A apresentação estava marcada para a manhã desta quarta-feira no Estádio do Dragão mas os sinais de uma nova era já poderiam ser vistos antes, nomeadamente por quem transitasse na A3 fazendo o sentido Braga-Porto. Na Maia, nos terrenos que tanta polémica foram gerando na última semana, era possível observar um enorme cartaz com a inscrição “Aqui está a nascer a Academia do FC Porto” e até uma máquina pronta para avançar com o início das obras na parte que pertence à ABB, construtora que é parceira dos azuis e brancos neste projeto. E foi com essa imagem omnipresente que Pinto da Costa, já na Tribuna de Honra do estádio, aproveitou para ironizar sobre aquilo que tem vindo a ser dito pelo adversário André Villas-Boas.
“Esta Academia é um sonho de há muitos anos, é uma promessa de há quatro anos. É um prazer tê-los aqui e terem assistido à descrição desta maravilhosa utopia e deste maravilhoso chorrilho de mentiras”, começou por dizer o presidente dos portistas, após a apresentação do arquiteto Manuel Salgado. “Está à vossa frente, está visível, está a encantar-nos a todos. A mim, que há quatro anos, no início do mandato prometi que ia fazer uma academia. Pus como condição para me poder vir a candidatar que a Academia arrancasse. Foram três as condições: que passássemos aos oitavos de final da Liga dos Campeões, que saíssemos dos capitais próprios negativos e que iniciássemos a Academia. Esta Academia é, portanto, um sonho de há muitos anos e uma promessa de há quatro anos”, acrescentou em mais uma “resposta”.
“Quero, antes de fazer outras considerações, destacar duas pessoas. O arquiteto Manuel Salgado, que se dedicou a este projeto como sendo um projeto, além de profissional, de coração, porque nós estamos no mais belo estádio de Portugal, que foi uma obra sua e com a qual se identificou e o fez ser um dragão ainda com mais força. A segunda referência que tenho que fazer é ao senhor Gaspar Borges. Conheço Gaspar Borges há dezenas de anos. Dezenas. Tive sempre a melhor relação e a melhor impressão dele. E quando precisámos de alguém que connosco colaborasse, ele pôs-se inteiramente à disposição, de alma e coração, para que isto fosse avante. O seu empenho foi extraordinário, a sua visão permitiu-nos chegar a bom porto. Até há cerca de três semanas, pouco mais ou menos, sempre tratámos tudo de boca, como fazem os homens de palavra. Sempre. Sempre acordámos, tomámos os nossos apontamentos, siga”, apontou Pinto da Costa, que falou também de Fernando Gomes, administrador da SAD que está de saída do cargo uma década depois.
“Queria fazer uma referência e publicitar uma confidência em relação ao doutor Fernando Gomes. Há cerca de um ano, comunicou-me que não podia continuar no FC Porto com as responsabilidades que tinha. Talvez há mais de um ano. E eu fiquei preocupado, porque tínhamos grandes problemas, tínhamos grandes dificuldades, tínhamos este projeto em que ele foi decisivo, e ele disse-me e prometeu-me que nada sairia cá para fora e que continuaria a ter o mesmo entusiasmo que sempre teve nos dez anos que comigo colaborou. Foi o dirigente nestes meus 42 anos que, depois de ter decidido que não continuava, mais fez e mais trabalhou pelo FC Porto. Agora que vai terminar as suas funções, vai deixar de me tratar por presidente e eu a ele por doutor. Serei o Jorge Nuno e ele o Fernando, que sempre fomos antes de entrar no FC Porto. O senhor será para mim sempre uma referência e estarei eternamente grato”, destacou o líder dos portistas.
De seguida, mesmo dizendo que “considerar a Academia um triunfo eleitoral é ridículo”, Pinto da Costa foi deixando mais “farpas” a Villas-Boas. “Há três semanas tivemos que traduzir em papel tudo aquilo que combinámos, que para nós não era necessário, só quando fosse para as escrituras, porque apareceu alguém a dizer que os contratos se rasgam. E perante esse perigo, perante a ameaça de que a palavra vai ser rasgada e até os papéis, tivemos que pôr por escrito, com toda a segurança, para não haver desvios nem atrasos neste projeto”, revelou. “Li há dias que nós devíamos parar isto para depois das eleições. Isto, para mim, é absurdo, inacreditável. Então, naturalmente, em janeiro, quando já se sabia que havia duas candidaturas, não podíamos ter contratado o Otávio. Então não podíamos, há dias, ter renovado com o Galeno, que ontem [terça-feira] se estreou pela seleção do Brasil, que ficou com um contrato de mais cinco anos. Não podíamos, porque quem viesse podia não gostar do Galeno…”, voltou a ironizar.
“Temos assistido a uma campanha em que só se diz mal de tudo, está tudo mal. Há quatro ou cinco meses eu ia ser o presidente dos presidentes, deixava um legado fantástico, tinha feito uma obra de referência. A partir do dia em que decidi recandidatar-me, está tudo mal, os 2.566 títulos que ganhámos nas minhas direções já não existem, este estádio não foi feito na minha gerência, o Pavilhão também não, o Museu também não… Querem transformar o FC Porto, em vez do projeto que será o melhor de Portugal, num clube que compra uns canteiros do outro lado do rio onde não podia ser feito nem metade disto. Continuo com a mesma vontade de há 42 anos, com a mesma paixão e vontade de servir e por o FC Porto a ganhar. 2.566 títulos é pouco, temos de ganhar cada vez mais e para isso é fundamental este projeto”, concluiu.
“Este é o melhor dos fechos para um mandato, não havia melhor forma do que o arranque formal de uma infraestrutura desejada há muitos anos e necessária para que o FC Porto possa ir mais longe. É a forma de fechar com chave de ouro um mandato que foi importante para a vida do FC Porto. Neste mandato terminámos o fair play financeiro, saímos por cima e a encarar o futuro de maneira diferente. Foi também neste mandato que fechámos com um grande grupo internacional, a Legends, do grupo Sixth Street, o que implicará a remodelação total da zona VIP do FC Porto. Foi também neste mandato que tirámos discurso a quem contesta por tudo e por nada o que a administração tem feito, temos capitais próprios positivos. Foi uma honra, senhor presidente, estar ao seu lado nestes últimos dez anos”, salientou Fernando Gomes.
“Quero agradecer a confiança que o FC Porto nos dedica há mais de 20 anos. É raro encontrar cliente que tenha uma noção tão concreta do que quer, mas também com capacidade para ouvir e interagir. Neste momento o valor que já está fixo diz respeito aos movimentos de terra, que foram adjudicados por 6,9 milhões de euros. A estimativa relativamente ao custo de construção dos edifícios, da parte construída, neste momento ainda não está fechada. Portanto, o projeto de execução com toda a pormenorização ainda não está fechado. Está fechado o projeto de licenciamento, portanto que já tem este nível de detalhe que aqui foi mostrado, mas nós estimamos que ande à volta dos 40 milhões de euros. Portanto, são 21 mil metros quadrados de construção e estimamos que anda à volta dos 40 milhões”, frisou Manuel Salgado.