A tomada de posse de órgãos sociais do FC Porto foi sempre um momento solene. Até mesmo sem eleições só com um candidato, como aconteceu em várias ocasiões com Pinto da Costa, havia um espaço especial para a cerimónia com mais ou menos convidados, com mais ou menos imprensa, com mais ou menos “aparato”. Esta terça-feira, a nova era que André Villas-Boas prometeu abrir no universo azul e branco mostrou isso mesmo, com a presença de 450 convidados entre antigos e atuais órgãos sociais, representantes de todas as modalidades do clube, várias figuras de proa do desporto nacional e antigas referências de várias equipas. 40 minutos depois, numa cerimónia que começou com um ligeiro atraso, o novo presidente discursava com várias referências ao programa que levou a sufrágio, agradecimentos e mais um momento de reconhecimento com Pinto da Costa. No entanto, quase a quebrar um “protocolo”, também levou outro assunto para abordar.

Na parte final do discurso, Villas-Boas voltou a apelar aos atuais membros da administração da SAD para que pudessem renunciar às posições na sociedade para se acelerar todo o processo de transição, algo que Pinto da Costa já voltou a referir que não irá fazer pelos estatutos e por considerar que o futebol precisa agora é de estabilidade a pensar na final da Taça de Portugal (onde estará no banco). E foi isso que o novo líder dos azuis e brancos voltou a reforçar depois da cerimónia, numa zona de contacto com os jornalistas.

“Esta é uma situação muito sensível. Ninguém quer pôr em causa uma transição suave da Direção na parte da SAD. O tempo urge porque há decisões fundamentais que têm de ser tomadas. Uma situação destas, e já houve vários exemplos no futebol português, não é benéfica para ninguém. Seria sempre uma renúncia que facilitaria processos e seria também um ponto de referência para os funcionários que se encontram, de certa forma, entre um presidente de um clube e um presidente de uma Sociedade Anónima Desportiva, com a importância histórica que tem Jorge Nuno Pinto da Costa. Não posso fazer mais pedidos, cabe aos próprios assumirem que, quanto mais breve e mais rápido for esta transição, melhor. A realidade é que a 30 ou 31 de maio é tarde”, começou por apontar o presidente portista que tomou hoje posse.

“Queremos fazer de tudo para que esta transição seja suave e respeitada para todos os elementos que tanto deram ao FC Porto. Os sócios ditaram uma mudança e essa tem de ser respeitada. E se a mesma pudesse ser abreviada, com o sentido de responsabilidade por parte das pessoas, melhor. Não posso fazer mais nada, cabe aos próprios decidirem por sua conta. Quero abraçar este projeto de corpo e alma e dedicar-me a ele com essa força de portismo que represento”, acrescentou, antes de detalhar o que tem sido feito.

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“Do ponto de vista de troca de documentação estamos a ter toda a informação necessária. Para os funcionários não é fácil, porque há dinâmicas de saída e de entrada. O acesso a toda a documentação não é problema, estamos com todos os dossiers abertos, mas ninguém se junta a um Conselho de Administração sem ter poder de execução e de veto. Está fora de questão. Só aceitaremos cooptar o José Pedro Pereira da Costa ou outro vice no sentido de ter total liberdade de poder e de veto. Não está em causa a presença história do presidente no final da Taça de Portugal, porque eu sei o que representa para todos os portistas e a sua presença é um sentimento de força para a equipa, tal como o próprio disse e bem. Agora, na construção de uma organização moderna, transparente, ditada por uma vitória estrondosa, é lamentável que o FC Porto não seja exemplo como foram outros clubes em Portugal, no caso os nossos rivais diretos, que asseguram transições no próprio dia. Teria de haver mais humildade das pessoas e perceber que ninguém quer afetar o FC Porto, mas sim elevá-lo e distingui-lo como o maior clube português”, comentou Villas-Boas.

Em paralelo, o presidente portista abordou também as reuniões que teve com as autarquias de Gaia e da Maia, falando ainda das expetativas que tem para os primeiros meses de mandato. “Houve conversas iniciais com os dois presidentes da Câmara, que correram bastante bem. São projetos que não têm muito a ver um com o outro, nomeadamente em termos de unidade, velocidade de construção e custo de obra. É uma decisão de grande responsabilidade e gradualmente vamos tomando conta de tudo para tomar a melhor decisão. Tivemos uma reunião com o arquitecto Manuel Salgado para perceber a Academia da Maia e a verdade é que ainda é preciso orçamentá-la e ter projeto financeiro para a mesma. São dois projetos diferentes. Um mais unitário, mais veloz e eficaz, outro, que bem dignifica o FC Porto e a sua formação, mas com outro tipo de custos e considerações a ter em conta. A decisão será a melhor para o futuro do FC Porto”, contou.

“Primeira ideia para pôr em prática? Gostava de lançar o mais rápido possível uma facilitação da angariação de novos sócios para o FC Porto. Este é um momento mágico para o clube, onde muitas pessoas se estão a tornar associados do FC Porto, mas o processo é lento, é papel e caneta. Se o mesmo fosse digital, rápido e eficaz, os números teriam sido superiores. Claro que os processos de transformação digital demoram sempre um pouco, mas gostava que estivesse já implementado e em curso. Peço aos adeptos e simpatizantes para nos darem um pouco de paciência e não perderem a ilusão nesse aspeto”, acrescentou.

“Como as modalidades pertencem ao clube e o Mário Santos já está funções, reuniu-se com os mesmos para assegurar que a transição fosse mais suave. No futebol é mais sensível, estamos a falar da SAD. No entanto não será impeditivo para iniciar as reuniões que temos a fazer. Conto apresentar-me esta semana a mim e à minha equipa no Olival, aos jogadores, e a partir daí começar a construção do futuro do FC Porto. Resultados rápidos? É uma responsabilidade boa, na qual temos muito prazer e estamos preparados para assumir. Conheço muito bem o clube, conheço bem os adeptos, foi isso que me marcou enquanto treinador do FC Porto e é isso que me vai marcar enquanto presidente”, salientou André Villas-Boas, que referiu ainda que as ausências de Sérgio Conceição e Pepe se justificam com o treino matinal da equipa.

Ao Porto Canal, o presidente dos dragões falou também do peso emocional e da importância do dia. “São números mágicos que se juntam. Com 32 anos, fui apresentado, na mesma sala, como treinador do FC Porto. Felizmente, resultou num ano magnífico para nós e com grande significado para mim. Hoje, sou apresentado como o 32.º presidente do FC Porto. O FC Porto tem de encontrar-se rapidamente com o título nacional, essa é a fonte principal da nossa motivação. Somos uma equipa feita para vencer, com um currículo invejável e com um legado que nos é deixado de grande responsabilidade. É um clube maior que constata uma mudança histórica de presidente. O legado que Pinto da Costa nos deixa é histórico. Esta será e sempre foi a sua casa, será recebido de braços abertos com o coração azul e branco cheio. Iremos dignificá-lo. O bom nome do FC Porto atravessa o Mundo e o de Pinto da Costa também. Assim será lembrado”, referiu.