Os líderes dos três maiores partidos de França reagiram às primeiras projeções da primeira volta das eleições legislativas, que deram 34% à União Nacional de Marine Le Pen, 28,1% à Nova Frente Popular e 20,30% ao Renascença, partido de Emanuelle Macron. Se, do lado da extrema direita “a democracia falou”, na esquerda a Nova Frente Popular vai retirar candidaturas onde ficar em terceiro, para concentrar votos contra a UN. A esse apelo juntou-se também Macron, que apelou a concentração “democrática e republicana” contra partido de Le Pen.

Marine Le Pen foi a primeira a reagir às projeções da noite deste domingo, começando por dizer que “a democracia falou”, os “franceses demonstraram o seu desejo de virar uma página de sete anos com poder desdenhoso e corrosivo” e apelou a uma “maioria absoluta” na segunda volta.

Num discurso curto, agradeceu a “marca de confiança”, defendeu que o “bloco macronista” está “praticamente apagado” e convidou os franceses a “renovar” o voto no próximo dia 7 de julho caso tenham votado na União Nacional e apelou a quem fez outras opções: “Se fez outra escolha, convido-o a juntar-se à coligação da segurança, liberdade e unidade.”

“Nada está ganho e a segunda volta será decisiva para evitar que o país caia nas mãos da coligação de esquerda, uma extrema-esquerda com tendência violenta”, referiu. E disse mais: “Quero dizer que nenhum francês perderá quaisquer direitos. Pelo contrário, os direitos serão garantidos e novos serão criados para benefício de todos.”

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Do mesmo lado, Jordan Bardella, cabeça de lista da União Nacional, destacou a afluência às urnas, afirmando que os franceses “confirmaram a aspiração clara à mudança” e mostraram “uma escolha sem precedentes em todo o país”. “Apelo a que se mantenham mobilizados num último esforço no próximo domingo porque o voto será um dos mais determinantes da história”, afirma.

O cabeça de lista considera que “o campo presidencial foi mais uma vez desautorizado” e que “a escolha foi clara”, tendo ficado em aberto “dois caminhos”. Fez ainda críticas à “aliança de uma Frente Popular junto de Jean-Luc Mélenchon que levará o país para a desordem e ruína da economia”, que acusou de ser a “extrema-esquerda perigosa” e que “propõe abrir as portas à imigração” e “sem limites morais”.

Macron e Mélechon unidos na estratégia contra a UN

Logo a seguir aos resultados das projeções, o Presidente francês emitiu um comunicado, citado pelo Le Monde, no qual considera que a elevada taxa de participação revela a vontade dos franceses de “clarificar a situação política”. “A sua escolha democrática obriga-nos”, afirmou.

“Perante a União Nacional chegou o momento de uma grande concentração, claramente democrata e republicana, para a segunda volta“, apelou.

Depois, em comunicado, o partido que apoia Macron, o Renascença, anunciou que irá retirar os candidatos nos círculos em que ficar em terceiro lugar numa tentativa de travar a extrema direita. “Face à ameaça de uma vitória da extrema direita, apelamos a todos os grupos políticos para que agirem com responsabilidade e fazerem o mesmo”, pode ler-se na nota do partido, citada no Le Monde.

Desta forma, os candidatos que representaram o movimento do atual Presidente francês e não conseguiram ficar em segundo irão retirar-se a favor dos candidatos da Nova Frente Popular que têm a possibilidade de vencer a União Nacional e com quem, segundo a nota, partilham “o essencial: os valores da República”.

A ideia já tinha sido lançada antes por Jean-Luc Mélenchon, líder do movimento França Insubmissa (que faz parte da coligação da Nova Frente Popular): concentrar votos contra a União Nacional nos círculos onde, na nova ida às urnas, houver uma disputa a três candidatos. Como? Retirando as candidaturas que ocuparem o terceiro lugar, “onde quer que seja, em todas as circunstâncias”.

“As nossas instruções são claras, as nossas instruções são simples. Nem um voto, nem mais um lugar para a UN”, continuou. “Cada um deve tomar uma posição e envolver e convencer os que o rodeiam”, defendeu. “É a França que está em jogo. A França está em jogo. A República está em jogo. A ideia que temos de viver juntos está em causa”.

