Na véspera, quando falou ao Porto Canal e à SIC depois de ter votado não chegando a passar pela zona mista onde estavam todos os outros jornalistas, Pinto da Costa dizia que não tinha o número de telefone de André Villas-Boas, o homem mais procurado do país depois da esmagadora vitória nas eleições do FC Porto que colocou um ponto final em mais de quatro décadas de reinado do “presidente dos presidentes”. Passaram umas horas e esse número chegou. Ainda de manhã, após uma noite longa de festejos na Rua do Agramonte onde está a sede do ex-treinador, o rei azul e branco ligou ao novo príncipe para lhe dar os parabéns.

Entre as habituais palavras de circunstância e o desejo de sucesso na nova função, Pinto da Costa deixou um convite que nunca esperou que fosse verdadeiramente aceite: colocar o novo líder portista logo a seu lado na tribuna para assistir ao clássico frente ao Sporting no Dragão. Não aconteceu mesmo, com André Villas-Boas a preferir fazer também a sua despedida do lugar anual na Central Nascente antes de começar a ocupar a posição principal do estádio. Depois disso, e como é habitual, o presidente que deixou de ser presidente mas ainda é presidente (em termos formais, por faltar a tomada de posse) manteve o seu “dia normal”.

O que é um “dia normal” para Pinto da Costa ao fim de semana com a equipa de futebol a jogar em casa? Ir ter com a equipa ao estágio que costuma realizar na mesma unidade hoteleira e almoçar com a equipa. Este domingo, não era um almoço qualquer. Se ainda fosse necessário um aditivo extra para ganhar ao Sporting, só a presença do líder cessante depois de uma noite onde deixou o trono com um resultado que surpreendeu tudo e todos era suficiente para acrescentar essa motivação. Mesmo sem sentir necessidade de se dirigir à equipa nestas ocasiões, por ter um peso tal em que bastava a sua presença, Pinto da Costa quis de alguma forma manter essa normalidade sabendo que aquele momento no futuro deixará de ser normal.

Se pudesse, Pinto da Costa seguiria dali para Barcelos, tendo em conta que a equipa de hóquei em patins, a modalidade onde tudo começou na vida de dirigente, disputava a final da Taça de Portugal frente ao Óquei de Barcelos (e que viria mesmo a ganhar, juntando mais um título ao Museu do clube). Se pudesse, Pinto da Costa seguiria dali para Matosinhos, onde a equipa de voleibol feminino faria mais um jogo da final da Liga que poderia terminar com novo triunfo na prova (neste caso não aconteceu, com tudo adiado para a “negra” no Dragão Arena). Acabou por ficar pelo Porto, chegando ao Dragão duas horas antes do jogo.

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No final da Alameda do Dragão, antes de fazer a curva para a direita que depois dá acesso ao Parque 1 por onde costuma entrar, Pinto da Costa voltou a sentir o carinho dos adeptos agora com um portista mais novo a passar à frente do carro para tirar uma selfie com uma figura que está em vias de sair da atual função mas que ficará para sempre no coração azul e branco de todos. O objetivo era estar à espera da equipa de futebol mais uma vez na garagem, antes da entrada para os balneários, quando os jogadores saíam do autocarro. Também aqui, tudo normal como se na véspera não tivessem existido eleições e a derrota pesada.

O encontro seria sobretudo uma grande homenagem (a última ou não, só tempo dirá) a Pinto da Costa. Na chegada à tribuna do Estádio do Dragão, com todo o recinto de pé a aplaudir incluindo André Villas-Boas. Logo no primeiro minuto do encontro frente ao Sporting, com os Super Dragões a erguerem uma tarja que ocupava grande parte do topo Sul onde surgia sentado na cadeira do poder, ao minuto 42 por assinalar o número de anos em que esteve na liderança do FC Porto com o Colectivo, a outra claque azul e branca, a acender dezenas de tochas claras no seu topo no estádio e o próprio Sérgio Conceição a virar-se para trás durante alguns segundos para bater palmas. Tudo servia para mostrar esse apreço por tudo o que fez pelos dragões. Sem divisões, em uníssono, com capacidade de separar o passado do presente que quer ter futuro.

Quando tudo parecia resolvido para uma vitória que poderia até ter outros números, dois golos de Gyökeres em pouco mais de um minuto acabaram por estragar o contexto que estava a marcar a noite perante mais um empate e respetiva perda de pontos no Campeonato. Esse acabou por ser o ponto negativo de um dia cheio de episódios positivos que terminou com a reunião de Pinto da Costa e todos os elementos que o acompanharam no clube num jantar que terminou já de madrugada. E, mais uma vez, foi Sérgio Conceição que deu a cara e a voz pela defesa de todo o legado que o antigo presidente vai agora deixar para o futuro.

“Homenagens a Pinto da Costa durante o encontro? “Outra coisa não era de esperar, o reconhecimento e agradecimento dos adeptos. Existe a gratidão de uma presidência durante 42 anos. É um legado de grande exigência e muitas conquistas. É o mais titulado do mundo. Temos de agradecer o que ele fez, tirar o clube de uma região e promovê-lo para um dos maiores do mundo. É um trabalho de um líder que vai ficar para a história do clube”, comentou o treinador portista que renovou na semana passada até 2028.