Na Turquia, esta já era a Supertaça da discórdia. Este domingo, porém, esta tornou-se a Supertaça que mal chegou a existir. Em Sanliurfa, já perto da fronteira com a Síria, Galatasaray e Fenerbahçe entraram em campo para disputar mais uma edição de um dos jogos mais intensos do futebol mundial — mas o encontro só durou cerca de um minuto.

A ideia de que o jogo não seria normal já era um dado adquirido. Em guerra aberta com a Federação Turca de Futebol, o presidente do Fenerbahçe já tinha ameaçado com a intenção de entrar em campo na Supertaça não com a equipa principal, mas sim com os Sub-19. Ameaça que cumpriu, já que foram precisamente as camadas jovens a representar o clube este domingo. O jogo ainda começou, Icardi abriu o marcador no primeiro minuto e o Fenerbahçe acabou por abandonar o relvado depois de os jogadores serem chamados pelo treinador İsmail Kartal. No fim, o troféu foi atribuído ao Galatasaray, que o conquistou pela 17.ª vez.

A origem da desavença entre o Fenerbahçe e a Federação tem várias vertentes. Logo à partida, um desagrado profundo com a forma como o organismo está a lidar com os incidentes que tiveram lugar no final de março: na altura, no estádio do Trabzonspor e já depois do apito final, vários adeptos da casa invadiram o relvado e agrediram jogadores do Fenerbahçe. 13 adeptos foram detidos, mas três jogadores e dois funcionários do clube de Istambul foram convocados pelo Conselho Disciplinar da Federação, algo considerado “inaceitável” pelo presidente Ali Koç.

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Adicionalmente, existe a questão do calendário. O Fenerbahçe é o único representante da Turquia nas competições europeias, estando nos quartos de final da Liga Conferência, mas a Federação tem recusado todos os pedidos de adiamento de jogos para acomodar a preparação para os compromissos europeus. A Supertaça já deveria ter sido realizada em dezembro, na Arábia Saudita, mas foi reagendada para este domingo — dias antes de o Fenerbahçe visitar o Olympiacos na competição europeia, daí a decisão de entrar em campo com os Sub-19 e poupar a equipa principal.

Em dezembro, num momento que também ficou envolto em muita polémica, a Supertaça da Turquia que esteve prestes a arrancar em Riade acabou por ser adiada por motivos políticos. Na altura, o governo da Arábia Saudita proibiu as duas equipas de entrarem em campo por camisolas de homenagem ao antigo presidente Mustafa Kemal Atatürk, por ocasião dos 100 da fundação da República da Turquia, e também não autorizou a transmissão do hino nacional do país antes do apito inicial.

“Chegámos a um momento em que o Fenerbahçe tinha enfraquecido as chances de conquistar este troféu ao não entrar em campo com a equipa principal. Isto foi feito com a intenção de defendermos os valores em que acreditamos e revoltarmo-nos contra as injustiças que sofremos. As injustiças, a conspiração de uma organização terrorista, a tentativa de assassinato da nossa equipa, a tentativa de linchamento dos nossos jogadores, os nossos campeonatos roubados pelo bullying. A nossa reação na Supertaça não é apenas sobre a data do jogo ou aquilo que aconteceu no último jogo fora”, explicou Ali Koç, referindo-se aos acontecimentos de Trabzonspor.

Confrontos em jogo na Turquia levam à identificação e detenção de 12 adeptos

“O facto de todos estes estranhos eventos acontecerem a um único clube e de esses mesmos eventos se terem tornado comuns levaram o Fenerbahçe a um ponto de rebelião. Tivemos de dar o primeiro passo dessa rebelião. A definição do mal nunca foi tão concreta, evidente e real como no relvado. Como nada é travado, o mal e aqueles que praticam o mal tornaram-se desavergonhados. O que aconteceu contra o Trabzonspor não é simples caso de hooliganismo“, acrescentou.