O ex-ministro da Defesa e antigo diretor-geral da Organização Internacional para as Migrações, António Vitorino, disse esta quinta-feira que o Conselho de Segurança da ONU tem sido inoperante face aos conflitos mundiais e defendeu a sua reforma.

O advogado, que foi também deputado e comissário europeu, falava aos jornalistas em Luanda, à margem da apresentação do estudo Banca em Análise, da consultora Deloitte, onde destacou que um mundo em paz e a segurança “não pode prescindir de organizações multilaterais”, reconhecendo, no entanto, que o Conselho de Segurança se tem mostrado “inoperacional” em enfrentar conflitos como os da Ucrânia, Faixa de Gaza ou Sudão.

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“É manifesto que a divisão entre os membros permanentes é um fator de paralisia. A reforma do Conselho de Segurança é uma questão que não pode ignorar que o país mais populoso do mundo, a Índia, nem sequer é membro permanente”, afirmou, salientando que esta seria “uma parte importante da reforma”.

No entanto, está também a haver “sinais de reconhecimento da importância do continente africano nas organizações financeiras internacionais”, acrescentou.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas é composto por cinco membros permanentes (República Popular da China, Estados Unidos, Reino Unido, França e Federação Russa) e dez não-permanentes.

Também o facto da Organização Mundial do Comércio não ser capaz de acionar os seus painéis de arbitragem de conflitos comerciais à escala global “é um enfraquecimento da ordem internacional e do funcionamento da economia internacional”, segundo António Vitorino.

“Não há solução fora das organizações multilaterais que tem de ser reformadas e responder as expectativas de todos os países do mundo a começar pelos países do sul global”, disse o antigo ministro socialista.

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António Vitorino defendeu igualdade de oportunidades e de condições para os países do Sul Global no que diz respeito ao acesso à tecnologias de informação e comunicação e sublinhou que os países africanos “devem ter uma voz própria”, para não ficarem apenas “como objetos de disputa entre áreas de influência”.

“Creio que nos próximos dez anos os países do Sul Global serão cada vez mais capazes de escolher a convergência de interesses e coligações que sirvam os seus próprios objetivos desde que sejam identificados”, realçou, apontando a dívida, a luta contra a pobreza e as alterações climáticas como questões centrais para o desenvolvimento das economias emergentes.

Por outro lado, defendeu também uma ordem económica global mais capaz de responder aos anseios dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, que sofreram um retrocesso na última década.