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Filme de Miguel Gomes candidato à Palma de Ouro do Festival de Cannes

Este artigo tem mais de 6 meses

"Grand Tour", uma produção Uma Pedra no Sapato, interrompe um silêncio de 18 anos de filmes portugueses na competição oficial de Cannes. Produtora fala em “triunfo do risco” do cinema português.

Still de "Grand Tour", o mais recente filme do realizador português Miguel Gomes, três anos depois de "Diários de Otsoga" (2021). A estreia mundial acontece no Festival de Cinema de Cannes, França, em maio deste ano
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Still de "Grand Tour", o mais recente filme do realizador português Miguel Gomes, três anos depois de "Diários de Otsoga" (2021). A estreia mundial acontece no Festival de Cinema de Cannes, França, em maio deste ano

Still de "Grand Tour", o mais recente filme do realizador português Miguel Gomes, três anos depois de "Diários de Otsoga" (2021). A estreia mundial acontece no Festival de Cinema de Cannes, França, em maio deste ano

Grand Tour, o novo filme de Miguel Gomes, está selecionado para a secção competitiva do Festival de Cannes, foi esta quinta-feira anunciado. A longa-metragem do cineasta de Tabu (2012) e As Mil e Uma Noites (2015) interrompe os 18 anos sem filmes portugueses em competição oficial pela Palma de Ouro em Cannes — a última vez foi em 2006, quando Pedro Costa ali mostrou Juventude em Marcha.

A programação integral da 77.ª edição do festival de cinema, que acontece de 14 a 25 de maio naquela cidade francesa e que abre com o novo filme do realizador Quentin Dupieux, foi revelada esta quinta-feira. Na competição oficial estão também filmes de Andrea Arnold, Jacques Audiard, Francis Ford Coppola, David Cronenberg, Coralie Fargeat, Christophe Honoré, Paul Schrader, ou Paolo Sorrentino.

Uma produção Uma Pedra no Sapato, Grand Tour tem argumento de Mariana Ricardo, Maureen Fazendeiro e Telmo Churro, além de Miguel Gomes. Tem como protagonistas Gonçalo Waddington e Crista Alfaiate, que interpretam um casal de noivos em 1918, que embarcam numa viagem pelo Oriente. “Edward, um funcionário público do Império Britânico, foge da noiva Molly no dia em que ela chega para o casamento. Nas suas viagens, porém, o pânico dá lugar à melancolia. Contemplando o vazio da sua existência, o cobarde Edward interroga-se sobre o que terá acontecido a Molly…” lê-se na sinopse enviada às redações. “Desafiada pelo impulso de Edward e decidida a casar-se com ele, Molly segue o rasto do noivo em fuga através deste Grand Tour asiático”, remata o texto. O elenco inclui, além dos protagonistas, os atores João Pedro Vaz, Jani Zhao, Lang Khe Tran, Joana Bárcia, Teresa Madruga, Cláudio da Silva, João Pedro Bénard, Jorge Andrade e Vasco Costa. A fotografia é de Rui Poças, Sayombhu Mukdeeprom e Guo Liang.

Gonçalo Waddington é o protagonista do filme, Edward, "um funcionário público do Império Britânico, [que] foge da noiva Molly no dia em que ela chega para o casamento", lê-se na sinopse de "Grand Tour"

O processo de feitura do filme começou com uma viagem por vários países da Ásia, pouco tempo antes da pandemia da covid-19 e “não segue propriamente as regras tradicionais de produção”, explica ao Observador Filipa Reis, produtora do filme. Antes mesmo da rodagem, realizador e equipa fizeram um arquivo de imagens viajando por sete países: Myanmar (antiga Birmânia), Vietname, Tailândia, Filipinas, Japão e China. Um percurso iniciado em 2019 e, mais tarde, em 2022, cheio de “aventuras”, entre elas “um vulcão em erupção” nas Filipinas, um episódio em que a “película [do filme ficou] presa no Vietname” ou um confronto com uma inesperada pandemia. “Na véspera de atravessar o barco para Xangai, a China fecha, rebenta o Covid”, recorda Reis.

A rodagem do filme propriamente dita aconteceu só em 2023, entre Portugal e Itália, e totalmente em estúdio, durante quatro semanas. Grand Tour combina imagens destes dois momentos: a viagem e a rodagem, com cenas em película de 16 milímetros.

Com um orçamento de 4,5 milhões de euros, o filme tem apoio financeiro do Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA), do Fundo de Apoio ao Turismo e ao Cinema, da Eurimages e da ZDF/ARTE e RTP. É produzido pela Uma Pedra No Sapato em co-produção com outras produtoras internacionais: Vivo Film (Itália), Shellac Sud e Cinema Defacto (França), The Match Factory (Alemanhã), Rediance (China) e Creatps Inc. (Japão). “O filme foi feito com vontade de muita gente e muitos países. Seria impossível fazer um filme desses se assim não fosse”, diz a produtora.

Grand Tour vai poder ser visto pela primeira vez no festival de cinema francês e chega às salas nacionais e francesas ainda este ano. A distribuição internacional é assegurada pela The Match Factory, importante produtora e distribuidora de cinema independente.

O filme é maioritariamente falado em português, garante a produtora ao Observador, ressalvando que há algumas falas em francês, de uma personagem franco-vietnamita, e “uma voz off nas línguas desses vários países consoante a viagem dos personagens os vai atravessando”.

