Pela forma como acabou a fase regular do Campeonato e pelo rendimento apresentado nas últimas semanas, tudo apontava na teoria para uma final da Liga dos Campeões de hóquei em patins entre FC Porto e Óquei de Barcelos. Contas feitas, a teoria valeu de pouco ou nada. A abrir, o Sporting conseguiu contrariar o jogo dos dragões, o ambiente adverso e o histórico recente para sair com um triunfo por 6-5. De seguida, a Oliveirense aguentou tempo regulamentar e prolongamento para “vingar” o desaire com o Sp. Tomar que levou à descida para o terceiro lugar do Campeonato para bater nas grandes penalidades os minhotos. Que o principal troféu europeu de clubes da modalidade ficava em Portugal, já se sabia, mas a final seria inédita na prova.

Um ADN vencedor que passou do futebol ao hóquei: Sporting vence FC Porto no Rosa Mota e está na final da Liga dos Campeões

Com isso, e de forma inevitável, Edo Bosch tornava-se o centro das atenções. O antigo guarda-redes espanhol que esteve quase duas décadas ao serviço do FC Porto passou pela equipa técnica da Seleção, agarrou depois na equipa do Valongo e faz agora a primeira temporada pela formação de Oliveira de Azeméis. Questão? É a primeira e, para já, única. Com a decisão de Alejandro Domínguez em deixar o Sporting alegando motivos pessoais, os leões, que tinham o treinador de 48 anos apontado para 2025/26 (tal como o filho, o guarda-redes Xano Edo), decidiram avançar para o pagamento da cláusula de rescisão para acelerarem a chegada a Alvalade. Ou seja, o próximo treinador do Sporting iria defrontar o próprio Sporting…

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“Não me afeta nada. Entendo a vossa curiosidade, as notícias foram notícias mas não foram ditas por mim. Nunca comentei nada do que saiu. Estamos focados no momento histórico para a Oliveirense, um momento muito importante para nós e para qualquer equipas. Estamos apenas focados nisso e nesta fase não significa nada nem para nós, nem para a nossa equipa e para a Oliveirense”, comentara Edo Bosch antes da final, com a natural passagem ao lado daquilo que será o futuro tendo como único foco a vitória na prova.

A Oliveirense jogava pela história. Nas duas finais da Liga dos Campeões a que chegou, o conjunto de Aveiro perdeu com o Benfica no Pavilhão da Luz em 2016 (5-3) e saiu também derrotado pelo Reus em Lérida logo no ano seguinte (4-1). Agora voltava a surgir a oportunidade de pela primeira vez ser campeão europeu, tendo pela frente um Sporting habituado a este tipo de decisões e com três vitórias na competição: em 1977, com o Cinco Maravilha liderado pelo mago António Livramento que bateu o Vilanova (6-3 e 6-0); e, mais recentemente, em 2019 e 2021, ambos frente ao FC Porto (5-2 e 4-3 após prolongamento). Agora, veio o terceiro título europeu em apenas cinco anos. E veio no ano mais improvável, em que os leões estão numa fase de renovação mas superaram Benfica, Barcelona, FC Porto e Oliveirense até ao título.

Até os próprios resultados em 2023/24 mostravam que a final podia cair para qualquer lado, com uma vitória para cada lado mais um empate nos três encontros entre ambos para Campeonato e Taça de Portugal. Foi isso que se notou nos minutos iniciais, com grande respeito entre os dois conjuntos apesar das equipas mais ofensivas que foram apostas no arranque e a tentativa de começar na frente um encontro equilibrado. Aí, o Sporting mostrou-se mais forte, inaugurando o marcador por Nolito Romero num remate de meia distância ao ângulo após uma “cortina” a abrir espaço de Toni Pérez já depois de Rafa Bessa ter acertado no poste (4′). Apesar de um golo ser pouco ou nada no hóquei, essa diferença marcou o primeiro tempo do jogo.

A Oliveirense foi tentando reagir à desvantagem, com Edo Bosch a procurar novos esquemas ofensivos para surpreender a bem estruturada organização defensiva dos verde e brancos, mas Girão foi fechando da melhor forma a sua baliza e até foi Xano Edo a ter as intervenções mais complicadas em transições rápidas onde o conjunto de Alejandro Domínguez tentava explorar a meia distância ou o jogo de área de Toni Pérez. Rafa Bessa acertou no poste em mais um desses lances, com os minutos a passarem na mesma com o 1-0 no marcador que se manteve até ao intervalo, com ambas as equipas a contarem já com sete faltas cada e com a Oliveirense a pedir ainda golo sem sucesso depois de um desvio de Franco Platero, irmão do argentino Matías Platero que é um dos mais antigos no plantel leonino, após a buzina para o final da primeira parte.

Apesar de haver maior risco por parte da Oliveirense no início do segundo tempo, o encontro foi mantendo as mesmas características e com Xavi Cardoso a ficar próximo também do empate num remate ao poste da baliza de Ângelo Girão. Até pelo evoluir das faltas, percebia-se que a bola parada poderia ser decisiva no desfecho da partida, sendo que a primeira surgiu não pela décima falta dos leões mas sim por um cartão azul a Matías Platero, que Lucas Martínez aproveitou da melhor forma o livre direto para fazer o 1-1 (35′) com as duas equipas com nove faltas. Ficava tudo em aberto para os últimos 15 minutos da final, com os adeptos que vieram de Oliveira de Azeméis a fazerem-se ouvir contra os do Sporting no Rosa Mota.

O empate não durou muito tempo: na sequência da décima falta da Oliveirense, João Souto não falhou o livre direto e recolocou os leões na frente (38′) com essa nuance de o Sporting encontrar-se também à beira de “ceder” novo livre direto pelas faltas acumuladas. Quando a décima caiu, brilhou Girão: Lucas Martínez tentou mais uma vez o remate direto mas o guarda-redes defendeu a primeira tentativa e a recarga (42′). À semelhança do que acontecera com o FC Porto, o guardião foi determinante nas bolas paradas e segurou um triunfo que permite que os leões se isolem como equipa portuguesa com mais Champions no currículo (quatro, mais uma do que o FC Porto, mais duas do que o Benfica e mais três do que o Barcelos).