Graça Machel exortou esta quarta-feira os líderes religiosos de todo o mundo a garantirem condições para que “as mulheres se sentem nas principais mesas de negociação” e “contribuam plenamente para a resolução de conflitos” e “construção” dos estados.
“Exorto-nos a todos a encontrar formas significativas de garantir que as mulheres se sentam nas principais mesas de negociação e de tomada de decisões – nas suas diversas capacidades como especialistas, líderes da sociedade civil, guardiãs da religião, académicas, advogadas, defensoras dos direitos humanos, mães e irmãs”, afirmou Graça Machel, num discurso proferido no 1º Fórum KAICIID para o Diálogo, que decorre esta quarta-feira em Lisboa, e reúne vários altos líderes religiosos e políticos mundiais, assim como organizações internacionais e da sociedade civil.
A mulher de Nelson Mandela, e antes do primeiro Presidente de Moçambique, Samora Machel, deu vários exemplos do papel das mulheres na mediação de conflitos, alguns dos quais em que participou diretamente, nomeadamente na Libéria, no Burundi e no Quénia, para sublinhar que “as mulheres – que carregam o maior peso do sofrimento e as feridas mais dolorosas das vitimas dos conflitos – têm perspetivas e aspirações que são absolutamente cruciais para a resolução duradoura dos conflitos e para a construção efetiva das nações“.
“Temos de criar espaço para ouvir e respeitar as diferentes vozes, as diversas entoações e as múltiplas oitavas de perspetivas das mulheres, se alguma vez quisermos desfrutar dos acordes harmoniosos e duradouros da paz”, acrescentou.
A “dor” das mulheres dá “forma” às suas “perspetivas únicas, sobre as quais podem assentar as bases para uma paz sustentável e para a construção dos estados”, disse ainda.
“Apesar das provas esmagadoras que demonstram que a participação das mulheres na resolução de conflitos é fundamental para acabar com a violência, e apesar dos quase 25 anos da adoção da Resolução 1325 das Nações Unidas, as mulheres continuam a ser uma minoria nas mesas de negociação a nível mundial“, sublinhou.
“Precisamos urgentemente de nos afastar deste paradigma de exclusão e desconsideração para um paradigma de inclusão e respeito”, acrescentou.
Machel sustentou que os atuais modelos de resolução de conflitos “estão ultrapassados” e defendeu a necessidade de “um novo modelo” em que se deixe de “permitir que as fações beligerantes que iniciam o conflito sejam os únicos decisores na sua resolução”.
“A inclusão é tão importante para qualquer processo de paz que defendo vivamente a existência de quotas obrigatórias na mediação”, disse.
Os processos políticos oficiais – quer sejam geridos por organismos multilaterais ou por governos individuais – deveriam ser obrigados a ter uma percentagem de mulheres sentadas à mesa das negociações formais.
“Temos de mudar a dinâmica do poder e aproximarmo-nos de um paradigma em que reconhecemos a força do diálogo entre múltiplos intervenientes e damos poder a coligações alargadas de pacificadores civis para que sejam igualmente influentes no processo de construção da paz”, sustentou ainda.
A “mulher-ativista”, como se apresentou no fórum, apontou ainda a “responsabilidade” dos líderes religiosos de “moldar as crenças de milhares de milhões de pessoas em todo o mundo”, pelo que a sua “influência deve ser transformada” e estimulada a sua “capacidade” enquanto “poderosos portadores da paz”.
Temos de alargar o espaço para as instituições religiosas servirem de plataformas de diálogo e de parceiros progressistas para pôr fim aos conflitos.
“Agora, mais do que nunca, precisamos que aqueles a quem procuramos orientação espiritual rejeitem as ideologias que fomentam a desigualdade, a divisão e a destruição e, em vez disso, nos orientem para a empatia, a compaixão e a aceitação mútua”, acrescentou Graça Machel.