Depois de todas as grandes decisões passarem sempre por dérbis entre Benfica e Sporting, a época oficial do futebol feminino terminava este domingo no Jamor com um novo protagonista na final da Taça de Portugal, o Racing Power. E se o conjunto do Seixal, inscrito na Associação de Futebol de Setúbal, tinha essa ambição de conquistar o primeiro título nacional na sua primeira grande decisão, as encarnadas jogavam por uma espécie de carimbo final à melhor temporada de sempre desde que a secção foi criada ainda na Segunda Liga, com a possibilidade de conquista de todas as competições em Portugal após Campeonato, Taça da Liga e Supertaça (sempre contra o rival verde e branco, que deu o salto em 2023/24 mas sem títulos).

A coroação da melhor temporada chegou na última jornada: Sporting esteve seis minutos na frente mas Benfica sagra-se tetracampeão

“Estamos num momento histórico no futebol feminino português, independentemente do que possa acontecer. Temos o Racing Power pela primeira vez na final da Taça de Portugal – dou-lhes os parabéns por serem estreantes e uns excelentes estreantes. O Benfica também poderá aqui fazer história, se ganhar a Taça de Portugal. Por isso, estaremos perante um momento histórico. Quanto à história do jogo, tudo depende de momentos. A imprevisibilidade existe em todos os jogos. Pode acontecer porque é futebol e aí é que está a beleza do jogo e deste desporto. Vai depender muito de pormenores, as finais são assim, independentemente de poder haver uma equipa que não é favorita relativamente à outra porque não é um dito ‘grande’, mas isso não quer dizer nada”, tinha referido Filipa Patão na antecâmara do encontro no Estádio Nacional.

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“Vamos tentar trazer este título para o clube, para o qual a Direção trabalhou com muitos sacrifícios para que nada falte a estas jogadoras e a este grupo, que vai tentar dignificar ao máximo o clube. Vamos dar tudo o que temos dentro de nós para tentar marcar este momento, que já é histórico por estarmos numa final da Taça de Portugal em quatro anos de existência. A primeira grande dificuldade é que não é fácil chegar à final da Taça mas claro que em quatro épocas conseguir chegar a uma final e conseguir conquistá-la seria algo histórico para um clube como o Racing Power”, destacara João Marques, técnico da formação da Margem Sul que ganhou uma Taça de Portugal feminina em 2019/20 quando comandava o Sp. Braga.

Lena foi a água que refrescou outra doce conquista: Benfica vence Sporting nos penáltis e conquista terceira Supertaça feminina

Os indicadores apontavam para tudo menos uma final desequilibrada como aconteceu em 2018/19, quando a formação encarnada ganhou a sua única Taça de Portugal após golear o Valadares Gaia por 4-0 no Jamor. Aliás, na semana passada, na última jornada do Campeonato, o Benfica só bateu o Racing Power com uma grande penalidade decisiva de Carole Costa nos descontos que carimbou a conquista do título depois de seis minutos em que era o Sporting a constar como virtual vencedor, sendo que na primeira volta do Campeonato registou-se um empate a um. Agora, mais do que nas outras ocasiões, as encarnadas conseguiram sair por cima sobretudo na segunda parte e, empurradas pelos 18.124 espectadores que estabeleceram novo recorde a nível de assistências em finais da Taça de Portugal, fizeram o pleno de conquistas a nível nacional e chegaram mesmo aos números desequilibrados que ninguém conseguiria imaginar com uma goleada por 4-1.

O encontro começou com o Benfica a tentar assumir o natural favoritismo mas com o Racing Power a ser a equipa mais perigosa no último terço. Mais perigosa e com oportunidades: Jennifer Vetter aproveitou um erro proibido de Ucheibe, surgiu isolada na área mas Lena Pauels desviou a bola para canto quando o banco da equipa do Seixal (5′); a mesma Vetter ganhou espaço na profundidade, assistiu Jenna Tivnan mas o tiro da norte-americana bateu no poste (13′); e a mesma Lena Pauels voltou a ser a principal protagonista depois de um canto com desvio de cabeça travado para canto (18′). Contra a corrente do que se passava, acabaram por ser as encarnadas a passarem para a frente, com Andreia Faria a surgir bem pela direita, a aproveitar uma saída mal calculada da guarda-redes contrária e a assistir Marie Alidou para o 1-0 (25′).

Contra a corrente do jogo, o Benfica passava para a frente do resultado e ganhava outro conforto no jogo também com a “ajuda” dos milhares de adeptos que marcavam presença nas bancadas mas, tal como tinha acontecido no encontro do Campeonato da última semana no centro de treinos do Seixal, o Racing Power não quebrou depois da desvantagem e partiu à procura do empate que chegaria ainda antes do intervalo, com a neerlandesa Gerda Konst a aproveitar um canto à direita do ataque para saltar sozinha (41′).

No segundo tempo, depois de 45 minutos mais uma vez equilibrados entre as duas equipas, o Benfica teve uma entrada mais forte, não permitiu a reação do conjunto do Seixal e chegou de forma quase natural ao triunfo, com Carole Costa a voltar a ser determinante com a conversão de uma grande penalidade que fez o 2-1 (60′) e Lúcia Alves, que esteve em dúvida para a decisão após ter perdido a avó materna, teve direito a essa dedicatória especial e emotiva após uma assistência de Kika Nazareth para o 3-1 (69′). Já nos descontos, numa saída rápida conduzida por Lara Martins, Kika Nazareth fechou as contas em 4-1 (90+4′).