O Presidente da República considerou esta sexta-feira que o desfile deste 25 de Abril na Avenida da Liberdade mostrou que a população está atenta em defesa da democracia e apelou aos jovens para que sejam mais ativos politicamente.
Marcelo Rebelo de Sousa falava perante alunos de escolas secundárias e de universidades, no antigo picadeiro real, junto ao Palácio de Belém, em Lisboa, durante uma aula-debate sobre o 25 de Abril, que contou com a participação do general António Ramalho Eanes, primeiro Presidente da República eleito em democracia.
Referindo-se ao desfile de quinta-feira na Avenida da Liberdade, em Lisboa, no 50.º aniversário do 25 de Abril, o chefe de Estado afirmou: “É uma forma de manifestação política. É dizer: nós queremos liberdade e democracia intocáveis, e queremos melhor democracia e queremos melhor liberdade, e estamos atentos para que ninguém esvazie a nossa liberdade e a nossa democracia“.
“Esse é o vosso papel hoje”, defendeu Marcelo Rebelo de Sousa, dirigindo-se aos jovens.
O chefe de Estado incentivou os jovens de hoje a agir em conjunto: “Descubram onde é que devem agir, onde é que são mais úteis para agir, e façam-no em conjunto, não individualmente”.
“Descubram outros com quem podem atuar em conjunto e trabalhem pela mudança, uns mais à direita, outros mais à esquerda, uns mais acima, outros mais abaixo, mas trabalhem pela mudança”, reforçou.
O Presidente da República apontou a habitação, a educação, a cultura como áreas possíveis de atuação dos jovens pela mudança e disse-lhes que “tudo isso é política” e que “cada um é político”.
“Reivindiquem mais poder, atuem mais, estejam mais presentes”, pediu.
“O 25 de Abril foi feito por jovens de 20 e 30 anos. Agora não é precisa uma nova revolução, mas é preciso mais jovens de 20 e 30 anos, e até antes disso, a ocupar a participação política, para não deixar vazios, para depois não ter de se queixar dos vazios que deixaram”, considerou.
No fim desta aula-debate, moderada pela jornalista Maria Flor Pedroso, Marcelo Rebelo de Sousa declarou: “Tiveram hoje uma experiência histórica. A História não se repete. Façam a vossa História”.
Ramalho Eanes também comentou o desfile na Avenida da Liberdade, declarando que “se só estivessem na manifestação os saudosistas, ficaria muito preocupado”, mas que a presença de “tantos jovens” mostrou que o 25 de Abril “é o futuro”.
Na opinião do antigo Presidente da República, “a democracia está de saúde” em Portugal, onde há “liberdade real” e não apenas formal, “apoiada num regime constitucional pluralista, num Estado de direito democrático e eleições indiscutivelmente livres”.
Quanto ao futuro, Ramalho Eanes referiu que quando lhe perguntam se “a democracia está em perigo” responde que “está sempre em perigo a democracia — mas não está num período imediato nem está num período próximo” e acredita que “as democracias europeias nomeadamente a portuguesa vão ter futuro e acabarão por negar esse mau juízo”.
Sobre o período em que foi chefe de Estado, de 1976 a 1986, disse que a maior dificuldade que enfrentou foi quando se pretendeu “parlamentarizar o regime” e, desafiado a falar sobre o fundador do PSD e antigo primeiro-ministro Francisco Sá Carneiro, descreveu-o como “um homem inteligente, com grande preparação política”, que “era um patriota”, mas fez-lhe “uma única acusação: tinha muita pressa”.
Segundo Eanes, Sá Carneiro “entendia que a democracia não estava a funcionar bem” e “tentou que as coisas se modificassem através de eleições antecipadas, através da apresentação de um programa em que o semipresidencialismo seria acentuado, em que os problemas económicos teriam resposta”.
“Ele pretendia resolver tudo isso, mas não respeitando a Constituição e naturalmente modificando o regime”, prosseguiu. “Eu naturalmente não podia aceitar isso, e a nossa oposição, oposição frontal, assumida, teve lugar aí e resultou fundamentalmente disso”, enquadrou.
No seu entender, porém, Sá Carneiro “prestou serviço ao país” e “a sua posição de impaciência” até “fez com que as coisas em Portugal se acelerassem e a democracia mais rapidamente se institucionalizasse”.
“É um homem que, portanto, merece naturalmente o respeito e a homenagem dos portugueses”, concluiu.