A Amnistia Internacional reagiu esta terça-feira “com satisfação” à “notícia positiva” da libertação do fundador do portal digital Wikileaks, Julian Assange, de uma prisão de alta segurança no Reino Unido, onde se encontrava encarcerado desde 2019.

“A Amnistia Internacional acolhe com satisfação a notícia positiva de que Julian Assange foi finalmente libertado da custódia do Estado britânico, após cinco anos de prisão, e de que esta provação está a chegar ao fim para ele e para a sua família”, declarou a secretária-geral da organização, Agnès Callamard, num comunicado.

“Acreditamos firmemente que Julian Assange nunca deveria ter sido preso e temos apelado continuamente para que as acusações sejam retiradas”, acrescentou Callamard, referindo-se aos 1.901 dias passados na prisão de alta segurança de Belmarsh enquanto aguardava o desfecho do seu processo de extradição para os Estados Unidos, que queriam julgá-lo por 18 crimes de espionagem e intrusão informática, por ter divulgado documentos secretos que em 2010 e 2011 expuseram violações de direitos humanos cometidas pelo Exército norte-americano no Iraque e no Afeganistão.

Tratou-se de uma das maiores fugas de informação confidencial da história dos Estados Unidos, que revelou segredos das atividades diplomáticas e militares norte-americanas durante as guerras do Iraque e do Afeganistão, bem como dados sobre os detidos na base de Guantánamo, entre outras matérias.

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“O facto de as autoridades norte-americanas estarem há anos empenhadas em violar a liberdade de imprensa e a liberdade de expressão, fazendo de Assange um exemplo por ter denunciado alegados crimes de guerra cometidos pelos Estados Unidos, causou, sem dúvida, danos históricos”, sublinhou a responsável da organização não-governamental de defesa dos direitos humanos.

Washington queria julgar Assange por divulgar mais de 700 mil documentos confidenciais e era acusado ao abrigo da Lei de Espionagem de 1917, incorrendo numa pena de até 175 anos de prisão, mas a 20 de maio, o Tribunal Superior de Londres autorizou-o a recorrer da ordem de extradição do Reino Unido para os Estados Unidos.

Esta terça-feira, o portal Wikileaks anunciou que Julian Assange, de 52 anos, foi libertado na segunda-feira de manhã e transportado para o aeroporto de Stansted, onde embarcou num avião, na sequência de um acordo com a Justiça norte-americana, nos termos do qual aceitou declarar-se culpado de um dos crimes: conspiração para obter e divulgar ilegalmente informações confidenciais relacionadas com a Defesa e a Segurança Nacional dos Estados Unidos.

Assange vai comparecer na quarta-feira num tribunal das Ilhas Marianas, território norte-americano no Pacífico, para finalizar um acordo de confissão de culpa alcançado com o Departamento de Justiça norte-americano, e será condenado a 62 meses de prisão, uma pena já cumprida em prisão preventiva em Londres, decisão que lhe permitirá regressar ao país natal, a Austrália.

“A Amnistia Internacional saúda o trabalho da família de Julian Assange, dos ativistas, dos advogados, das organizações de defesa da liberdade de imprensa e de muitos outros membros da comunidade mediática, e não só, que o apoiaram e defenderam os princípios fundamentais que devem reger o direito e o acesso da sociedade à informação e à justiça. Continuaremos a lutar pelo seu pleno reconhecimento e respeito por todos”, concluiu a secretária-geral da Amnistia Internacional.