Duas animadoras portuguesas formadas em Paris participaram numa série de curtas-metragens de animação dedicadas a Portugal, exibidas para milhares de espetadores que esta semana passaram pelo Festival de Cinema de Animação de Annecy, em França.
Os filmes foram feitos por estudantes da escola de artes visuais e comunicação Gobelins (Paris), entre os quais Rita Fonseca e Ana Moniz, numa parceria que aquela instituição estabeleceu há vários anos com o festival de Annecy.
Há uma carrinha cheia de filmes portugueses a caminho do festival de Annecy
Este ano foram feitas dez curtas-metragens que, em trinta segundos, contam histórias que tentam captar elementos da história e da cultura de Portugal, país convidado do festival de Annecy.
Os filmes são exibidos em grande parte das sessões de cinema de Annecy, antecipando a programação oficial e um deles, “Maresia”, é coassinado por Rita Fonseca, de 22 anos, que acabou de se licenciar em animação na Gobelins. Ana Moniz, de 29 anos, que fez um mestrado naquela escola, participou como professora e coordenadora sobre os temas abordados nos filmes.
Em declarações à Lusa, Rita Fonseca contou que o processo de criação das curtas-metragens começou com um dossier de informações sobre Portugal, destinado aos 50 estudantes envolvidos.
“Treze vieram comigo a Portugal, ao Porto, a Braga, a Nazaré, a Sintra. Só tínhamos 30 segundos de filme e o tema tinha de ser compreensível e acessível para pessoas que não soubessem nada sobre o país”, disse Rita Fonseca.
O resultado final apresenta pequenas narrativas visuais que recriam, por exemplo, uma vindima no Douro, recordam a pesca tradicional na Nazaré e os lenços de namorados do Minho, elogiam a doçaria conventual portuguesa ou a folia das festas dos Santos Populares.
A estreia destes filmes serviu ainda de pretexto para Rita Fonseca e Ana Moniz estarem em Annecy, “para conhecer mais estúdios portugueses e mais profissionais na área”, uma vez que a formação de ambas em animação foi feita fora de Portugal.
As duas animadoras consideram que o foco do festival em Portugal “é excelente, porque há muito pouca visibilidade para a animação portuguesa“.
“O cinema de animação depende muito do cinema de autor e da cooperação entre as várias pessoas que fazem as curtas, os nomes repetem-se de projeto em projeto. Depende muito de iniciativa própria, há poucos apoios e há pouca formação”, disse Rita Fonseca.
Ana Moniz corrobora: “A maior parte dos cursos de animação em Portugal são de multimédia. Não são especificamente de animação ou de animação 2D. É uma das razões para termos escolhido estudar fora”.
Rita Fonseca lembrou ainda que, em França, “o estatuto de intermitente para ser artista funciona de maneira muito diferente do que é em Portugal; há apoios a artistas, há apoios do Estado que reconhece que a vida profissional dos artistas vive de projeto em projeto”.
“Em Portugal, não há falta de projetos de artistas e de qualidade. Há é falta de visibilidade, falta de apoio“, lamentou a animadora. Por outro lado, sublinhou a enorme repercussão que a nomeação de “Ice Merchants”, de João Gonzalez, para os Óscares teve no cinema português.
Agora “seria bom para a economia Portugal abrir-se também um bocadinho para a animação comercial”, disse Ana Moniz.
O 48.º Festival de Cinema de Animação de Annecy começou no dia 9 e termina no sábado.