José Mourinho está sem clube desde janeiro, altura em que foi despedido do comando técnico da Roma depois de dois anos e meio, duas finais europeias e uma Liga Conferência. Mas ao contrário do que aconteceu no último período mais longo em que não teve trabalho, entre a saída do Manchester United e a ida para o Tottenham, não se tem escondido.

O treinador português tem sido presença habitual nos principais estádios da Primeira Liga, assistindo essencialmente aos jogos do Benfica, e continua a ser associado ao futuro dos encarnados num eventual cenário pós-RogerSchmidt, ao Bayern Munique e à Arábia Saudita. Aos 61 anos, Mourinho deu uma longa entrevista ao jornal The Telegraph, abordando praticamente toda a carreira, e garantiu que quer continuar a treinar — sem dar pistas sobre o próximo destino.

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“Não é como se eu tivesse 61 anos e quisesse parar aos 65. Não é disso que se trata, de todo. Ainda tenho uma carreira longa para cumprir”, atira o técnico, que aceitou recordar a histórica conquista da Liga dos Campeões com o FC Porto, em 2004, sublinhando a importância da vitória contra o Manchester United nos oitavos de final que o levou a realizar um memorável sprint desde o banco de suplentes até à linha de fundo do relvado de Old Trafford.

“Já tive muitos festejos bizarros ao longo da minha carreira, mas esse foi provavelmente aquele que mudou a direção da minha carreira. No outro dia cruzei-me com um rapaz na rua e ele perguntou-me quando é que um clube português iria ganhar a Liga dos Campeões outra vez. Disse-lhe que podemos ganhar o Europeu daqui a uns meses, porque temos uma Seleção incrível, a melhor de sempre. Mas um clube português ganhar a Liga dos Campeões? Vamos ver se acontece nos próximos 20 anos”, defende.

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José Mourinho mudou-se para o Chelsea precisamente depois de conquistar a Liga dos Campeões, no verão de 2004, e garante que a rápida adaptação ao futebol inglês fez-se a partir da convivência com Bobby Robson. “Inglaterra estava sempre presente no dia a dia dele. Mas eu sabia, a partir de um ponto de vista metodológico, que podia causar uma diferença imediata, porque a minha maneira de treinar estava muito longe do tradicional. E depois consegui não cometer erros fundamentais”, acrescenta, sublinhando a importância de ter começado desde logo a trabalhar com Frank Lampard, Joe Cole e Petr Cech, do desenvolvimento de John Terry e das contratações de Didier Drogba, Ricardo Carvalho ou Paulo Ferreira.

Tal como tem sido habitual nos últimos anos, a entrevista prende-se durante muito tempo nos anos que o treinador português passou no Manchester United — e que tão polémicos foram, entre os desentendimentos com Paul Pogba e o despedimento na primeira metade de uma temporada apesar de ter sido claramente o sucessor mais bem sucedido de Alex Ferguson. Seis anos depois de ter deixado Old Trafford, de onde saiu com três troféus incluindo uma Liga Europa, Mourinho tem uma opinião sobre o clube que encontra linhas de concordância com a já veiculada por Cristiano Ronaldo.

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“A minha relação com o Ed Woodward [antigo CEO] era boa, do ponto de vista pessoal. Ainda trocamos mensagens. Mas de um ponto de vista profissional não era a melhor relação. Eu sou quem sou, sou um homem do futebol. O Ed vem de um background diferente e eu não tive aquilo que o Erik ten Hag tem no Manchester United. Não tinha este nível de apoio, não tinha este nível de confiança. Saí triste, porque senti que ainda estava no início do processo. Ainda estão lá jogadores que eu não queria há cinco ou seis anos. Acho que representam o que eu não considero que seja o melhor perfil profissional para um clube de uma certa dimensão. Mas fiz o meu trabalho e o tempo traz sempre a verdade”, sentencia.

Por fim, Mourinho aponta ao futuro e garante que só tem um pedido: que lhe sejam exigidos os objetivos realistas, não os objetivos idealizados. “A única coisa que quero é que as metas e os objetivos sejam definidos por toda a gente de uma forma justa. Não posso ir para um clube onde, devido ao meu historial, o objetivo seja conquistar o título. Não. A única coisa que quero é que tudo seja justo. Não é possível ir para um clube que luta para não descer e ter o objetivo de ganhar a Liga dos Campeões. É bom, mas não é justo”, termina.