Na sequência do seu discurso, também o Place Publique veio, em comunicado, apoiar a decisão da Nova Frente Nacional, apelando à “retirada republicana e ao voto democrata em todos os lugares para bloquear o caminho da UN”.

O alinhamento na barreira à extrema direita não impediu, ainda assim, as críticas: no mesmo discurso, Mélenchon sublinhou que os resultados da primeira volta “infligiram uma derrota pesada e indiscutível” ao Presidente francês. “O presidente Macron pensou que estava mais uma vez trancando o sufrágio universal na escolha sufocante que ninguém mais quer: ele ou o UN”, disse Jean-Luc Mélenchon.

“Uma votação massiva frustrou a armadilha preparada para o país. Esta votação infligiu uma derrota pesada e indiscutível ao presidente”, continuou.

O silêncio mais longo foi o de Gabriel Attal, primeiro-ministro de França e derrotado na primeira volta das eleições legislativas. Só reagiu vários minutos depois dos adversários e para dizer que tem a “convicção sincera” de que o “combate [do partido] é indispensável”. “A extrema direita está às portas do poder e a Assembleia Nacional corre o risco de ser dominada pela extrema direita”, diz, frisando que o “objetivo é claro: impedir a União Nacional de ter uma maioria absoluta e governar o país”.

“A todos os nossos eleitores, não deve ir um único voto para a União Nacional”, apelou o candidato do partido de Macron, sublinhando que é preciso “unir todos os esforços” para travar a extrema direita.

Num dos últimos discursos da noite, o primeiro-ministro, que ao que tudo indica não conseguirá ser reeleito numa segunda volta, referiu que é preciso continuar a defender a República e os seus valores. “Nesta semana iremos continuar a lutar com todas as nossas forças”, concluiu, pedindo votos nos candidatos que “defendem a República”.

Chega, PAN e PS reagem à primeira volta das eleições

Na rede social X, o líder do Chega deixou uma mensagem de vídeo de parabéns à União Nacional e a Marine Le Pen pela vitória nas primeiras projeções. “França a dar o exemplo da mudança que tem de ser feita. Depois de tantos anos a caminhar em conjunto é um orgulho e uma alegria ver esta mudança. Parabéns companheiros”, disse André Ventura.

“Espero que a esta mudança em França se siga a mudança que é preciso ser feita pelo resto da Europa, a começar aqui em Portugal”, acrescentou.

“Parabéns aos franceses, pela grande vitória que deram, hoje, ao Rassemblement National! A Europa está a acordar! Em breve, será Portugal!”, pode ler-se na nota que acompanha o vídeo.

Também no X, Inês Sousa Real, coordenadora do PAN, comentou os resultados das eleições francesas, dizendo que “a resposta para os problemas sentidos pelas pessoas não tem resposta na extrema-direita” e Ana Catarina Mendes, eurodeputada eleita pelo PS, alertou para a vitória da União Nacional lembrando que o partido de Marine Le Pene “defende que devem ser ostracizados no acesso à função pública, por exemplo ao trabalho público, todos aqueles que têm dupla nacionalidade”. “É uma violação grave dos direitos mais básicos das pessoas e dos seus direitos fundamentais”, escreveu.

“Marine Le Pen e o Rassemblement National apresenta um plano económico para o país para resolver as soluções criticado pela esmagadora maioria dos economistas que diz que aquilo não tem ponta por onde se lhe pegue, mas continuam a achar que a solução são as soluções mais fáceis.”

Personalidades de extrema-direita na Europa felicitam a União Nacional

Ainda no X, o vice-primeiro-ministro italiano, Matteo Salvini, deu os parabéns a Marine Le Pen e Jordan Bardella pelo “resultado extraordinário” na primeira volta. “Vergonhoso Macron que, ao apelar a ‘blocos’ contra a União Nacional na segunda volta, se comporta como qualquer outra Von der Leyen e tenta de todas as formas opor-se a uma mudança expressa por milhões de franceses, em Paris e em Bruxelas”, escreveu.

Santiago Abascal, líder do partido espanhol de extrema direita Vox, deixou também uma mensagem à União Nacional, afirmando que a vitória “na primeira volta das eleições legislativas é a vitória da esperança, da liberdade e da segurança para os franceses”.