O programa Passaporte Lisboa, evento que acontece anualmente na capital para promover a internacionalização de atores portugueses dando-os a conhecer a reconhecidos casting directors, vai ter este ano uma edição de menor dimensão depois de o orçamento ter sido reduzido para menos de metade. O evento está marcado para os dias 9 e 10 de setembro.

“Tive de cortar metade do programa”, revela ao Observador Patrícia Vasconcelos, diretora de casting que criou o programa que na sua edição inaugural, em 2016, colocou Albano Jerónimo na série Vikings (Netflix). Em causa está o facto de, este ano, o programa não contar com o apoio do Fundo de Fomento Cultural, do Ministério da Cultura, e o orçamento do evento ter sido cortado para menos de metade. “O financiamento que estávamos à espera acabou por não acontecer por o Governo ter caído. O facto de não haver uma garantia de continuidade de financiamento, a três anos, por exemplo, fragiliza imenso projetos como este”, critica.

Por esse motivo, o programa, que habitualmente acontece ao longo de quatro ou cinco dias, este ano resume-se a apenas dois. Durante esse tempo, haverá entrevistas e workshops em Lisboa para intérpretes portugueses com diretores de casting de grandes produções internacionais de cinema, televisão e também publicidade. O período de candidaturas para os atores que quiserem participar no 9.º Passaporte Lisboa ainda está a decorrer e termina a 13 de junho.

“Tenho a esperança de que para o ano possamos ter o apoio que precisamos para fazer uma 10.ª edição com dignidade”, diz Vasconcelos, que confirma que tem uma audiência pedida com a nova ministra da Cultura, Dalila Rodrigues. “Recebemos um e-mail a dizer que brevemente seremos contactados. Tenho esperança que esteja lá um dossier a explicar o que é o Passaporte”, diz, revelando frustração pela permanência de “tentar provar uma coisa que já deu mais do que provas que é extremamente útil para a internacionalização dos atores portugueses.”

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O Fundo de Fomento Cultural (FFC) é um recurso que funciona na dependência direta do secretário de Estado da Cultura e que goza de autonomia administrativa e financeira. Em 2024, por exemplo, o Estado vai transferir quase 28 milhões de euros para as fundações Casa da Música, Serralves e Centro Cultural de Belém, por via de transferências do FFC, de acordo com o decreto de lei publicado em Diário da República em dezembro. A maior fatia, no valor de 11,55 milhões de euros, é atribuída à Fundação Centro Cultural de Belém, o que corresponde a mais 900 mil euros que o montante atribuído em 2023 (10,65 milhões).

Este ano, o Programa Passaporte é financiado pelo Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), pela Fundação GDA e pela Câmara Municipal de Lisboa (CML), além de contar com parceria da Academia Portuguesa de Cinema na organização. Para Patrícia Vasconcelos, o “orçamento mínimo” para fazer uma edição ronda os 80 mil euros, mas esta será custeada com apenas 35 mil, graças a 15 mil euros do apoio do ICA, outros 15 da CML e cinco mil euros da GDA. “É uma loucura. Estive mesmo para não fazer esta edição, mas depois de refletir achei que o melhor era mesmo assim fazer uma edição muito mais reduzida do que não a fazer de todo”, assume ao Observador, sublinhando aquela que tem sido uma prerrogativa sua desde a primeira edição: que o programa seja um investimento público. “Não temos falta de privados a querer investir no projeto. Mas continuo com o finca-pé de achar que isto é serviço publico e que quem tem de o financiar é o Estado”, remata.

A possibilidade de fazer uma edição do Passaporte no norte do país também está descartada, uma vez que os contactos deixaram de existir. “Fomos contactados com alguma insistência pela Câmara do Porto, com muita vontade de se fazer o programa lá. Achava essencial fazer-se uma edição no Porto, até porque acredito que muitos atores do norte não se candidatem porque vir para Lisboa e viver cá uns dias tem um custo. Mas nunca mais nos disseram nada”, resume Vasconcelos. “Tenho muita pena que não nos tenham dado qualquer retorno. Nós bem insistimos. É uma pena.”

Dentro do Passaporte, o programa de Patrícia Vasconcelos para exportar atores portugueses

O Passaporte Lisboa tem impulsionado a circulação internacional de atores portugueses com ou sem experiência no estrangeiro. Entre os casos de sucesso contam-se o da atriz Alba Baptista, que protagonizou a série da Netflix Warrior Nun. Outros exemplos são os dos atores Albano Jerónimo e Ivo Alexandre, que participaram na série Vikings (Netflix). José Fidalgo entrou na telenovela Deus Salve o Rei, da brasileira Globo, e Benedita Pereira participou na série Versailles (Netflix).

Também foi à boleia do Passaporte que Lídia Franco chegou ao elenco do filme de ação 6 Underground, do realizador norte-americano Michael Bay, e que Simão Cayatte aterrou na série espanhola En el corredor de la muerte. Foi ainda através do projeto que Nuno Lopes, Paulo Pires e Rafael Morais foram selecionados para o elenco de White Lines (Netflix), que de resto foi cancelada após a primeira temporada.