É contra a ida da Procuradora-geral da República ao Parlamento e acredita que será inocentado na Operação Influencer. Estes foram algumas das afirmações do ex-ministro das infraestruturas à CNN, na primeira entrevista dada por João Galamba desde que foi constituído arguido e saiu do Governo.

Num dia marcado pelas declarações do presidente da Assembleia da República, José Aguiar-Branco, a defender que a procuradora Lucília Gago deveria prestar esclarecimentos no Parlamento, João Galamba começou por afirmar que discorda. “Nenhuma instituição funciona fechada sobre si mesma, mas não considero que a ida da Procuradora-geral da República ao Parlamento faça qualquer sentido”, sublinhou. Considera, no entanto, que “se entender que deve falar e explicar aos portugueses deve fazê-lo”.

Galamba evitou pronunciar-se sobre as suspeitas concretas da Operação Influencer, mas disse estar convicto de que terá um desfecho favorável. “Seria muito tentador da minha parte cavalgar as notícias recentes que me são favoráveis, mas não o vou fazer”, prosseguiu. “Obviamente que estou de consciência inteiramente tranquila em relação a tudo o que fiz. Sei tudo o que fiz. Sei também tudo o que não fiz”, disse ainda, citando António Costa: “Sei como é que este processo vai acabar”.

Sobre o desfecho do processo, só vê duas opções: ou  um arquivamento ou, se avançar para acusação, que venha a ser “inocentado”. Para já, explicou que ainda não foi ouvido no âmbito do processo, apesar de ter avançado com um requerimento nesse sentido após as buscas à sua casa. “Parece que fui escutado vários anos, mas ouvido ainda não”, apontou. “Tudo o que sei é pela comunicação social”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Político profissional desde que foi eleito para o Parlamento quando o PS era oposição, João Galamba foi deputado, colega de bancada de Pedro Nuno Santos com quem estava alinhado na ala à mais à esquerda do PS, mas demorou mais tempo a chegar ao Governo. Foi nomeado em 2018 para secretário de Estado da Energia, um cargo que trocou pelo de ministro das Infraestruturas, para suceder precisamente a Pedro Nuno Santos que se demitiu no final de 2022.

Pedro Nuno Santos “nunca me disse nada nos últimos meses, nem no dia das buscas

Neste entrevista, João Galamba revelou o afastamento do secretário-geral do Partido Socialista.  “Já fomos mais próximos”, admitiu sem querer dar a sua opinião sobre o atual líder do PS. Quanto questionado sobre o afastamento, atirou a pergunta para Pedro Nuno Santos, mas acrescentou: “Nunca me disse nada nos últimos meses, nem no dia das buscas” (7 de novembro)”. Só teve uma conversa depois do episódio TAP e nunca mais falou com ele. Já com António Costa, o ex-primeiro ministro que o segurou quando o Presidente da República pediu a sua demissão, o contacto é maior. João Galamba diz que esteve no jantar com os ex-membros dos governos socialistas.

Ainda no âmbito da Operação Influencer, o ex-ministro quis responder a uma declaração “infeliz” de Luís Montenegro quando anunciou um código de conduta no Governo para evitar “casos Galamba”. “O atual primeiro-ministro nunca exerceu funções executivas, até se podia desculpar alguma ignorância nesta matéria”, atirou.

O político socialista garantiu que o uso do carro oficial com motorista para deslocações relacionadas com a sua vida familiar enquanto estava em funções cumpriu a lei, citando um decreto lei de 1978. “Não aceito que o Sr. PM” faça a referência “para fins puramente populistas porque a lei é clara e está em vigor. Eu não violei a lei”. João Galamba cita um louvor feito pelo ex-ministro dos Negócios Estrangeiros ao seu motorista onde Freitas do Amaral agradece expressamente os serviços prestados à sua família.

O louvor dado pelo ex-ministro dos Negócios Estrangeiros de José Sócrates (Freitas do Amaral) ao seu motorista

Questionado sobre os contactos e refeições pagas por representantes da Start Campus, Galamba disse ser “normal e banal” qualquer governante “fazer encontros e refeições” e negociar em restaurantes. Lembrou também que foi um dos primeiros governantes a divulgar toda a agenda pública. “Ninguém me pode acusar de falta de transparência”.

O ex-ministro das Infraestruturas não tem planos de regressar à política, ainda que não feche totalmente essa porta. Para já vai continuar ligado à área de energia e dedicar-se a fazer consultoria internacional, admitindo as consequências da Operação Influencer na sua carreira. “É muito difícil explicar lá fora o estatuto de arguido. Lá fora não existe isso: há suspeitos e acusados. Não existe arguido. Há empresas que fazem compliance e o estatuto de arguido é traduzido como acusado e isso requer explicações. Fui bem sucedido, mas é óbvio que tem consequências ser arguido”, indicou.

João Galamba sublinhou ainda que tem muito orgulho do trabalho que fez enquanto secretário de Estado da Energia e também no Ministério das Infraestruturas. “Não saio triste com a política, saio um pouco desiludido. Preferia que nada disto tivesse acontecido. O que quero é que isto se resolva o mais rapidamente possível”, reconheceu. Em jeito de conclusão, sublinhou que a Procuradora-geral da República deve fazer o seu trabalho, fazê-lo “bem” e “rápido”.