A Marinha portuguesa e o Zoomarine vão libertar na quinta-feira, no Algarve, duas tartarugas, resgatadas em Sintra e em Aljezur, após terem sido tratadas por diversos problemas de saúde no centro de reabilitação do parque aquático temático algarvio.
Os dois animais receberam tratamento veterinário no Porto d’Abrigo do Zoomarine, o centro de reabilitação de espécies marinhas do parque aquático localizado em Albufeira, e a libertação será feita a 10 milhas náuticas, equivalente a 18 quilómetros, a sul da barra de Portimão, indicou a Marinha.
Antonieta Nunes, enfermeira veterinária do Zoomarine, contou à agência Lusa que as tartarugas que vão ser libertadas se chamam Vanora e Ukiyu e foram encontradas, respetivamente, na Praia Grande, em Sintra, no distrito de Lisboa, e na ribeira da Carrapateira, em Aljezur, distrito de Faro, ambas com problemas de saúde que as debilitavam.
“Vamos sair do ponto Naval de Portimão, com o apoio da Marinha, e pedimos sempre para ir pelo menos a 10 milhas da costa para fugir das artes de pesca que estão mais próximas da costa. Não temos garantido que elas voltem para trás, mas a tendência habitual é para que se afastem da costa e esperamos que sigam essa tendência”, disse a responsável.
Após ser recolhida pela Rede de Arrojamentos de Lisboa e Vale do Tejo, a 3 de março, a Vanora chegou ao Porto d’Abrigo “muito jovem”, com um tamanho “muito pequenino”, e “estava muito debilitada, quase parecia que já tinha falecido, tal era o seu mau estado”, disse Antonieta Nunes.
“Estava desidratada, apática, nas análises de sangue conseguimos perceber que ela estava com uma anemia bastante severa, o animal estava desidratado, portanto não estava a comer convenientemente há algum tempo, e no meio, provavelmente, da situação em que arrojou, que foi numa altura de tempestades, deve ter engolido muita areia”, diagnosticou.
A tartaruga não conseguia comer por ter ingerido uma grande quantidade de areia e foi preciso medicá-la “para ajudar a areia a evoluir no trato digestivo” e “sair naturalmente, porque caso contrário teria que se ir para cirurgia”, explicou.
“Mas, felizmente, não foi necessário porque conseguimos com a medicação que evacuasse por ela própria”, congratulou-se, sublinhando que teve de receber “suporte nutricional, ferro para a anemia, fluidos”, mas depois “correu tudo bem” e o animal “pode ser devolvido já amanhã [na quinta-feira]” ao mar.
A outra tartaruga, chamada Ukiyu, foi recuperada em Aljezur, a 11 de novembro de 2023, e entrou no centro de recuperação de espécies aquáticas algarvio “em muito mau estado”, com uma “deformação congénita na carapaça”, muitas feridas e uma infeção pulmonar, devido a uma excessiva flutuabilidade.
“A excessiva flutuabilidade acontece com muita frequência devido a questões pulmonares, porque elas usam os pulmões para andar mais acima ou abaixo na coluna de água, mas não sempre, e foi o caso da Ukiyu, que tinha plástico no trato digestivo e só isso era o suficiente para a deixar desconfortável e ficar à superfície”, esclareceu.
O plástico acabou também por sair sem cirurgia e com apoio da medicação e, apesar de um “processo de recuperação mais longo”, também reúne as condições para ser libertada nesta operação, embora uma perda de apetite tardia, durante o processo de descida de temperatura do tanque para igualar a do mar, tivesse suscitado dúvidas sobre uma patologia que acabou por não confirmar.
O Porto d’Abrigo foi o primeiro equipamento do género no país e, durante anos, o único a receber animais, tendo já passado centenas de animais naquele que é o hospital veterinário do Algarve há 20 anos.
Tal como num hospital, o Porto d’Abrigo tem uma enfermaria de cuidados intensivos, onde os animais que podem estar fora de água permanecem caso necessitem de cuidados especiais, e enfermarias exteriores com piscinas em vez de camas, para onde os animais vão quando passam para o recobro.