AC Milan, Sampdória e Juventus colocaram o país em oito finais da Taça dos Campeões Europeus. Juventus, Inter e Parma conquistaram por sete vezes a Taça UEFA (e em 1989 tinha ganho o Nápoles de Maradona). Sampdória, Parma e Lazio ganharam também a Taça dos Vencedores das Taças. Os anos 90 colocaram o futebol italiano no topo da Europa a nível de clubes. Além dos muitos jogadores italianos de qualidade, que davam aos selecionadores transalpinos um leque de opções que hoje Luciano Spalletti está longe de ter, os três estrangeiros eram reforços a sério – basta recordar que o AC Milan chegou a ter Gullit, Rijkaard e Marco van Basten contra um Inter que tinha Brehme, Matthaus e Klinsmann. O que fazia também a diferença? A parte tática. E foi assim que se foi construindo a ideia de um calcio que era a génese do “pensar futebol”.

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O futebol mudou mas, três décadas depois, essa ideia de um futebol onde os jogos se ganham (ou perdem) mais na parte tática mantém-se. A Serie A perdeu espaço, sobretudo para a Premier League e depois para a La Liga na era Ronaldo e Messi, mas conseguiu reinventar-se quando a Bundesliga também ia crescendo. Como? Pelos “projetos de autor”. Inter, AC Milan e Juventus (que entretanto caiu por razões não ligadas à parte desportiva) deram o salto, Roma, Fiorentina e Atalanta foram a finais europeias que não a Champions, o próprio Nápoles cumpriu um sonho antigo de El Pibe Maradona e foi campeão, mas a competitividade foi aumentando com o Sassuolo de Roberto De Zerbi, com a Atalanta de Gian Piero Gasperini e agora o Bolonha de Thiago Motta. A chegada à Liga dos Campeões foi o principal prémio, o Euro-2024 traz o “outro”.

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O primeiro jogo dos oitavos da competição, entre Itália e Suíça, é exemplo paradigmático disso mesmo. Os transalpinos não poderão contar com Calafiori por castigo mas o central, que fez a assistência para o golo do “milagre” de Zaccagni diante da Croácia, foi uma das revelações a jogar ao lado de Bastoni em estruturas de quatro defesas ou linhas de três. Do outro lado, os helvéticos têm três jogadores imprescindíveis para Murat Yakin que funcionam como base da equipa do meio-campo para a frente (mais atrás domina Akanji, ao meio também há Xhaka): Freuler, o médio centro que joga ao lado do jogador do Bayer Leverkusen e que tem uma assistência, Aebischer, que leva um golo e uma assistência na estreia com a Hungria, e Ndoye, avançado que marcou o único golo da equipa frente à Alemanha. Todos jogaram em 2023/24 pelo Bolonha.

O peso da sensação transalpina alarga-se a mais equipas, quase todas presentes nos oitavos da competição. A sensação Áustria tem o lateral direito Posch que cumpriu todos os minutos da fase de grupos, a Dinamarca continua com o lateral esquerdo Kristiansen que vai rodando na titularidade com Bah e Maehle para fazer todo o corredor (jogou os dois primeiros encontros com Eslovénia e Inglaterra, entrou agora contra a Sérvia), os Países Baixos contam com o avançado Zikzee que ainda não somou qualquer minuto. Os polacos Lukasz Skorupski (guarda-redes que foi chamado ao último encontro com a França e terminou com o prémio de MVP) e Kacper Urbanski, avançado que esteve em todas as partidas, já foram eliminados da prova.

Contas feitas, o Bolonha contou com nove jogadores neste Euro-2024, havendo apenas dez equipas com mais representantes (quase todas de maior dimensão ou que contam com o núcleo duro de uma seleção): Inter, Manchester City (13), PSG, Real Madrid (12), RB Leipzig, Barcelona (11), Arsenal, Bayern, Bayer Leverkusen e Slavia de Praga (dez). E muito desse sucesso entronca naquilo que Thiago Motta conseguiu construir ao longo de duas épocas, numa equipa que sem bola tinha um bloco de 20/25 metros em 4x1x4x1 que encaixava depois na forma de atacar do adversário para ser a terceira melhor defesa da Serie A e que em posse, muito centrada naquilo que Zirkzee conseguia fazer na frente, terminou como o sexto melhor ataque.

Aos 41 anos, o treinador nascido no Brasil que jogou apenas pelos Sub-23 da canarinha e mais tarde passou a representar o conjunto principal da Itália por ter dupla nacionalidade está prestes a dar o salto na carreira de técnico. Após passar por clubes como Barcelona, Atl. Madrid, Genoa, Inter e PSG com a conquista de vários títulos entre os quais duas Ligas dos Campeões pelo Barça e pelos nerazzurri com José Mourinho, o antigo médio teve um início nos bancos nada promissor no Genoa (dois meses e dez jogos com apenas dois triunfos) mas conseguiu dar a volta no Spezia e sobretudo no Bolonha, com a histórica qualificação para a fase de grupos da Liga dos Campeões que não acontecia há quase seis décadas após um quinto lugar. Na próxima temporada, o desafio passa por levantar a Juventus e colocar a Vecchia Signora a lutar pelo título.

“É um dos meus”, disse Mourinho sobre Thiago Motta. E mesmo com todo o “carinho”, a Roma teve cabeça para vencer o Spezia