Sobre a obra que agora chega a um dos mais importantes festivais de cinema no mundo, Filipa Reis descreve “um longo processo que exigia uma enorme independência em termos de produção”, só possível com “um pensar de uma maneira menos industrial de fazer os filmes e que exige uma enorme confiança no realizador”. Enquanto produtor, “arrisca-se muito”. De alguma forma, Grand Tour, diz, “é um triunfo desse risco, dessa liberdade, dessa independente que de alguma forma caracteriza o cinema português”.

É um triunfo desse risco, dessa liberdade, dessa independência que de alguma forma caracteriza o cinema português” — Filipa Reis, produtora de Grand Tour, de Miguel Gomes

Filme é a primeira obra portuguesa a concorrer à Palma de Ouro em 18 anos

Desde 2006 que um filme português não chegava à secção competitiva de longas-metragens e à possibilidade de arrecadar o mais cobiçado prémio do certame. Um facto que, para Filipa Reis, “não diz nada a não ser que há 20 filmes todos os anos na competição principal e é muito difícil para países com a nossa dimensão por um filme na competição principal.” A produtora da Uma Pedra no Sapato diz que o silêncio que este filme rompe na falta de presença portuguesa em Cannes “mais do que uma análise do cinema português”

“O facto de não estar não é porque o cinema português não tem qualidade. É porque é difícil, é muito competitivo.” “Vejo isto como um triunfo” “É mais um motivo de orgulho pelo filme que fizemos. É uma possibilidade de o cinema português ter visibilidade. Abre-nos a atenção para que outros filmes portugueses possam ser descobertos e que em Portugal leve mais pessoas às salas a ver cinema português. Nem que seja pela curiosidade de ver um filme português que esteve em Cannes.”

Este é o primeiro filme de Miguel Gomes produzido pela Uma Pedra No Sapato. O cineasta até então trabalhara com a produtora O Som e A Fúria. Filipa Reis já havia trabalhado com o cineasta em 2021, no filme Diários de Otsoga, uma produção de O Som e a Fúria e Uma Pedra no Sapato.

Miguel Gomes (1972) estreou-se na realização com a longa-metragem A Cara que Mereces (2004). Seguiram-se Aquele Querido Mês de Agosto (2008), Tabu (2012) e As Mil e Uma Noites (2015), um filme em três partes, que teve estreia na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes. O seu último filme é Diários de Otsoga (2021), co-realizado com a cineasta francesa Maureen Fazendeiro, e estreou na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes 2021 e foi filmada durante o confinamento imposto pela Covid-19 em 2020.

Esta é a seleção oficial do Festival de Cannes deste ano:

Competição Oficial

The Apprentice – Ali Abbasi

Motel Destino – Karim Ainouz

Bird – Andrea Arnold

Emilia Perez – Jacques Audiard

Anora – Sean Baker

Megalopolis – Francis Ford Coppola

The Shrouds – David Cronenberg

The Substance – Coralie Fargeat

Grand Tour – Miguel Gomes

Marcello Mio – Christophe Honoré

Feng Liu Yi Dai – Jia Zhang-Ke

All We Imagine as Light – Payal Kapadia

Kinds of Kindness – Yórgos Lánthimos

L’Amour Ouf – Gilles Lellouche

Diamant Brut – Agathe Riedinger

Oh Canada – Paul Schrader

Limonov – The Ballad – Kirill Serebrennikov

Parthenope – Paolo Sorrentino

Pigen Med Nalen – Magnus Von Horn

Un Certain Regard

Norah – Tawfik Alzaidi

The Shameless – Konstantin Bojanov

Le Royaume – Julien Colonna

Vingt Dieux! – Louise Courvoisier

Le procès Du Chien – Lætitia Dosch

Gou Zhen – Guan Hu

The Village Next to Paradise – Mo Harawe

September Says – Ariane Labed

L’Histoire de Souleymane – Boris Lojkine

Les Damnés – Roberto Minervini

On Becoming a Guinea Fowl – Rungano Nyoni

Boku No Ohisama – Hiroshi Okuyama

Santosh – Sandhya Suri

Viet and Nam – Truong Minh Quý

Fora de competição

Mad Max (Furiosa: A Mad Max Saga) – George Miller

Horizon: an American Saga — Kevin Costner

She’s Got No Name – Chan Peter Ho-Sun

Rumours – Evan Johnson, Galen Johnson, Guy Maddin

Projeções de meia-noite

Twilight of the Warrior Walled In – Soi Cheang

I, The Executioner – Seung Wan Ryoo

The Surfer – Lorcan Finnegan

Les Femmes au Balcon – Noémie Merlant

Estreias

Miséricorde – Alain Guiraudie

C’est Pas Moi – Leos Carax

Everybody Loves Touda – Nabil Ayouch

En Fanfare – Emmanuel Courcol

Rendez-vous avec Pol Pot – Rithy Panh

Le Roman de Jim – Arnaud Larrieu, Jean-Marie Larrieu

Projeções Especiais

La Belle de Gaza — Yolande Zauberman

Learn — Claire Simon

The Invasion — Sergei Loznitsa

Ernest Cole, Photographe — Raoul Peck

Le Fil – Daniel Auteuil

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