa principal, que tudo conquista, tem um impacto emocional gigante. Quando se está na responsabilidade máxima, nessa altura como treinador, é fonte de pressão enorme e exigência tremenda, com grande custo sobretudo do ponto de vista pessoal. É duro, ninguém que sujeitar as suas famílias aceitando cargos que podem desintegrar a união familiar. Candidatura? Estes são compromissos que roçam a loucura para pessoas que têm a vida estabilizada. Os meus amigos dizem-me que perdi a cabeça… Não perdi a cabeça, é o meu timing, a hora de mudança para o FC Porto. Sinto-me com força. É de uma exigência enorme, sei que ela vem, mas o prazer das emoções é único. Não há nada que iguale a ter sido treinador e adepto do FC Porto e não haverá nada igual a ser presidente do FC Porto”, frisou.
Ninguém vem para o FC Porto para se servir do clube. Para mim é fundamental servir o FC Porto, um FC Porto desprovido de interesses”, destacou André Villas-Boas.
“Em relação à Academia, que fique bem claro que, se esta candidatura não ganhar, e isto está no nosso programa, tudo o que nós temos relativamente à nossa opção de construção da Academia, cedemos ao FC Porto. O contrato de promessa de compra e venda está feito comigo, a nível pessoal. Se o FC Porto alguma vez precisar que eu passe este contrato, ou faça uma cedência de posição, ou se rescindir, não há problema nenhum e passaremos este projeto para outra candidatura se a Maia levantar problemas e se a outra candidatura gostar do que temos para apresentar em breve. Temos opiniões bem diferentes, como vocês sabem, ou se não sabem, a candidatura do Jorge Nuno Pinto da Costa prefere a Academia na Maia e nós temos a preferência pela construção de um centro de alto rendimento em Gaia”, começou por explicar.
“A equipa principal do FC Porto precisa de novas instalações, para uma equipa profissional da elite de futebol europeu, as instalações atuais também já não são as mais modernas. Portanto, construímos umas novas, modernas para eles e movíamos a formação para o Centros de Treinos e Formação Desportiva (CTFD) do Olival, porque assim temos uma taxa de ocupação sobre estes cinco campos muito maior, ou seja, nas camadas jovens não há horários de treino conflitivos por questões de privacidade. Ao colocar a equipa principal, a equipa B e os Sub-19 neste Centro de Alto Rendimento, estamos a garantir, em primeiro lugar, unidade. E resolvíamos também o caso do hotel de estágios da equipa, ficaria a estagiar ali”, adiantou sobretudo um projeto que deveria ser apresentado em Lisboa no dia 3 de abril, dia em que se sagrou campeão nacional no Estádio da Luz frente ao Benfica, mas que passou para 2 pelo jogo da Taça com o V. Guimarães.
“O que é que isto permite além disso? Eu construo só cinco campos, construo o hotel… Em vez de dez, construo cinco. O hotel ambos vamos construir. Um mini estádio ambos vamos construir. Construo a obra mais rápido, com menos custo e mais próxima uma da outra. O FC Porto tem mais de 29 anos de exploração do aluguer do Centro de Treinos e Formação Desportiva do Olival. Porquê que não temos aí toda a formação? Construímos melhor infraestruturas para a equipa sénior, ficamos em unidade, gastamos menos na construção, somos mais rápidos a construir e não estamos sujeitos a este imbróglio da Maia. O que é que é o positivo disto tudo? O positivo disto tudo é que há duas candidaturas, há duas opções, se calhar o Nuno Lobo lança a sua em breve, teremos três, que ganhe a melhor e que ganhe a melhor solução”, prosseguiu, entre críticas às promessas adiadas a esse propósito por Pinto da Costa “desde as eleições de 2016”.
No entanto, foi na parte do futebol que surgiram as principais “farpas” ao atual líder dos azuis e brancos, de novo com a questão financeira mas também dos agentes que têm feito mais negócios com a formação dos dragões. “Os nossos ativos são os nossos jogadores e são eles que nos vão garantir a sustentabilidade financeira. O dia 27 de abril já vem tarde, depois há 15 dias para a tomada de posse e já vem tarde também. Na sombra já estamos a trabalhar relativamente ao futuro para, depois, podermos operar melhor no mercado. Temos que ter uma equipa competitiva a lutar pelo título. Sei que vão exigir isso, principalmente no primeiro ano em que tudo vai ser novidade. Tenho de ser capaz disso, com os recursos que tiver à minha disposição. Daí a importância da direção desportiva, do scouting“, apontou André Villas-Boas.
“Há jogadores que estão a ser obrigados a assinar por determinado agentes, seja para renovar, seja para continuar a jogar. Isso é uma forma de pressão sobre os jovens jogadores. Cada um é livre de escolher o seu empresário, o FC Porto também é livre de pagar as comissões que quer. Uma coisa é passar mandatos exclusivos a determinados agentes para negociar com clubes, algo que o FC Porto não se livra, não tem é que entrar em custos absurdos que depois não dão retorno nenhum quando se vende. O FC Porto deve trabalhar com todos os agentes. No meu FC Porto será tudo exposto no portal da transparência, que não passa de um comunicado mais rigoroso à CMVM a explicar os custos e os investimentos. Quem não tem nada a esconder não tem problema. O que me parece mais evidente é um FC Porto cada vez mais refém de outros interesses e cada vez entra menos dinheiro”, vincou numa crítica que tem vindo a ser repetida esta semana.
Villas-Boas falou também da ideia passada numa entrevista à Rádio Renascença e ao Público de que poderia não avançar com uma candidatura em 2028 caso não ganhasse em 2024, tendo em conta que “o FC Porto está numa situação limite”. “O que eu digo é que o FC Porto de 2028 para 2032 será diferente se o presidente for reeleito. É uma altura decisiva para o FC Porto. Por gratidão já não podemos aguentar mais quatro anos. Essa é a mensagem fundamental para os sócios. O FC Porto, atualmente, e o que está a ser projetado de 2024 a 2028, é refém de alguns interesses presentes na lista contrária. Este FC Porto não tem a ver com o FC Porto de Pinto da Costa, que conhecemos e os princípios bases do FC Porto. Com 500 milhões de passivo estamos reféns de muita gente. Em 12 anos, com esta gestão, acumulámos mais de 250 milhões de passivo. Se pensarmos que os três títulos que ganhámos em sete anos se devem à sagacidade e grande brio do treinador, vemos que perdemos vários jogadores a custo zero e pagámos comissões excessivas”, realçou.