O Governo admitiu esta sexta-feira um “aumento preocupante” de alguns tipos de crimes em 2023 face ao ano anterior, antecipando a necessidade de “alterações às orientações estratégicas” para este ano, a incluir no Relatório de Segurança Interna, ainda em elaboração.
Em comunicado enviado nesta sexta-feira, a propósito do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) 2023, o Ministério da Administração Interna referiu que o executivo teve conhecimento do documento no início da semana, e no qual “constatou um aumento preocupante de algumas tipologias de crime registados”.
“Nessa sequência entendeu o Governo ser necessário introduzir algumas alterações às orientações estratégicas para o corrente ano, em linha com o programa do Governo. Estas estão a ser preparadas e serão integradas na versão final do RASI a aprovar no Conselho Superior de Segurança Interna, após o que será entregue na Assembleia da República para a respetiva apreciação”, lê-se no comunicado.
O jornal Expresso avançou na quarta-feira à noite que o RASI 2023 aponta para um aumento do crime de tráfico de pessoas e para a crescente violência das redes criminosas, precisando que o auxílio à imigração ilegal preocupa as polícias, sobretudo em setores como a agricultura e o futebol.
Ainda segundo o Expresso, os crimes de corrupção aumentaram 30% em 2023, tal como o número de titulares de cargos políticos constituídos arguidos por suspeitas de crimes de corrupção e prevaricação, que passaram de cerca de 30 em 2022 para 50 em 2023.
A Lusa contactou o gabinete do secretário-geral do Sistema de Segurança Interna, que afirmou que o RASI 2023 ainda não é do domínio público, por se encontrar ainda em conclusão, podendo até ao final do mês receber contributos das várias forças de segurança que fornecem dados para a sua elaboração.
A Lusa também contactou o Ministério da Administração Interna sobre o RASI de 2023, que respondeu que o documento ainda não está concluído e tem de ser aprovado em reunião do Conselho Superior de Segurança Interna. A Lusa avançou no final de março que os crimes registados pelas polícias portuguesas aumentaram cerca de 8% no ano passado em relação a 2022 e atingiram os valores mais elevados em 10 anos, totalizando 371.995, segundo estatísticas da Direção-Geral de Política de Justiça.
O destaque estatístico anual, publicado na página da Internet da Direção-Geral de Política de Justiça (DGPJ), indica que o número de crimes registados pelas autoridades policiais em 2023 foi de 371.995, mais 28.150 do que em 2022, quando se verificaram 343.845 crimes.
As estatísticas mostram igualmente que desde 2013, quando ocorreram 376.403, que não se registavam em Portugal tantos crimes como em 2023. A DGPJ avança que os crimes contra o património representaram cerca de 51,0% do total (189.657 crimes), seguidos pelos crimes contra as pessoas que corresponderam a cerca de 24,4% do total (90.840 crimes) e dos crimes contra a vida em sociedade, que representaram 11,9% do total (44.439 crimes).
O tipo de crime que mais subiu no ano passado foram os cometidos contra o Estado (mais 16,9%), que passaram de 6.559 em 2022 para 7.713 em 2023, seguido do contra a identidade cultural/integridade pessoal (mais 9,6%), que totalizaram 367, enquanto em 2022 tinham sido de 289.
As estatísticas da justiça revelam também que os crimes contra as pessoas aumentaram 5,8%, contra o património subiram 7,6%. Já as polícias registam mais 424 crimes contra vida em sociedade, num total de 44.439 em 2023.
Os crimes mais frequentes em 2023 foram os de “violência doméstica contra cônjuges ou análogos” (26.041), seguido da condução sob efeito de álcool (24.133), ofensas à integridade física (24.111), furto em veículo motorizado (20.180), burla informática e nas comunicações (20.259), ameaça e coação (16.676) e condução sem habilitação legal (15.579).